Esta segunda-feira Roger Federer voltou à segunda posição do ranking, graças à conquista do título do Masters de Shanghai. No início da época, quem poderia imaginar? O rei não só está vivo como continua, aos fim de dezasseis anos no circuito profissional, a encantar e surpreender. Gilles Simon que me desculpe mas o que fica na memória é aquela verdadeira masterclass de ténis que Roger e Novak protagonizaram nas meias-finais. Aproveitemos enquanto há, um dia não muito longínquo vamos sentir saudades disto.

Olhem e aprendam

O resultado final por duplo 6-4 pode induzir quem não viu a pensar que foi uma vitória fácil e que provavelmente Novak Djokovic esteve uns furos abaixo do seu nível habitual. Dois sets sem resposta não passam a noção de embate épico entre dois monstros da modalidade. Mas foi exatamente o que aconteceu no sábado em Shanghai. Roger Federer preparou a tática certa para bater o número um mundial e executou-a na perfeição. O suíço não podia competir com Djokovic a partir da linha de fundo. Acho que ninguém pode. Portanto, a estratégia passou por ser agressivo. Servir muito bem, executar cada pancada na perfeição e nunca baixar a guarda. Sempre que a oportunidade se apresentava, atacar. Variar o jogo, subir à rede, deixar Novak constantemente na expetativa. A melhor resposta do circuito, talvez o melhor a ler o jogo dos adversários, sem conseguir antecipar o movimento seguinte de Federer.

O sérvio jogou muito bem, como é seu costume. Mas o nível de Roger estava tão alto que não lhe deu hipóteses. E pensar que o suíço foi obrigado a salvar cinco match points para se manter em prova na segunda ronda, frente a Leonardo Mayer. Desde então, até à conquista do título, não voltou a ceder um único parcial. Até isso é prova evidente da confiança do agora número dois mundial. Há um ano atrás, nessa situação de desvantagem, a cabeça já tinha abandonado o encontro.

Federer_ShanghaiDe volta a n.º 2, quem diria?

Para já, o troféu de Shanghai, um dos poucos que faltavam ao palmarés do suíço, o seu vigésimo terceiro título de um torneio Masters 1000, fá-lo ultrapassar Rafael Nadal para se tornar número dois do mundo. E há logo quem venham desvalorizar. 2014 foi o ano em que Andy Murray sentiu necessidade de reinventar a sua carreira. Em que Nadal parecia estar na árvore dos patafúrdios, não há nada – joelho, pulso e apendicite – que não lhe aconteça. Em que Nole andou distraído com o casamento e a chegada do primeiro filho. Federer também foi pai pela segunda vez este ano, de mais uma dupla de gémeos. As distrações da vida pessoal e os problemas físicos fazem parte do desporto. Depois há o extremo oposto, dos que perguntam se poderá chegar a número um. É possível, mas muito improvável. Objetivamente, Nadal insiste em não ser operado até às finais do World Cup mas as limitações evidentes e portanto está arredado desta competição. Roger Federer tem mil e sessenta pontos para defender até ao final da temporada, em três torneios onde tem agendadas presenças – Basileia, Masters de Paris e finais de Londres. Há ainda a variável da Taça Davis, em cuja final o suíço poderá amealhar mais pontuação. Por seu lado, Nole tem dois mil e quinhentos pontos a defender, só em Paris e Londres. Com o nascimento do filho programado para as próximas semanas não é provável que estenda a sua participação a mais eventos. Portantol, possível é mas Federer tem trinta e três anos. Se tentar ir a todas o mais provável é que falhe em alguma dessas etapas. E custa acreditar que Novak claudique em todas as competições que tem pela frente.

Sinceramente, essa especulação interessa-me pouco. O que me prende é o ténis, é o privilégio de ver um dos melhores, provavelmente o melhor de sempre, voltar a estar ao seu melhor nível – físico, psicológico, competitivo – em court. Sei que não vai durar muito, a idade não perdoa os atletas. Mas enquanto durar, eu e outros milões de adeptos pelo mundo todo vamos aproveitar.