Portugal foi a seleção mais rematadora entre as vinte e quatro que foram a jogo na primeira ronda do Euro 2016. Vinte e seis remates para marcar um único golo. Do outro lado a Islândia fez quatro tentativas e conseguiu o mesmo. Seis por cento de eficácia da seleção portuguesa contra vinte e cinco por cento da islandesa. Os números não dizem tudo mas ajudam a entender muita coisa. O jogo de ontem pode ser um case study para ilustrar as questões da produtividade.

Less is more

Portugal foi a equipa mais rematadora até agora mas sem o retorno desejado

Portugal foi a equipa mais rematadora até agora mas não teve o retorno desejado.

Ontem Portugal não teve a estreia no Europeu que a maioria dos portugueses esperava. O empate frente à Islândia deu aos portugueses um banho de realidade mas também proporcionou informação que urge analisar. A equipa das Quinas foi a equipa mais rematadora das vinte e quatro que participaram nesta primeira jornada do Euro 2016. E a frustração com a igualdade levou a que Portugal, nos últimos minutos finais, colocasse a carne toda no assador. O “quanto mais melhor” provou, mais uma vez, não ser a opção mais acertada. A partida Portugal – Islândia podia servir como case study para ilustrar as questões da produtividade, algo com que nós, portugueses, somos massacrados nos últimos anos. Vamos aos números.

Trocado em miúdos

As estatísticas da partida registam vinte e seis remates para Portugal. A Croácia fez dezanove frente à Turquia. Os portugueses foram, sem dúvida, os mais esforçados desta primeira ronda. Mas destes, nove foram bater (literalmente) contra a defesa adversária, outros sete seguiram diretamente para fora e só oito foram na direção da baliza. Oito remates extinguiram-se com a intervenção de Halldorsson e há que admitir que não foram particularmente desafiantes para o guarda-redes islandês. A matemática dá o veredicto: seis por cento de eficácia. Agora olhemos para o outro lado, que ilustra na perfeição a ação inversa. Ao longo dos noventa minutos a Islândia só fez quatro remates. Foram todos enquadrados com a baliza: Rui Patrício defendeu três e o quarto deu golo. As contas aqui são fáceis: vinte e cinco por cento de eficácia para os islandeses. Nani foi o mais ativo neste departamento, com cinco tentativas a sua conta. Cristiano Ronaldo fez apenas uma enquadrada com a baliza: aquele cabeceamento a passe de Nani.

Fartura não traz felicidade

Também os cantos foram uma farturinha a favor de Portugal. Mas apesar de beneficiar de onze oportunidades não foi capaz de criar perigo. Seis desses cruzamentos foram intercetados pelo adversário. Tanto na área defensiva como ofensiva, a Islândia dominou o espaço aéreo: venceram sessenta e dois por cento dos duelos aéreos. Mesmo pelo chão, os islandeses ganharam mais de metade das disputas de bola.

Os comentadores desportivos adoram referir a posse de bola como se esse parâmetro demonstrasse alguma coisa. Há muito se tornou evidente a quem vê futebol com atenção que entregar a iniciativa ao adversário é uma estratégia tão válida como outra qualquer. Portugal teve mais tempo a bola em seu poder (setenta e dois por cento), ao nível do que fez a Espanha frente aos checos, por exemplo. Mas à exceção da segunda metade do primeiro tempo não teve o controlo do jogo. E, como comprava a estatística das disputas de bola, a Islândia concedia o espaço e também o retirava, quando a bola chegava a zonas mais adiantadas do terreno.

Os governantes e gestores portugueses adoram falar de produtividade. Mas todas as suas decisões vão no sentido de fazer mais e raramente se focam no que é verdadeiramente importante: como podemos fazer melhor. Ontem, a seleção portuguesa foi o exemplo acabado de quem privilegia a quantidade sobre a qualidade. Fazer mais qualquer um consegue, é apenas questão de esforço e insistência. Fazer melhor é bem mais exigente.

Boas Apostas!