Um início de temporada com um Benfica-Sporting em agenda seria, sempre, uma ocasião para medir capacidades de dois dos maiores clubes portugueses. Aliás, depois de cinco anos sem ter encontros entre grandes nesta competição, já sentíamos saudades de começar o ano com um jogo em que o resultado e o vencedor são imprevisíveis. No entanto, os acontecimentos deste verão acabaram por transformar este jogo numa partida que quase se encara como de vida ou morte, passando a ser, mais do que a disputa de um troféu, uma espécie de tribunal sumário das opções de cada clube neste mercado. Passamos pelos principais temas de discussão sobre o valor da Supertaça.
Jorge Jesus atravessa a Segunda Circular
A noite em que se soube que Jorge Jesus ia assinar pelo Sporting pode bem ser visto como o acontecimento mediático do ano no nosso futebol. Se, por um lado, se trata de uma transferência natural, de um técnico que deixa de interessar a um clube e procura um outro de dimensões semelhantes, o facto de estarmos a falar dos rivais Benfica e Sporting mexe, obviamente, com as emoções de muitos adeptos.
Um simples atravessar de uma estrada mudou, no entanto, a configuração mental dos que estão de um e outro lado. Em Alvalade, com Jorge Jesus, chegou uma cultura de exigência que se pressente, desde logo, no nível das contratações realizadas, apostando em jogadores de valor reconhecido e que acrescentam experiência aos verde e brancos. Na Luz, a saída do técnico deixou algumas feridas abertas, marcando claramente um fim de um ciclo que, para já, se transforma em incógnita para os homens que vestem de encarnado.
Ninguém está preparado para ser Rui Vitória
Se muitos analistas começaram já a apontar o dedo a Rui Vitória pelas supostas falhas da equipa, quer a nível tático ou das opções de jogadores, quer ao nível da constituição do plantel (aqui, com culpas repartidas com a administração do clube), a verdade é que mais do que ser Rui Vitória a não estar preparado para liderar o Benfica, é que ninguém pode estar preparado para assumir o que Rui Vitória teve que assumir.
A herança de Jesus inclui uma “equipa-feita”, mas onde falta a peça essencial, que é a personalidade e cultura de JJ, sempre em risco de explosão perante os seus jogadores e equipa técnica. Junto com a herança vieram também vários jogadores que estarão esgotados de várias épocas a ritmo elevadíssimo, para além de os dois títulos conquistados obrigarem a uma capacidade de vencer toda e qualquer partida que nem o próprio Jorge Jesus conseguiu cumprir em pré-temporadas anteriores.
Num cenário de alguma tempestade para os lados da Luz, depois de um estágio demasiado longo longe de casa e de dúvidas acerca da forma de alguns jogadores fulcrais para a equipa, a prova de fogo de Rui Vitória queima, mas não deixa de ser uma excelente base para que o novo técnico encarnado demonstre as suas capacidades.
Fechar os olhos e acordar no Estádio do Algarve
A poucos dias do jogo da Supertaça, tudo parece indicar que aquilo que veremos no relvado do Estádio do Algarve, será uma espécie de transposição de papéis de uma e outra equipa. Apesar de ser “apenas” o vencedor da Taça de Portugal, será o Sporting que vai carregar a responsabilidade de vencer o troféu (e não dá o mínimo sinal de se sentir pressionado por isso), apresentando um desenho tático e um desejo de rotina que em muitos casos será uma assimilação daquilo que vimos Jorge Jesus fazer com o Benfica.
Já para os encarnados, num desenho com maior povoamento do meio-campo, aproximando-se daquele que foi o desenho tático que o Sporting de Marco Silva utilizou na maioria dos jogos no ano passado, este jogo surge como um degrau de evolução da equipa que utilizou a pré-temporada para experimentar, o que num clube com a dimensão do Benfica, talvez não seja o mais indicado. Mas se alguma coisa se pode retirar das experiências, são resultados.
Se positivos, se negativos, é algo que domingo ficaremos a saber.