Ainda não foi desta. O sonho de chegar à final chegou ao fim na quarta-feira à noite, em Moscovo. Mas a relação entre a seleção inglesa e os seus adeptos está restaurada. Esta Inglaterra de Gareth Southgate, jovem e sem grandes estrelas, foi mais longe do que se podia antecipar. Caiu no prolongamento e isso custa muito. Mas deixa o país orgulhoso e com esperanças para o futuro.

Football is not coming home, yet

Southgate tenta recomfortar os jogadores mais destroçados.

Southgate tenta recomfortar os jogadores mais destroçados.

A formação inglesa adiantou-se primeiro no marcador, mais uma vez as bolas paradas. Kieran Trippier, um dos elementos mais destacados nesta campanha, marcou o livre de forma irrepreensível, o pontapé colocado fora do alcance de Subasic, que não vê a bola partir. Ainda na primeira parte os ingleses desperdiçaram duas ou três oportunidades para reforçar a vantagem, esses serão os momentos que adeptos e jogadores vão remoer mais tarde. Na segunda parte a Croácia consegue chegar à igualdade, com um golo de Ivan Perisic. Esse golo foi a injeção de energia que os croatas estavam a precisar para renascer na eliminatória. E foi um tremendo abalo para a Inglaterra.

Os jovens Leões entraram melhor no prolongamento, com as mudanças operadas, mas Mario Mandzukic não precisa de muito para ser letal. A seleção croata segue para a primeira final de um Campeonato do Mundo. O sonho da Inglaterra desfez-se no Estádio Luzhniki.

Ainda que desolados com a derrota, os adeptos ingleses estão rendidos a este grupo, que os encheu de orgulho na Rússia. E isso ficou evidente mesmo ontem, no estádio, quando Gareth Southagate se dirigiu às bancadas onde ainda restavam alguns apoiantes ingleses. O selecionador foi saudado com cânticos de louvor. Não há como os adeptos ingleses para valorizar o esforço e dedicação.

Orgulho sem preconceitos

Mundial_2018_Inglaterra_despedidaAté José Mourinho se juntou à festa. O treinador português elogiou a prestação da seleção inglesa. Apesar de perceber a tristeza dos adeptos, tendo estado tão perto da ida à final, também disse que se deviam sentir orgulhosos. Falou da grande evolução que a equipa demonstrou e lembrou que esta geração só pode melhorar, com a experiência e competição nos respetivos clubes. Também acrescentou que se fosse ele a mandar na Federação Inglesa, Southgate e Holland seriam mantidos nos cargos.

Gary Neville também se pronunciou dizendo que a seleção contagiou o país inteiro e o transportou para a Rússia, neste mês de competição. Disse mesmo que nunca pensou ver as fãs zones a abarrotar de adeptos a torcer pelos Tres Leões este verão, pelo que o sucesso da campanha não se mede apenas nos méritos desportivos no Mundial. E em jeito de remate também lembrou que a Inglaterra ainda pode igualar o segundo melhor resultado na competição, no jogo de sábado.

Gareth Southgate também realçou o orgulho que tinha do trabalho e da imagem que o grupo deixou no Campeonato do Mundo. A tristeza e a deceção são inevitáveis, mas a médio prazo, é um verão inesquecível que vai ficar ma memória. Os jogadores fizeram uma caminhada tremenda, evoluindo inclusive dentro da competição. Agora dói muito mas há esperança para o futuro. Só três dos jogadores titulares nesta meia-final – Ashley Young, Jordan Henderson e Kyle Walker – eram nascidos quando a Inglaterra falhou a final no Itália 90. Grande parte desta equipa tem condições para estar presente noutros Mundiais.

O que não se pode desvalorizar é a reconciliação operada entre a Seleção Inglesa e o seu público doméstico, cansado de se entusiasmar e sair dececionado. Esta jovem Inglaterra conquistou os adeptos com trabalho e coragem.