Com o domínio que Federer, Nadal, Djokovic e Murray têm tido nos últimos anos, os grandes torneios não são pródigos em surpresas. Eis senão quando um cataclismo abala a estância de Monte Carlo e tudo o que se esperava desta temporada de terra batida fica, subitamente, em causa. Há três ideias essenciais a retirar do balanço ao Masters do Mónaco. Nadal não é imbatível. Djokovic para, pelo menos, duas semanas com um problema no pulso. E, de repente, Wawrinka é forte candidato a vencer o Grand Slam de Paris. Sim, eu sei, é muito para processar.
Rafa não é uma máquina
Considerando os pergaminhos e o quadro competitivo ninguém duvidava que Rafa Nadal estivesse no court do Country Club para tentar o seu nono título monegasco. O maiorquino esteve ao seu nível nas duas primeiras rondas, despachando Gabashvili (6-4, 6-1) e Seppi (6-1, 6-3) com rapidez e em força. E depois encontra Ferrer, a quem tem sido claramente superior há uns bons anos, e perde em dois sets, sem apelo nem agravo. Ferrer é, sem dúvida, o tenista do circuito que melhor o conhece, e ao seu jogo. Num dia normal, isso seria irrelevante porque o inverso também é verdadeiro e Nadal é dominante. Mas Rafa teve um dia mau. Por estranho que possa parecer, frente ao amigo David, Nadal não jogou bem. Cometeu quarenta e quatro erros não forçados, coisa incaracterística nele. Ferrer massacrou, com sucesso, a direita de Nadal. Foi a primeira vez em dez anos que Ferrer venceu um este duelo, em terra batida. Na sua análise ao encontro, Rafa assumiu que lhe faltou intensidade, sobretudo no arranque do segundo set, tendo já perdido o primeiro. Oportunidade que Ferrer não desperdiçou.
Pulso fraco
Com o n.º 1 mundial eliminado nos quartos-de-final, Djokovic tinha a oportunidade de se aproximar do topo do ranking, ganhando o torneio e reduzindo a vantagem pontual. Federer esperava-o nas meias-finais e Novak deu-lhe luta no primeiro set, forçando o suíço a aplicar-se no tie-breaker. Mas as ligaduras no braço direito de Nole, do pulso quase até ao cotovelo, não estavam lá por acaso. Ninguém diria, vendo o sérvio bater a armada espanhola – Montanés (6-1, 6-0), Carreno-Busta (6-0, 6-1) e Guillermo Garcia-Lopez (4-6, 6-3, 6-1) –, mas aparentemente Djokovic magoou o pulso durante a semana de treinos entre Miami e Monte Carlo e andou a competir com dores. Arriscar a semifinal nestas condições talvez não tenha sido a decisão mais sensata. Agora Novak vê-se forçado a parar e pode ter a temporada em argila em risco. No seu site oficial anunciou que espera poder participar no Masters de Madrid, de 4 a 11 de Maio, aproveitando assim as duas semanas de intervalo para recuperar o pulso dorido. A boa notícia é que os últimos exames médicos descartam a necessidade de cirurgia e a lesão parece menos grave do que inicialmente se supôs. O que não deixa de ser um percalço complicado. Mesmo que possa regressar em Madrid, dificilmente o sérvio estará na sua máxima capacidade.
Os suíços chagam-se à frente
Com as duas grandes baixas, o torneio ficou de feição aos suíços. Federer, que está num bom momento de forma, teve uma boa semana no Mónaco. Desembaraçou-se de Radek Stepanek e Lukas Rosol sem dificuldade e só teve que se aplicar um pouco mesmo para ultrapassar Tsonga, o único que o obrigou a jogar um terceiro set. Na final, frente ao compatriota, Roger entrou mais assertivo, com Wawrinka numa posição mais cautelosa. Afinal, até aquele momento Stanislas só tinha conseguido vencer Federer uma única vez, precisamente em Monte Carlo, em 2009. Apesar de já ser o tenista suíço mais cotado esta talvez tenha sido a partida de emancipação. Depois de um início tímido, momento de viragem aconteceu no tiebreak do segundo set, que Stanislas jogou na perfeição. Empurrado por essa vitória, entrou no terceiro set ao rubro e rapidamente Roger se viu com uma desvantagem de 0-4. Mas Wawrinka nem assim baixou a intensidade e manteve o adversário sobre grande pressão. No fim, como reconheceu Federer, o compatriota mereceu um bocadinho mais.
Há um ano, Wawrinka ocupava a posição dezassete do ranking, com três títulos no currículo, todos em eventos ATP World Tour 250. Hoje está no top 3, logo atrás de Nadal e Djokovic, com um Grand Slam e um Masters 1000. Neste momento lidera a temporada, em títulos e pontos, com um registo de 20/4.
O que Paris nos reserva
É preciso, então, absorver estes acontecimentos e voltar a perspetivar a temporada de terra batida. Nadal será sempre favorito, um homem que tem dominado tão inteiramente nesta superfície não perde o estatuto com um ou outro resultado menos bom. Até porque a decisão em cinco sets beneficia jogadores como Rafa e Nole. Mas a grande surpresa é a intromissão de um outsider entre os suspeitos do costume. Depois do Open da Austrália, Wawrinka já sabe o que é ganhar um Grand Slam e desde o início da época sabe que é capaz de bater os quatro jogadores que dominam o circuito mundial de ténis. A vitória em Monte Carlo coloca-o na linha da frente dos candidatos a ganhar o Open de Paris. E ao que parece nunca houve melhor momento para alguém de fora tentar a sua sorte. Com Nadal longe do seu melhor, Djokovic diminuído fisicamente, Murray ausente em busca do treinador ideal e Federer prestes a ser pai, a oportunidade nunca foi tão concreta.
Boas Apostas!