Portugal está a caminho de Paris. Fernando Santos teve a desfaçatez de afirmar que era para chegar à final e que só voltaria para casa no dia 11. Mesmo quando estava no olho do furação, acusado de ser patinho feio e responsável pela pior equipa da competição. Está mais do que na hora de tirar o chapéu ao Sr. Engenheiro. Com convicção e uma serenidade absolutamente desarmante ele cumpriu a promessa, feita primeiro ao grupo e depois a todos nós. Um líder é sobretudo isso. Conseguir convencer vinte e três homens de que se fizessem as coisas à sua maneira os levava ao destino.

Paris, vamos a caminho!

Mérito ao homem do leme, que soube convencer os vinte e três a segui-lo.

Mérito ao homem do leme, que soube convencer os vinte e três a segui-lo.

Está mais do que na hora de fazer vénia ao Sr. Engenheiro. Ontem à noite Portugal bateu o País de Gales, com uma exibição irrepreensível. Foi sempre a melhor equipa em campo e todos os que foram chamados a contribuir cumpriram. Cristiano Ronaldo abriu o dique com aquela portentosa suspensão – nada que nunca o tivéssemos visto fazer antes – e parece que uma nação inteira expirou de alívio. Nem sequer foi uma partida de sofrimento, como todas as anteriores. Estávamos na frente e no controlo desde o início.

Dedo de engenheiro

Não sei se repararam mas ao longo deste Europeu nunca se viu um jogador da seleção portuguesa virado ao árbitro, a reclamar ou a ultrapassar aquela linha da má-educação. Também ninguém amua. O selecionador tem feito modificações no onze em todos os encontros. Quem entra mostra serviço. Quem sai do banco tem sido decisivo a mexer com o jogo. Quem não entra continua focado. Ontem Bruno Alves, que está sem jogar há um mês, alinhou no lugar do lesionado Pepe, foi um modelo de segurança e estabilidade. Isto não é por acaso e é tão ao arrepio do que nos habituamos a ver.

Há aqui dedo do Engenheiro. Não é por acaso que foi o único que passou pelos três grandes e mantém excelentes relações com clubes e adeptos. Mesmo sobre fogo cerrado – Portugal não consegue vencer os jogos, joga feio, não merece estar no Euro, aborrece de morte – nunca perdeu a paciência. Por muito menos já vimos gente perder as estribeiras e abandonar conferências de imprensa. Fernando Santos respondeu a tudo, com o sentido de humor possível.

Teve a desfaçatez de afirmar que só voltava a casa no dia 11 e teria uma festa à espera.

Teve a desfaçatez de afirmar que só voltava a casa no dia 11 e teria uma festa à espera.

O português tranquilo

Soubemos também ontem de um suposto compromisso, firmado entre a equipa técnica e os jogadores há dois anos, em Saints-Denis. Fernando Santos conseguiu convencer vinte e três homens de que tinha uma maneira de os levar à final do Euro 2016. Com convicção e uma serenidade desarmante, o selecionador nacional passou os últimos vinte e quatro meses a reafirmar essa meta. Teve a desfaçatez de afirmar que só voltava a casa no dia 11 de junho e teria uma festa à sua espera. Que não se importava de ser o patinho feio desde que continuasse em prova. A apostar em jovens talentos – Raphael Guerreiro, Renato Sanches – e a defender outros de um linchamento público – Ronaldo, Moutinho e mesmo Bruno Alves. Um líder é sobretudo isso. Alguém que consegue convencer os que o rodeiam a segui-lo, porque acreditam nas respostas que dá. Só por isso, Sr. Engenheiro, a minha vénia. Porque parece só bom senso mas é das coisas mais difíceis de conseguir. E por fechar uma noite de euforia a lembrar o trabalho que está pela frente. As finais são para ganhar. Paris, vamos a caminho!

Boas Apostas!