A Argentina sofre derrota pesada e desmoralizadora frente a uma Croácia inspirada e está com um pé fora do Mundial. Na lateral, Jorge Sampaoli passou de animal enjaulado a homem desesperado. Devia estar a pensar quando foi, exatamente, que o sonho se tornou este pesadelo. O erro de Caballero foi só o primeiro sinal de uma Albiceleste à deriva. O selecionador assumiu toda a responsabilidade e esforçou-se por desculpar os jogadores, sobretudo Messi, deste descalabro. Com pouco tacto. A noite foi longa e dura para os argentinos.

Tentação irresistível

Os argentinos que acharam péssimo Messi ter falhado um penalti contra a Islândia não estavam preparados para o que se seguiu. Não é apenas a derrota por 3-0 frente à Croácia, é o modo como essa derrota se deu que cala mais fundo. Daqui a trinta anos este ainda será um dos episódios que relembraremos do Mundial 2018.

O génio de Messi não se manifestou e a Argentina sofre derrota embaraçosa que a deixa perto da eliminação.

O génio de Leonel Messi não se manifestou e a Argentina sofre derrota embaraçosa que a deixa a um passo da eliminação.

Jorge Sampaoli estava bem em Sevilla. Tinha uma equipa à sua imagem, um projeto interessante para desenvolver, mas não soube resistir ao convite de uma vida, treinar a Argentina. Para o Jorge de Casilda, chegar a liderar a seleção do seu país era um sonho de criança. Mesmo sabendo que a altura não era propícia – já vários tinham tentado, as expetativas são sempre tremendas para um país que respira futebol, a estrutura federativa não é flor que se cheire – mas tudo isso ficou para segundo plano. Sampaoli não resistiu a treinar Messi. A experiência com o Chile tinham sido tão positiva, porque não?

Tanto para correr mal

Ao assumir o cargo, o novo selecionador trouxe com ele esperança num ressurgimento desta seleção onde abunda talento, onde há experiência, juventude e um dos melhores futebolistas que o Mundo já viu. Mas a promessa foi-se esvaziando lentamente. Não chegou a haver um verdadeiro impacto de Sampaoli nas exibições, a equipa não se encontrou e mesmo a suposta subserviência a Messi acaba por ter o resultado contrário.

Na quinta-feira, em Nizhny Novgorod, a Croácia foi superior em toda a linha, com uma receita que se aplicaria ponto por ponto. Deixar a estrela criativa brilhar, Modric, mas tecendo em seu redor um coletivo solidário e envolvido.

Imagem de desespero

Parado, com lágrimas nos olhos e ar consternado: é a imagem de Sampaoli que vai perdurar.

Parado, com lágrimas nos olhos e ar consternado: é a imagem de Sampaoli que vai perdurar.

Na lateral, Jorge Sampaoli começou por ser um animal enjaulado. Deve ter feito mais quilómetros do que muitos jogadores dentro de campo. À medida que o descalabro avolumava, tornou-se a imagem do desespero. Parado, expressão de consternação, lágrimas nos olhos, como se não entendesse bem o que estava a acontecer.

Na conferência de imprensa que se seguiu apareceu com ar compungido e pediu perdão aos adeptos por não ter estado à altura das expetativas, do sonho que era também seu. Falou de sofrimento, de dor, de vergonha. Assumiu a responsabilidade de quem lidera e desculpou os jogadores, como é suposto fazer quem comanda. Reconheceu o fracasso do projeto mas também lembrou que ainda há um último jogo a disputar. Com um ponto antes da última jornada, Argentina ainda não está fora. É difícil. E há que considerar a Nigéria, que é uma equipa competente que adoraria fazer um brilharete e derrotar a Albiceleste. Se perder com os croatas está a ser um drama, imaginem se o mesmo acontece frente aos nigerianos.

Como provocar um motim

Onde Sampaoli meteu o pé na poça foi ao acrescentar que o génio de Messi fica limitado pelos companheiros que tem ao seu redor, que não criaram o entrosamento necessário. Aguero respondeu com um seco “ele que pense o que quiser” e começaram a circular boatos de um motim de balneário, que exigia a saída do treinador mesmo antes da última partida. De facto, um dos grandes problemas nesta seleção argentina é a falta de fluidez, de ligação entre setores. Mas quando há jogadores com talento para o fazer, cabe ao treinador potenciar essas dinâmicas. E a exibição mostra o inverso.

Culpar o astro argentino, até sugerir que ele repita a anterior “birra” e volte a renunciar à seleção, faz pouco ou nenhum sentido. Crucificar Caballero ou insultar Mascherano até à décima geração, o mesmo.

Em maio do ano passado, Jorge Sampaoli cumpria o seu sonho de criança, indo treinar a seleção do seu país natal. Ano e pouco depois, está transformado em pesadelo. No dia 25, em São Petersburgo, pode ainda piorar.

Boas Apostas!