Não sei se foi o melhor Super Bowl de sempre mas foi definitivamente o mais estranho. A meio do terceiro período todos os comentadores estavam já a alinhavar uma história na qual Atlanta vencia o troféu. E a partir daí foi a estupefação: os Patriots ainda estavam vivos e não podíamos virar as costas. Em retrospetiva, é fácil apontar o dedo aos Falcons por terem desperdiçado uma vantagem histórica. Mas no momento, as decisões justificavam-se. O grande desafio de Dan Quinn será recuperar a equipa depois do trauma.
À procura dos culpados

Podemos culpar Kyle Shanahan por se manter fiel ao que é o ADN ofensivo dos Falcons?
Agora é fácil acusar Atlanta, em particular o ataque, de ter perdido o Super Bowl. Porque as pessoas gostam de mundinhos a preto e branco, de identificar vencedores e vencidos, de apontar culpados. À posteriori não há quem não seja um estratega brilhante. Mas no momento, no decorrer do jogo, eu acho que os Falcons tomaram as decisões corretas. Acabou o gás e do outro lado tinham a melhor organização da NFL, acho que isso é indiscutível, e mesmo assim conseguiram cair apenas no prolongamento.
Atlanta entrou em jogo como tinha que o fazer. Sem medo, agressiva e com o turbo ligado. Eles sabiam que qualquer sinal de fragilidade, de respeitinho, de cautela, haveria de se virar contra eles. Apostaram naquilo que fizeram a temporada: atacaram todas as jogadas. O espanto inicial não foi porque os Falcons começaram a somar pontos, nem sequer pelo facto da defesa estar a ser tremendamente eficaz. Foi porque os Patriots pareciam manietados, sem soluções.
As decisões certas que deram errado

Se Jake Matthews não tem cometido a falta este Super Bowl podia ter sido uma história completamente diferente.
Durante toda a primeira parte os Falcons foram a melhor equipa em campo, não há contestação. Tinham mais energia, eram mais rápidos e chegavam antes a todas as situações. Em retrospetiva, esta era altura para Kyle Shanahan jogar pelo seguro e aguentar a vantagem. Errado. E o escândalo que teria sido se Atlanta perdesse o jogo porque recuou, com medo. O ataque dos Falcons continuou a ser fiel ao seu ADN que é tentar mais um touchdown e ficar fora de alcance. E quando Robert Alford fez a interceção e a converteu em mais seis pontos, parecia estar feito. Mas, entretanto, a defensiva de Atlanta foi acusando desgaste, consequência inevitável do tipo de jogo intenso que aquela unidade faz. A velocidade, as exigências da cobertura homem a homem frente a um ataque que muda constantemente o posicionamento das peças. A outra crítica que mais se houve é a de que Matt Ryan devia largar a bola mais rápido, dando como exemplos a jogadas dos sacks e fumbles. Mas as decisões foram corretas. Infelizmente, erros individuais comprometeram jogadas que podiam ter corrido a favor dos Falcons. Devonta Freeman falhou o bloqueio e Hightower avançou pelo ângulo morto de Ryan. E no seguimento da receção tremenda de Julio Jones foi Jake Matthews que foi ultrapassado e em desespero cometeu a falta que acabou com a progressão. Como é que o coordenador ofensivo e o quarterback podem ser responsabilizados por serem coerentes?
Dito isto, esta derrota foi devastadora. O maior desafio da carreira de Dan Quinn vai ser recuperar a equipa depois do trauma. Basta pensar no que aconteceu aos Panthers e a Cam Newton no último ano.
Boas Apostas!