A seleção portuguesa aterrou ontem em Lisboa, depois de eliminada pelo Uruguai no Mundial da Rússia. Sem dramas, sem revolta. Acontece aos melhores, que o digam a Alemanha e a Espanha. A herança do Euro 2016 pesa ainda, de forma distinta, na comitiva e nos adeptos. Vencer a jogar mal até pode ser celebrado mas sem resultados o Portugal do empata começa a cansar. Fim da linha para os mais entradotes, esperança na renovação. Mas é preciso refrescar também as ideias. Mais do mesmo já não cola.
Eliminação sem drama
No sábado, Portugal foi eliminado pelo Uruguai. Dois erros defensivos deram a Edinson Cavani a oportunidade de marcar que ele não desperdiçou. Foi uma partida equilibrada como se esperava, com duas equipas habituadas a sofrer para atingir os objetivos.
Para muitos, esta foi a melhor exibição da seleção das Quinas. Teve, pelo menos, mais abertura para fazer o seu jogo. Só que aí ficou claro que não sabia o que fazer com a bola. Portugal preparou-se para as dificuldades que os uruguaios iam tentar criar, não para lhe ser entregue a iniciativa do jogo.
O Campeão Europeu foi derrotado mas não vimos ninguém perder a cabeça no relvado. Os adeptos não responderam com drama, insultos ou sequer elegeram os Charrúas como novo ódio de estimação. O que é que se passa aqui?
Herança do Euro
A herança do Euro 2016 pesa nos portugueses, ainda que de forma muito distinta entre a comitiva e os adeptos. Para os adeptos, o título aplacou uma sensação de injustiça, de algo que já lhes era devido. Ao mesmo tempo, a forma como se venceu esse europeu – jogando feio, avançando ponto a ponto até à vitória final – também nunca criou a sensação de euforia, o “agora ninguém nos para”. Sabem que é possível mas lá no fundo sabem que o processo é replicável por outros. Perder nos oitavos de final de um Mundial, sobretudo depois de ver a Alemanha cair na fase de grupos e no mesmo dia em que Nuestros Hermanos tinham a mesma sorte, não é vergonha nenhuma.
Na comitiva portuguesa o efeito é outro. Primeiro há o peso do título, o medo de errar e defraudar as expetativas. De deixarem de ser os heróis. Por outro lado, há o crédito em Fernando Santos. Se a tática dele funcionou quando todos os anteriores tinham fracassado, há que continuar a seguir a indicações à letra, acreditando na sua eficácia.
Hora de mudança
É o fim da linha para os mais entradotes. Começa logo pelo eixo da defesa portuguesa, onde Pepe, Fonte e Bruno estão todos acima dos trinta e quatro. Aos poucos o selecionador foi introduzindo sangue novo, embora no setor defensivo ele claramente se sinta mais confortável com estes veteranos experimentados. Rúben Dias já foi uma surpresa e o novo quarteto tem que ser formado a partir daí. Para João Moutinho e Ricardo Quaresma, com trinta e um e trinta e quatro, respetivamente, está a ser atingido o prado de validade e este terá sido o último Campeonato do Mundo para ambos. O mesmo se começa a equacionar para Cristiano Ronaldo. Não uma renúncia, que esse não é o perfil, mas o tempo passa para todos e a sua capacidade de fazer a diferença vai diminuir.
Do ponto de vista mental a seleção portuguesa já progrediu muito mas anunciam-se novos pontos de viragem no horizonte. Não será de imediato mas vamos ter que processar a herança do Euro e avançar para lá das figuras tutelares do Engenheiro e do Melhor do Mundo.
Boas Apostas!