Portugal – País de Gales (Euro 2016)
É quase impossível fugir à narrativa do duelo entre Ronaldo e Bale mas esta meia-final é muito mais do que isso. Portugal avança para a quinta semifinal de um Euro, com marca de patinho feio altamente eficaz. O País de Gales chega aqui à primeira tentativa, encantando pelo espírito coletivo. Ninguém quer ficar por aqui, depois de estar tão perto, mas alguém ficará pelo caminho. Os galeses têm duas ausências de peso – Davies e Ramsey – e os portugueses uma ameaça a pairar sobre Pepe. Chegou a hora.
Pela quinta vez na sua história a seleção portuguesa está presente numa meia-final de um Europeu de futebol. Desde 2000, só por uma vez Portugal não alcançou pelo menos este patamar. O que nos obriga a constatar: há aqui competência. Não somos os melhores do mundo. Também não somos os pequeninos que de vez em quanto se superam e surpreendem. Mas as prestações ao longo dos últimos vinte anos provam que já temos um nível estrutural para que se torne natural chegar à fase final – os alargamentos ajudaram – mas inclusive estejamos quase sempre nas etapas decisivas. Porque temos o melhor jogador do mundo, que é uma máquina ofensiva, alguns portugueses meteram na cabeça que devíamos ser uma equipa explosiva. Nunca o fomos. O que construiu o prestígio dos treinadores portugueses – de Mourinho a Leonardo Jardim – e das equipas portuguesas de sucesso foi a segurança tática de um sistema defensivo, que aproveitas as oportunidades. Precisamos de jogadores desequilibradores, de nível elevado, precisamente para tirar máximo partido dessas abertas.
Portugal passou a fase de grupos no terceiro lugar, só com empates. Chegado às etapas a eliminar aguentou firme com o mesmo modelo. Frente à Croácia a decisão chegou no prolongamento; com a Polónia foi preciso chegar às grandes penalidades. São Patrício valeu por nós e cá estamos, à espera do estreante País de Gales.
A boa notícia é que, ao contrário de outras formações na mesma situação, a seleção das Quinas não tem vários elementos em risco para este embate. Perdemos William Carvalho por castigo, sim, mas entre ele e Danilo Pereira a substituição não é dramática. A julgar pelos últimos treinos Raphael Guerreiro e André Gomes estão recuperados e as ordens do selecionador Fernando Santos. Resta a dúvida quanto a Pepe. Os responsáveis continuam a desvalorizar, dizendo que está a ser poupado mais por precaução. Até acredito que possa alinhar, a questão é perceber se dura o jogo todo, ou se não vamos ter um agravamento da lesão muscular e uma substituição precoce para fazer. O central do Real Madrid foi o jogador português mais decisivo em campo, o Renato Sanches que me desculpe. Porque além da barreira defensiva que proporciona, instiga os companheiros com essa confiança que não esmorece.
Onze Provável: Patrício – Cédric, Pepe, Fonte, Guerreiro – Danilo – Adrien, Renato Sanches, João Mário – Nani, Ronaldo.
O País de Gales está a viver um conto de fadas futebolístico. É a primeira vez que vem ao baile mas desde os primeiros acordes que não passa despercebido a ninguém. Depois de ter mandado para casa a primeira seleção do ranking FIFA o seu estatuto saiu muito reforçado. Como referiu Fernando Santos, Gales está muito bem trabalhado e tem um treinador com ideias muito definidas e difundidas daquilo que quer em campo. Chris Coleman aproveita o melhor que Gareth Bale tem para oferecer e construiu a seleção em redor deste talento mas sem depender excessivamente dele. Para sermos rigorosos, Aaron Ramsey é bem capaz de ser o pilar desta formação e por isso a sua ausência pode ser um problema grande para o selecionador contornar. Tanto o médio do Arsenal com o defesa Ben Davies ficam de fora devido a cartões. Ramsey fez um golo e quatro assistências neste Euro 2016, duas delas no duelo dos quartos de final, com a Bélgica (3-1). Mesmo tendo visto aí o amarelo que sabia o iria impossibilitar de jogar o próximo encontro, o número dez galês não quebrou e fez uma exibição de entrega total. Andy King e Jonathan Williams são as opções para a vaga. Mas nenhum tem o rasgo de Ramsey para contruir jogo.
Onze Provável: Hennessey – Chester, Ashley Williams, Collins – Gunter, Allen, Ledley, Jonhathan Williams, Taylor – Bale, Robson-Kanu.
Portugal
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3-0 |
País de Gales
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Jogos Amigáveis 2000
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País de Gales
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2-1 |
Portugal
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Jogos Amigáveis 1951
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Portugal
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3-2 |
País de Gales
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Jogos Amigáveis 1949
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Portugal e o País de Gales só se defrontaram por três vezes, sempre amigáveis. A equipa das Quinas venceu o primeiro, em 1949, e o último, em 2000. Os galeses levaram a melhor no intermédio. Agora é a sério.