Podiam chamar-se “os três que mais vezes ganharam o campeonato” ou “os três que, apesar da competitividade, são mais fortes”, mas chamam-se “os três grandes” por alguma razão. A razão é o poder. À volta de FC Porto, Sporting e Benfica sempre se organizou, desde que existem campeonatos nacionais de futebol em Portugal, o domínio desta prova. Ora com um ou dois mais fortes do que os outros, ora com períodos de intenso domínio de um só deles, apesar de azuis e brancos e verde e brancos terem tido, na sua história, períodos de seca em termos históricos. Não deixaram, no entanto, de ser os três grandes.
Também não se pode dizer que o campeonato português tenha alguma vez sido conhecido pela sua enorme competitividade. Por um lado, por causa dos três grandes, que não são grandes, apenas, por serem os maiores das suas cidades, mas por pertencerem às duas maiores cidades do país, elementos centralizadores a nível financeiro e político, logo, capazes de influenciar largamente o resto da população nacional. Por outro lado, porque muitas vezes no nosso campeonato pudemos encontrar equipas sem nível suficiente para lá estar, ora por incapacidade estrutural, por ocasional problema na formação no plantel ou, ainda, por declarada má escolha ao nível da liderança técnica.
Conjugados estes factos, puxar pela carta da competitividade no dia em que és goleado sem dar mostras, sequer, de uma intenção de disputares o jogo, algo constante e repetido na atitude de Manuel Machado frente aos grandes, soa-me a cortina de fumo sobre a incapacidade do Moreirense disputar, pelo menos nesta fase da época, pontos. E isto porque, ao longo de toda a história do campeonato, essa mesma competitividade ter aparecido, por vezes em moradas improváveis, devido à qualidade de jogadores ou treinadores envolvidos.
A superioridade do FC Porto tomou o corpo de Aboubakar, para um hat trick que o transforma em novo salvador equipado de azul e branco. Em Guimarães, um Bruno Fernandes tomado pelo desejo de demonstrar a sua capacidade e um regresso de Bas Dost ao convívio com os golos fez milagres por um Sporting a precisar de uma vitória. Na Luz, o golo de Jonas no minuto inicial deu azo a um domínio intenso na primeira meia-hora, que basicamente acabou com o jogo.
A competitividade em Portugal, nos jogos frente aos grandes, faz-se de evitar sofrer o primeiro golo. Quanto mais tempo uma equipa consegue evitar que a bola lhe entre pela baliza dentro, maiores são as probabilidades de ver decair a qualidade de jogo do seu “grande” adversário. Porque a ansiedade é uma característica bem presente no jogo português, tanto no relvado como nas bancadas. E a ansiedade, a meu ver, não se planta com maiores orçamentos. Planta-se, sim, com a capacidade de preparar um conjunto para alcançar os objectivos que pré-determina.
Alguns treinadores fazem dos jogos contra os grandes o seu momento cénico da época. Abdicam de ideias e de trabalho feito ao longo da época para serem “competitivos” a evitar sofrer golos. Algumas vezes, pagam essa “competitividade” com imensas dificuldades nos jogos do seu campeonato, mas vale-lhes algum estatuto no momento de serem escolhidos para equipas que, não sendo grandes, por mais perto lá andam. Outros treinadores preferem fazer o seu jogo, muitas vezes acabando também goleados, mas esquecendo depressa a derrota para ir somar pontos nos jogos subsequentes. Finalmente, aqueles que se encontram já sem grandes esperanças de voltar a entrar na elite, queixam-se da competitividade.
E é verdade, por aquilo que apresentam nas suas equipas, já não há competição que lhes valha.
Boas Apostas!