É suposto o Super Bowl ser o jogo da época mas nem sempre é assim. Desta vez os elementos estão todos lá. Do lado dos Patriots há o legado de Belichick, a bofetada de luva branca de Brady a Goodell. Do lado dos Falcons é temporada de consagração de Matt Ryan e Kyle Shanahan, aconteça o que acontecer. Mas essas são as narrativas, as motivações, a envolvência. Em campo teremos uma versão muito física de uma partida de xadrez.

O sétimo Super Bowl de Brady e Belichick

Será o sétimo Super Bowl para Brady, o primeiro para Ryan.

Será o sétimo Super Bowl para Brady, o primeiro para Ryan.

Pela sétima vez na era Belichick/ Brady, os New England Patriots vão ao Super Bowl. Como grande dinastia, uma das maiores e incontestavelmente a mais bem-sucedida, da NFL eles são o alvo a abater. O que tem feito a grandeza dos Patriots nestes dezoito anos de Bill Belichick à frente da equipa é a capacidade de se renovar – nas ideias, nas jogadas mas também no plantel – constantemente. Nunca se deixar acomodar, nunca deixar de surpreender. O outro grande mérito da mão férrea de Belichick é a capacidade de colocar os egos em segundo plano. O que ele oferece – a possibilidade mais concreta de ser campeão, época após época – convence muitos jogadores a serem mais uma roda da engrenagem, porque esta engrenagem é vencedora. Tom Brady é o exemplo maior desta mentalidade. Em Foxborough, aquele que muitos consideram o melhor quarterback da história da NFL, aceita um salário abaixo do que se pratica no mercado para fazer parte de uma equipa que é forte de uma ponta à outra.

Se os Patriots vencerem o Super Bowl 51 Brady conquista o quinto título de campeão, tornando-se o primeiro QB a poder encher uma mão com os anéis. Significa ultrapassar Joe Montana e Terry Bradshaw e isso é uma tremenda. Desde que integrou o plantel de New England a equipa só ficou fora dos play-offs duas vezes, uma delas no ano em que falhou a temporada por ter desfeito o joelho. Se saírem vencedores, Belichick supera Chuck Noll e iguala Vince Lombardi no número de triunfos em Super Bowl. E nada indica que a série de sucesso esteja para acabar, razão pela qual já algumas pessoas brincam com a possibilidade de mudar o nome ao troféu Lombardi. Mas a missão é mais imediata. Depois da controvérsia do “Deflategate”, dos quatro jogos de suspensão a abrir a temporada, o quarterback de trinta e nove anos jogou ao melhor nível que lhe vimos na já longa carreira, mostrando que a pressão das bolas não altera o seu desempenho. Receber o troféu das mãos de Roger Goodell, seria a cereja no topo do bolo para Brady, mesmo que ele recuse essa motivação.

Os mestres do xadrez

Será que Shanahan consegue surpreender Belichick?

O que estará Kyle Shanahan a preparar para surpreender Bill Belichick?

Este Super Bowl será o embate entre duas equipas que têm no ataque a sua componente preferencial mas que são, ainda assim, bastante competentes no outro lado do jogo. Terá, frente a frente, dois grandes quarterbacks que não têm problemas em assumir o jogo e lançar a noite toda, se tal for necessário. Mas confesso que para mim o maior atrativo está nas mentes que comandam a ação em campo. Belichick e os seus tenentes Josh McDaniels e Matt Patricia, de um lado do tabuleiro; Dan Quinn e Kyle Shanahan do outro. A equipa técnica do Patriots dispensa apresentações. Para a dos Atlanta Falcons esta tem sido a temporada de consagração. Quinn, antes o coordenador defensivo dos Seahawks, tem em Pete Carroll o seu mentor. Em parceria com Thomas Dimitrov, está a tentar simular uma organização semelhante em Atlanta. E com excelentes resultados em tão pouco tempo. Shanahan, ao que tudo indica, vai assumir o cargo de treinador principal dos 49ers na próxima temporada. Não seria espantoso se pudesse fazê-lo depois de vencer o Super Bowl? O nome que carrega é um problema. Demorou muito, apesar do brilhantismo que todos os que trabalharam com ele ao longo dos anos lhe reconhecem, a descolar do facto de ser filho de Mike Shanahan. Precisou de estar à frente da melhor ofensiva de sempre da NFL, com esquemas sofisticadíssimos que impressionam até os adversários mais tarimbados. Matt Ryan diz que Shanahan o lembrou de que é um atleta de eleição e que não se deve abster de utilizar isso a seu favor. Julio Jones é uma espécie de bailarino desenfreado nas jogadas de Shanahan. Sempre em movimento, ameaça constante mesmo quando não é solicitado. Os Falcons podem vencer um jogo duma data de maneiras distintas. No passe, em corrida, misturando as duas coisas e fazendo dos running backs receivers intermédios.

Vou adorar ver o que os treinadores dos dois lados vão fazer para tentar tirar o tapete ao opositor. Super Bowl 51, um para mais tarde recordar.

Boas Apostas!