Depois do embate contra o País de Gales, onde carimbaram acesso à final do Campeonato da Europa, ficou à vista que Portugal parece ter encontrado a solução para os seus dilemas ofensivos. Cristiano Ronaldo e Nani não são pontas-de-lança tradicionais, mas mostraram-se decisivos na vitória da meia-final contra os Dragões, marcando um golo cada um.

Dilema resolvido: Esquecer o ponta-de-lança

Reduzir a meia-final de um Campeonato da Europa a um confronto entre dois indivíduos parece um pouco simplista, contudo, esta batalha táctica rodou à volta de como Portugal e País de Gales usavam Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Bale esteve mais envolvido no jogo, mas Ronaldo mostrou-se mais decisivo.

De um ponto de vista mais amplo, este foi um embate entre duas equipas que jogam sem o típico ponta-de-lança tradicional, usando dois extremos naturais na frente de ataque. Hal Robson-Kanu e Nani estão acostumados a jogar em posições de largura, encostados às linhas, mas têm sido excepcionais parceiros de ataque para Gareth Bale e Cristiano Ronaldo.

Depois de Modric, Ronaldo conforta outro colega de equipa à medida que avança até à final.

Depois de Modric, Ronaldo conforta outro colega de equipa à medida que avança até à final.

Posto isto, este foi um teste um pouco incomum para ambos os sectores defensivos que, teoricamente, não estavam a enfrentar nenhum típico ponta-de-lança matreiro e perigoso dentro da grande área, mas em vez disso, viram-se forçados a tomar decisões acerca do quão longe iriam acompanhar as perigosas corridas destes rápidos atacantes que constantemente andavam à deriva no campo. Para James Collins e Bruno Alves, ambos puros defesas centrais fixos, que tiveram a sua estreia no Campeonato da Europa, este um desafio especial.

Gareth Bale assume um papel de Nº10 no sistema de 3-5-1-1 de Chris Coleman, actuando atrás de Robson-Kanu mas com permissão de movimentar livremente pelo campo. Portugal entrou mais defensivo e o País de Gales enfrentou dificuldades em conseguir em fazer passes em desmarcação para os pés de Bale, o que fez vaguear por posições mais recuadas, aparecendo por vezes na ala esquerda, chegando a ir buscar jogo junto dos defesas centrais.

Contudo, o que Bale realmente queria era uma oportunidade de se conseguir desmarcar para um dos flancos. Mais ou menos a meio da primeira parte, tendo começado a partida calminho, de repente, despertou para a vida. Quando o lateral direito de Portugal, Cédric Soares, foi “arrastado” para uma zona mais avançada do terreno, de modo a fechar o lateral esquerdo do País de Gales, Neil Tayolor, Bale instintivamente explorou o espaço aberto antes de disparar um cruzamento para a grande área, que ainda rasou o poste da baliza de Rui Patrício. Pouco depois, já estava a driblar ao longo do corredor oposto, sendo perseguido por Cristiano Ronaldo.

Foi então que chegou uma chance de contra-ataque para Bale. Recebeu um passe curto na zona de lateral direito, esperou por Danilo Pereira, fintando-o majestosamente, e correndo perto de 70 metros com a bola no pé antes de rematar a uma distância de 20 metros para Rui Patrício. Ronaldo, simplesmente, não teve a mesma sorte em poder realizar um contra-ataque destes.

O capitão de Portugal, tirando o momento em que desafiou Gareth Bale na borda da sua grande área, foi muito menos móvel. Ashley Williams parou a primeira tentativa de Ronaldo de passar bela defesa galesa com um forte encontrão, e desde então o capitão da selecção lusa esteve sempre bem marcado quando tentava finalizar cruzamentos. Chris Coleman terá dado instruções aos seus jogadores para se preocuparem com o facto de que Ronaldo e Nani poderiam utilizar a sua velocidade em zonas abertas, e explorar o espaço atrás das costas dos últimos 3 homens galeses.

Collins venceu fisicamente Ronaldo num cruzamento vindo do lado direito, dos pés de Cédric Soares, num lance onde Portugal ficou a pedir grande penalidade. Contudo, o estreito meio campo de Portugal, com Adrien Silva, Renato Sanches e João, todos a jogar numa zona semelhante, significava que Portugal não iria fazer combinações pelos flancos, o que anularia a hipótese de existirem cruzamentos de zonas mais avançadas.

As oportunidades mais óbvias de cruzar de uma posição mais avançada eram nos cantos. 5 minutos depois do começo da primeira parte, João Mário bate um canto curto para Raphael Guerreiro, que cruza de pé esquerdo em banana e encontra Cristiano Ronaldo, que com um salto majestoso ultrapassou Chester nas alturas e inaugurou o marcador. O País de Gales esteve sempre bastante atento aos cruzamentos em jogo aberto, contudo, acabaram por conceder um golo através de uma bola parada.

Ronaldo e Nani foram os autores dos dois golos contra o País de Gales.

Ronaldo e Nani foram os autores dos dois golos contra o País de Gales.

Portugal dobrou a liderança com um golo de sorte, Ronaldo remata mal a bola e o esférico acaba por ser desviado para perto de Nani, que de carrinho a coloca dentro da baliza galesa. Não foi uma jogada trabalhada, nem um golo bonito, mas uma prova do valor de Nani na frente de ataque ao marcar o seu 3º golo na competição.

Durante a última década Portugal tem sido presença regular nos palcos das grandes competições internacionais, Campeonatos da Europa e do Mundo, apresentando-se sempre com extremos de classe mundial, mas sempre sem um verdadeiro avançado centro, o que resultava na falta de eficácia na finalização. Agora, com Ronaldo e Nani, Fernando Santos parece ter encontrado solução para o problema de longa na frente de ataque ao não se preocupar, simplesmente, com um avançado centro. O País de Gales, por sua vez, surpreenderam com as suas exibições fazendo exatamente o mesmo.

Agora, que venha a final contra França.

Boas Apostas!