Já passou. A partida que sportinguistas e benfiquistas esperavam durou noventa minutos de alta intensidade, numa partida que teve os ingredientes necessários para nos preparar da melhor forma para aquilo que vai ser esta edição da Liga NOS. Não se trata, aqui, de ver confirmada a ideia de Jorge Jesus de que, a partir de agora, todos os títulos serão disputados a três. Trata-se, sobretudo, de entender que o que aconteceu na Supertaça obriga a reposicionar as ideias sobre duas equipas que, nos últimos anos, têm tido um percurso bem diferente.
A atitude é uma organização de jogo
A grande mudança que se pôde observar na partida da noite passada prendeu-se com a organização que o Sporting apresentou nas quatro linhas. Quando se pensa que uma equipa muda de treinador, muitas vezes, estaca-se a análise na atitude que esse mesmo treinador tem na forma como intervém na partida ou perante a comunicação social. No entanto, a atitude é uma organização de jogo. Um Sporting muito mais consciente do seu posicionamento defensivo e com novas dinâmicas impostas a partir da dupla formada por Adrien e João Mário, com os extremos a surgirem muitas vezes no apoio interior e um ponta-de-lança que parece um peixe na água com a companhia que encontra nas suas movimentações na área.
Da mesma forma que, para Alvalade, viajaram ideias e se ocupou a pré-temporada a desenhar a equipa conforma aos princípios que o técnico defende, na Luz talvez o grande problema seja parecer que não se soube aproveitar as semanas de trabalho até este fim-de-semana. Não se percebendo quais são as ideias de Rui Vitória para a sua equipa (aceita – ou pode aceitar – o trabalho deixado pelo seu antecessor? Pretende modificar o esquema de jogo que deixou, várias vezes, o Benfica exposto a adversários menos intimidados? Quanto vale, de facto, uma pré-temporada, quando um jogador com poucos dias de casa é solução?), foram muitas as perguntas deixadas no terreno de jogo para que se possa entender as soluções a aplicar.
O jogo dos jogadores
O duelo esteve, obviamente, marcado pelas figuras dos treinadores, mas o que também se entendeu ontem no Estádio do Algarve é que este é um jogo dos jogadores. Os princípios preparados por cada equipa técnica ganham maior ou menor expressão consoante o talento que têm disponível para o aplicar.
No Sporting, Jefferson mantém a intensidade de sempre, surgindo muitas vezes em terrenos onde se apresenta como mais um elemento de uma linha ofensiva, onde Carrillo apresenta todo o esplendor dos seus recursos. Slimani, já aqui foi dito, também apresenta outra consistência e, mesmo não tendo marcado na noite de ontem, entende (e as suas palavras parecem ser prova disso) que tem neste clube as condições para brilhar ainda mais. Teo Gutierrez e Bryan Ruiz, ainda à procura das melhores dinâmicas, respiram qualidade.
No Benfica, Gaitán é um patrão que Rui Vitória não se poderá arriscar a perder, apesar de tudo indicar que ontem pode ter sido um dos últimos jogos do craque argentino com a camisola do Benfica. Sem Luisão, Jardel soube estar à altura das necessidades, enquanto Júlio César apenas foi traído pelo ressalto da bola que deu o golo solitário dos leões. Nélson Semedo, que ontem fez a sua estreia oficial com a camisola encarnada, deixou alguns sinais que poderão permitir fazer dele a aposta na formação que Luís Filipe Vieira tanto desejava.
O Sporting levou a Supertaça, com justiça, num jogo que para além de todos os temas desportivos, teve ainda motivos para discussões arbitrais tão ao gosto dos adeptos portugueses. Os dados estão lançados para uma temporada de competição ao mais alto nível. Para a semana, há campeonato.