Portugal parte hoje para França depois de uma goleada inspiradora na véspera. Fernando Santos diz que vão com ambição mas com os pés bem assentes na terra e os jogadores repetem a mensagem. A seleção das Quinas não é favorita – está entre a segunda e terceira linha de potenciais candidatos – mas em seis presenças em Europeus de futebol nunca deixou de ir além da fase de grupos. Com o alargamento a vinte e oito equipas e um grupo acessível, a passagem aos oitavos de final é o mínimo dos mínimos. No entanto, sendo portuguesa, sinto-me inquieta. As facilidades afligem-me.

Fernando Santos recusa euforias e diz que Portugal “não é uma equipa pretenciosa”.
Sonhar com os pés bem assentes no chão
Esta quinta-feira a seleção portuguesa viaja para França, para montar arraiais em Marcoussis. No dia anterior, no Estádio da Luz, Portugal goleou a Estónia por sete a zero, numa noite inspirada pelo virtuosismo de Ricardo Quaresma. É difícil resistir à euforia de embandeirar em arco mas Fernando Santos foi o primeiro a dizer que lidera um conjunto ambicioso e confiante mas que tem os pés bem assentes na terra. Disse mesmo que Portugal, o seu, “não é uma equipa pretensiosa”, e os jogadores repetem a mesma nota. Para mim a exibição e resultado de ontem são muito animadores. Não porque de repente ache que a seleção portuguesa é a melhor do mundo e vai arrasar tudo o que se lhe atravessar à frente. Mas porque era um jogo amigável, nas vésperas de uma grande competição, contra uma equipa modesta, mas os jogadores levaram a partida a sério. Seja porque os titularíssimos são poucos ou por uma mudança de mentalidade operada pela equipa técnica, certo é que este empenho nas coisas fáceis não é habitual na seleção portuguesa.
Não há desculpas
As casas de apostas – inclusive a Goldman Sachs – dizem que Portugal não é um dos favoritos a vencer o Euro 2016. É certo que França, Alemanha e Espanha reúnem a quase unanimidade de quem tenta antecipar o próximo campeão europeu. Dependendo de quem se pronuncia, os lusos estão na segunda ou terceira linha de candidatos. Mas numa coisa todos estão de acordo: é impensável que Portugal não passe a fase de grupos. Isso nunca aconteceu nas seis presenças anteriores – em quatro das quais alcançou pelo menos a meia-final – e tem ainda menos desculpas. Nenhuma. Nicles.
Não quero com isto dizer que será um passeio no parque. A Equipa das Quinas tem as suas fragilidades e os adversários vão querer fazer história. Mas lembram-se do que nos esperava há quatro anos? Alemanha, Dinamarca e Holanda eram os companheiros de grupo e mesmo assim Portugal chegou à meia-final. Essa obrigatoriedade de estarmos com máxima concentração desde o primeiro instante funciona a nosso favor.
Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo: química entre os dois é evidente.
O Europeu de França é o primeiro com vinte e quatro equipas e cada grupo apura diretamente metade dos seus elementos. Há ainda a qualificação dos quatro melhores terceiros. Só isto devia chegar. Acresce ainda que Portugal teve um sorteio muito favorável. Não nos calhou nenhum peso pesado no Grupo F. O adversário que pode suscitar maiores cautelas é uma seleção que se apurou pela primeira vez para uma fase final de um Europeu. Apesar da falta de experiência e pedigree, a Áustria fez uma qualificação irrepreensível, com nove vitórias consecutivas (e um empate). A Islândia também se estreia nesta andanças do Euro mas convém ter presente que é, em parte, responsável pela ausência da Holanda – que nos sirva de aviso e lição. Já a Hungria não chegava a esta etapa há quarenta e quatro anos. Voltando ao início: nenhuma destas seleções devia ser capaz de criar dificuldades a Portugal. Afinal, temos Cristiano Ronaldo e mais um punhado de elementos que alinham nos campeonatos mais competitivos do mundo. Temos gente muito experiente em jogos grandes e qualidade generalizada. Temos um selecionador pragmático, que passa tranquilidade e confiança. E no entanto fico apreensiva. Portugal não se dá bem com as facilidades. A falta de ameaças aflige-me.
Boas Apostas!