Cristiano Ronaldo sabe como ninguém que este é o momento. O menino que em 2004 chorou baba e ranho tornou-se um homem e conquistou tudo o que havia para conquistar. Colecionou recordes de golos e minutos, venceu campeonatos, taças, Ligas dos Campeões e Bolas de Ouro. Aos trinta e um anos só lhe fica a faltar um título com a seleção portuguesa. Ele sabe e está disposto a sacrificar-se pelo seu sonho. O “matador” torna-se capitão.
O que falta a quem tem tudo?

Para concretizar o sonho, o “matador” torna-se capitão e aponta o caminho.
Para muitos Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo e sem dúvida um dos melhores de sempre que o futebol já teve. As opiniões só se dividem porque quis o destino que coexistisse com Messi no mesmo plano espácio-temporal. Mas uma coisa é inegável: de todos os grandes ele é o mais construído. As condições de atleta extraordinário foram continuamente aperfeiçoadas com muita vontade e trabalho.
Aos dezanove anos Ronaldo esteve tão perto e morreu na praia. A Grécia roubou-lhe o sonho. Nestes catorze anos de intervalo fez de si o que é hoje: o melhor. Tornou-se um ídolo em Manchester, apaixonando os adeptos ingleses com a sua velocidade e poder de drible. Cumpriu o sonho de criança e mudou-se para o Santiago Bernabéu, onde se transformou numa máquina de fazer golos. Bateu e continua abater recordes. Venceu campeonatos e taças, tanto em Inglaterra como em Espanha. Foi melhor marcador num lado e noutro. Enumerar as suas conquistas, coletivas e individuais, seria tarefa demorada. As três Bolas de Ouro e as três Ligas dos Campeões são as joias da coroa. Em todas foi absolutamente decisivo, na Undécima, como os espanhóis gostam de lhe chamar mais do que em qualquer outra.
O “matador” torna-se capitão

Aos trinta e um anos, Ronaldo aprende a liderar e delegar, o que não está na sua natureza.
Conquistou quase tudo. Só fica a faltar aquele título com a camisola portuguesa numa grande competição internacional. Carregou Portugal às costas até às meias-finais do Mundial de 2008, na Alemanha, à meia-final do Euro 2012 e não chegou lá. Acho que a certa altura chegou a pensar que nunca ia acontecer mas nunca se conformou com a ideia. Aos trinta e um anos sabe que o seu momento está quase a passar. Esta é a última oportunidade. E encontrou um selecionador que o fez acreditar ser possível. Se Cristiano Ronaldo aceitar os termos. Deixar de se reger pelo “passem-me a bola que eu resolvo”. Tem que ser a motivação, o exemplo, tem que dizer mais vezes “vai tu”, avança, eu confio. É o “anda, tu marcas bem”, que disse a Moutinho. Aos trinta e um anos Ronaldo aprende a liderar e delegar, coisas que não estão na sua natureza.
A cabeça de Cristiano Ronaldo
Custa muito. A personalidade que temos não muda de um momento para o outro só porque nos dá jeito. Há os que o criticam por ganhar demasiado dinheiro, como se isso fosse responsabilidade sua. Por não render o mesmo que nos clubes, como se as coisas fossem comparáveis. Por ser individualista, vaidoso. Como se não fossem essas mesmas caraterísticas que o levaram aonde chegou. Cada vez se dá maior atenção à forma como funciona a cabeça de uma atleta de elite, a forma como os traços de personalidade e as qualidades cognitivas se moldam com a função. O que se quer num central – ponderação, capacidade para avaliar e antecipar ameaças, preenchimento dos espaços, visão periférica, só para dar alguns exemplos – não é o que faz um bom marcador. Desse espera-se que seja confiante, impulsivo e arrojado para acreditar que no um para um pode bater qualquer adversário. Que mesmo do meio campo consegue meter a bola no canto. Que tenha apetência pelo risco e não se deixe abater pelos erros. Às vezes estas características levam-nos a exagerar. Faz parte.
Hoje Cristiano Ronaldo vai tentar, mais uma vez, dar um passo mais em direção ao sonho que lhe falta concretizar. E para isso está disposto a sacrificar-se, acreditando nos outros. O “matador” torna-se capitão. Se perdermos que se fo**.
Boas Apostas!