No futebol não há certezas. Esta é uma frase mais que batida, mas que é sempre bom relembrar, sobretudo naqueles momentos em que tudo parece previsível. O contínuo consumo de informação, as análises, os debates, e o visionamento dos jogos, tudo isso contribui para temos uma opinião formada sobre determinada equipa, ou mesmo para perspectivar algo num futuro próximo. É o que acontece no futebol, onde muitas vezes os sentimentos nos podem retirar algum discernimento, e mesmo enviesar as nossas projecções. Neste artigo trago o caso do Sport Lisboa e Benfica, o novo líder da Liga NOS.

Vamos começar pelo princípio e pela pré-temporada. O primeiro ponto forte que marcou o arranque de temporada foi a desconfiança por parte de muitos adeptos na capacidade de Rui Vitória em ser o homem certo para voltar a devolver o Benfica aos títulos. Muitos não esqueceram a forma como as águias se deixaram abater, no final de temporada passada. Mas, a direcção manteve a apostas no treinador ribatejano e trouxe reforços de “peso”, mas que com o passar do tempo se tornaram reforços “pesados”, tal foi a sua rara utilização, falo de Castillo e também de desempenho decepcionante de Ferreyra. Mas, à medida que o Benfica se reforçava no ataque, cresciam as dúvidas sobre quem viria acrescentar qualidade em linhas mais recuadas. Conti tinha e tem potencial, mas é ainda jovem e precisará de tempo. Lema é bem mais experiente, ou pelo menos tem mais idade, mas não se afirmou. E até na baliza a falta de experiência parecia trazer mais um problema a Rui Vitória.

tribuna expresso

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A verdade é que a pré-temporada arrancou e o Benfica ataca-a bem cedo, reúne bons indicadores físicos, chega a ter um futebol dinâmico, e com bons resultados. Rui Vitória parecia voltar a ter um Benfica capaz de lutar pelo título, mas também com profundidade no seu plantel para se aguentar nos momentos em que o calendário apertaria mais. Mas, à medida que a época vai evoluindo, e as restantes equipas começam a ter índices físicos semelhantes, começa a perder-se muito daquele “handicap” que tanto tinha alavancado os resultados das águias. O Benfica começava a não responder nos jogos de maior grau de dificuldade, quer na Liga NOS, quer mesmo na Liga dos Campeões. Aliás, voltou a não conseguir passar a fase de grupos. Foi com naturalidade que Rui Vitória acabou por deixar o comando técnico das águias, e para o seu lugar entraria Bruno Lage.

O jovem técnico herdou um Benfica a 7 pontos da liderança e uma equipa com baixos índices de confiança. O desafio antevia-se enorme, ainda para mais o factor experiência não abona a favor do novo técnico. Havia assim uma grande probabilidade de mais jornada, menos jornada, o Benfica acabar por cair. Mas, a águia provou que apesar de ferida não se deixou abater, voltou a voar, e a grande altitude, e na jornada passada chegou mesmo ao topo da Liga NOS. Com a vitória no Estádio do Dragão, as águias ganharam 9 pontos ao FC Porto, e lideram hoje com 2 pontos de vantagem. Ou seja, poucos poderiam antever um desfecho tão positivo, tal era o cenário apresentado. Mas, a verdade é que os jogadores recuperaram os seus índices de confiança, e no caso de Seferovic ou Samaris parecem outros jogadores. Há muito mérito de Bruno Lage, e hoje há mais certezas na qualidade do plantel e parece claro que o problema central estava no comando técnico, ou seja em Rui Vitória, não pela sua qualidade, mas sobretudo pela abordagem pouco “ousada” em que muitos adeptos não se reviam.

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Chegados ao topo da Liga NOS, o Benfica tem a garantia que defende apenas de si para chegar ao título de campeão. É verdade que as águas estão a voar alto, mas muitas vezes o difícil não é chegar ao topo, mas sim manter-se por lá, apesar de ter sido quase heróica a recuperação das águias. Faltam 10 jogos, 6 em casa e 4 na condição de visitante. Todas as deslocações são a norte, sendo a primeira paragem em Moreira de Cónegos, depois Santa Maria da Feira, Braga e Vila do Conde. De todas estas paragens, o duelo com o Sporting de Braga será o mais difícil, em teoria, mas também a deslocação ao terreno do Moreirense merece especial atenção, tendo em conta o excelente campeonato que a equipa de Ivo Vieira vem fazendo. Em casa irá receber o Belenenses, Tondela, Vitória de Setúbal, Marítimo, Portimonense e Santa Clara.

Mas, além da rota nacional, o Benfica aposta também em voar sobre a Europa, e apesar de não ter “obrigação” em vencer a prova, a verdade é que já atingiu finais recentemente, pelo que há essa esperança de poder voltar ao palco da final. Neste momento está a disputar os oitavos de final e está em desvantagem, depois de perder em Zagreb (1-0). No entanto, esta zona europeia está recheada de grandes adversários, como Chelsea, Arsenal, Sevilha, Inter de Milão ou Nápoles. Por tudo isto, a prioridade da águia será não ser “abatida” em terreno nacional, podendo assim regressar aos títulos. Se o conseguir, a época será sempre considerada como muito positiva, não esquecendo que também há a Taça de Portugal para tentar vencer.