A expectativa em relação à prestação da nação anfitriã de um campeonato do mundo é sempre elevada, mesmo quando se trata de uma equipa manifestamente mais fraca que as principais favoritas – a Coreia do Sul, em 2002, é muito provavelmente exemplo mais “recente” disso mesmo com um honroso quarto lugar. À entrada para este Mundial 2018, tudo parecia diferente. A crença do povo anfitrião na seleção da casa não era grande, situação ainda mais insólita tendo em conta o nacionalismo do povo russo. Poucos dias antes da estreia, nem Vladimir Putin expressava grande confiança em relação à prestação soviética, mas a equipa treinada por Stanislav Cherchesov conseguiu estar entre as oito finalistas a prova.
A confiança adquirida pela seleção russa nos dois primeiros jogos, com vitórias frente às seleções de Arábia Saudita (5-0) e Egito (3-1), foi essencial para a sua credibilização e para a subida dos índices de confiança. No entanto, a equipa soviética que vimos atuar nos primeiros 180 minutos do grupo A nada teve que ver com aquela que foi a jogo posteriormente, sobretudo frente à Espanha. Stanislav Cherchesov foi suficientemente sagaz para perceber os erros cometidos na derrota com o Uruguai e, ciente das limitações da equipa, proibitivas de adotar o estilo dos dois primeiros jogos frente a seleções mais fortes, não se fez rogado e optou por um estilo mais conservador. Em competições de curta duração, antecedidas por pouco tempo de preparação, as seleções que jogam há menos tempo juntas tendem a carecer de mecanismos coletivos que permitam “desmontar” a organização defensiva contrária, sobretudo quando se encontram em desvantagem e a precipitação afeta o discernimento dos seus jogadores. Frente a uma seleção espanhola com algumas novidades e que tinha sofrido uma alteração no comando técnico a 48 horas do início da competição, a equipa russa soube adotar o perfil necessário para travar a equipa contrária e na decisão através de grandes penalidades conseguir ser superior – recorde-se que, nos 90 minutos, a equipa soviética também tinha chegado ao golo através de uma grande penalidade convertido com sucesso por Dzyuba.
Já nos quartos-de-final, a seleção russa até esteve em vantagem – algo que não tinha acontecido frente a Espanha – mas não adotou uma postura tão conservador. Teve mais bola, conseguiu criar em ataque organizado e mesmo depois de ter permitido a “cambalhota” já no prolongamento, correu atrás do prejuízo e viria a empatar por intermédio de Mário Fernandes, um dos melhores jogadores da seleção russa no campeonato do mundo. Nas grandes penalidades, a frieza soviética não prevaleceu e a equipa russa despediu-se do campeonato do mundo com uma prestação bem melhor do que se adivinhava.
Cherchesov deve continuar
O sucesso nesta fase final do campeonato do mundo poderá permitir à seleção russa alcançar algo de que precisa de há algum tempo a esta parte: estabilidade. A julgar pelas palavras de Stanislav Cherchesov, os responsáveis russos apostarão na sua continuidade, dado que o seleccionador russo garantiu que a sua equipa “fará melhor no Qatar”, país que vai receber o Mundial 2022. Antes disso, se tudo correr bem, a equipa soviética disputará o Europeu 2020, competição que terá um novo formato e será disputada um pouco por toda a Europa.
Boas apostas!