O 20º posto da Série A é, muito provavelmente, o menor dos problemas que o Parma atravessa por esta altura.
O último lugar do principal escalão do futebol italiano permite, naturalmente, inferir que algo não vai bem na casa de um dos principais símbolos da década de 90 do calcio e, uma viagem às entranhas do clube, permite conhecer um cenário muito mais grave que a atual conjuntura desportiva.
Afundado em dívidas, os episódios que ilustram a débil situação do clube têm sido uma constante. Não há grito de guerra porque, por vezes, nem se joga.
Palavra de ordem? Crise
O conceito de falência não é novo para o Parma.
Em 2004, a queda conjunta com a marca Parmalat, principal acionista do clube à época, arrastou a tesouraria para uma difícil situação financeira. A dívida disparou e o naming do clube foi alterado: de Parma Associazone Calcio, passou a Parma FC. No imediato, manteve-se no principal escalão do futebol transalpino, mas pairava no ar uma incerteza quanto ao futuro do clube a médio prazo.
O cenário preconizado pelos pessimistas – ou talvez pelos mais lúcidos – acabou por se efetivar: em 2007/08, o clube desceu à Série B. Recordou-se, com nostalgia e mágoa, o Parma que reunia Buffon, Cannavaro, Thuram, Verón, Asprilla, Fernando Couto ou Crespo. Uma memória tão presente, mas uma realidade tão distante. O olhar que reluzia com a conquista de troféus continentais, ou taças de Itália, foi consumido pelas lágrimas.

Tempos como este, quando o Parma era AC, e ganhava troféus, em Itália e na Europa, já são só uma memória
À entrada para a nova época, o outrora vencedor – em duas ocasiões – da extinta Taça UEFA, foi proibido pelo organismo que tutela o futebol europeu de participar na Liga Europa, em função dos graves problemas financeiros, isto apesar de na última temporada até ter ficado no sexto posto da Série A.
Em vésperas de quadra natalícia, o agora ex-presidente do clube, Tommaso Ghirardi, viu-se obrigado a colocar o clube à venda. Mas não foi preciso um exótico golpe de consumismo para alguma entidade se chegar à frente e adquirir os direitos: afinal, a quantia irrisória de 1 euro fazia prever que, mais que um presente, quem despendesse da módica quantia herdaria um fardo. Uma situação crítica, que Rezart Taçi assumiu. Mas, aparentemente, a aquisição roçou a epifania.
Afinal, volvidas duas semanas e tomando conhecimento das profundas dificuldades do clube, o albanês de imediato se quis demarcar da situação.
O emblema, votado ao desprestígio que uma situação destas acarreta, ficou novamente à venda.
Desta feita, foi Giampietro Manenti quem assumiu as rédeas do projeto.
Com insolvência já declarada, o pedido será alvo de avaliação do tribunal de Parma no próximo dia 19 de Março. O futuro do clube será definido. A descida de divisão é quase ponto assente, mas esta situação poderá mesmo levar à refundação do clube que começará, necessariamente, a competir nos mais baixos escalões transalpinos.
A situação é extremamente crítica: os jogadores não recebem há sete meses e nem o leilão dos bens pertencentes ao Parma tem resultado no amealhar de liquidez suficiente para responder às situações de incumprimento. Aliás, em leilão realizado recentemente, a venda de três carrinhas rendeu menos de 20 mil euros.
E o Futuro Imediato?
Esta sexta-feira, o ex-presidente Tommaso Ghirardi e o diretor Pietro Leonardi foram condenados a quatro meses de suspensão, enquanto que a situação do clube na pauta classificativa se agravou com a perda de mais dois pontos depois de já lhe ter sido subtraído um ponto, em dezembro.

Por mais pontapés que os jogadores queiram dar na crise, o Parma, agora FC, não consegue erguer-se
Sem dinheiro para garantir as condições mínimas para receber um encontro do principal escalão italiano e muito menos para deslocações, o Parma já falhou dois encontros da Série A.
De momento, o principal objetivo passa por garantir que o clube termine a atual temporada. Para o efeito, além de um contributo dos vários clubes em prova que garantiu que o Parma pudesse disputar o último encontro, a Federação italiana está a ponderar a hipótese de emprestar cinco milhões de euros ao clube – ou “emprestar”.
Os adeptos parmesãos, no entanto, têm mostrado solidariedade para com a equipa. Num leilão em hasta pública dos bancos dos balneários, licitaram-nos, compraram-nos e devolveram-nos ao clube.
O sentimento dos jogadores? De revolta, mas também de solidariedade para com aqueles que não entram em campo a seu lado, mas partilham o quotidiano do clube, algo espelhado nas declarações de Fabiano Santacroce e Crístian Rodríguez: “O que mais nos incomodou nos últimos meses foram as mentiras contadas. Essa situação está durando tempo demais. Queremos falar com as autoridades. Nós precisamos de uma solução. Não é só o nosso salário, mas os salários dos funcionários e suas famílias que não tiveram a sorte de receber quanto nós recebemos”, confessou o defesa.
O ex-FC Porto partilha da preocupação de Santacroce, sendo que vive uma situação nunca antes experienciada: “Não é fácil vir de onde venho e enfrentar este problema. Mas, não me queixo, há que continuar a trabalhar. Em pior situação estão os fisioterapeutas, os cozinheiros, os que limpam. Ao fim ao cabo os futebolistas têm bons salários, mas para os outros é um drama estarem seis meses sem receber”.
Boas Apostas!