O Lincoln Financial Field, em Philadelphia, recebe a final da 13ª terceira edição da Gold Cup, competição que reúne as principais seleções da américa do norte e central. Os Estados Unidos e o Canadá organizaram conjuntamente o certame que agora finda com o duelo entre Jamaica e México. A jogar em casa, os comandados de Jurgen Klinsmann, campeões em título, foram incapazes de repetir presença na final. É a segunda edição consecutiva da Gold Cup em que o detentor do troféu não marca presença na final seguinte, algo que constitui um marco histórico: México (2013) e Estados Unidos (2015).

A oitava do México

Contando apenas as edições da Gold Cup disputadas no formato atual, – ou seja, pós-torneio CONCACAF – a primeira vez que a prova decorreu remonta a 1991. Nas doze edições disputadas daí para cá, o rol de vencedores restringe-se a três países: México, Estados Unidos e Canadá. Os mexicanos encabeçam a lista de vencedores com seis títulos (1993, 1996, 1998, 2003, 2009, 2011), a seleção dos Estados Unidos vem logo a seguir com cinco troféus (1991, 2002, 2005, 2007, 2013) e por fim o Canadá, que venceu a Gold Cup em 2000. Em termos de presenças em finais, as posições das duas principais potências neste contexto invertem-se: Os Estados Unidos já foram finalistas em nove ocasiões contra sete do México. “La Tri” tem um melhor aproveitamento no derradeiro jogo, mas a única derrota que averbou em finais foi precisamente diante dos Estados Unidos, em 2007. Desde esse mesmo ano, disputaram-se mais três edições da Gold Cup. Os “aztecas” estiveram presentes em duas finais e os Estados Unidos nas três. Enquanto que o México venceu os norte-americanos em 2009 (5-0) e 2011 (4-2), em 2013, foi o país dos cinquenta estados que levantou o “caneco” ao vencer o Panamá por 1-0. Agora, na sua oitava final, os comandados de “Piojo” Herrera  podem aumentar a diferença em termos de conquistas para os Estados Unidos e pela frente terão um adversário que se estreia em decisões: A surpreendente Jamaica.

México chega a final da Gold Cup pela oitava vez

México chega a final da Gold Cup pela oitava vez

Ponto comum no percurso recente destas equipas é o facto de terem participado ambas na Copa América. Embora filiadas à CONCACAF, estiveram presentes no torneio de seleções sul-americanas. O México apresentou-se com mais alterações que a Jamaica face ao plantel com que se apresentou ao longo desta Gold Cup. Inserida no grupo A, a seleção azteca ficou no quarto posto, resultado de dois empates frente a Bolívia e Chile. A Jamaica, que atuou no grupo B, não somou qualquer ponto e averbou três derrotas por 1-0. Exceptuando um ou outro caso cujas ausências se devem à intransigência dos clubes que quiseram os atletas de volta, a Jamaica apresenta uma equipa fiel ao que foi no Chile agora na Gold Cup. Esta situação levanta questões nomeadamente acerca da preparação, visto que, realizada em cenário competitivo, parece surtir efeito.

“La Tri”

Crónico favorito à conquista da Gold Cup, na atual edição, a presença do México na final é quase que surpreendente. Uma seleção que demonstrou tão pouco ao longo da prova – num registo totalmente distinto ao que fez no Brasil –  chega ao derradeiro jogo beneficiando bastante de erros de arbitragem. Afirmar isto não é de má fé nem uma tentativa de tirar mérito aos comandados de Miguel Herrera: É factual. “La Tri” tem sido incapaz de dominar um encontro e fazer valer a qualidade que lhe é reconhecida, passando por muitas dificuldades na maior parte dos encontros. Na fase a eliminar, frente a Costa Rica e Panamá, os erros de arbitragem foram gritantes e impactantes em termos de resultado final. Aliás, Andrés Guardado admitiu que falhar o penalty que deu o apuramento para a final lhe passou pela cabeça, isto porque considerou que não tinha sido devidamente assinalado. Certo é que o México seguiu em prova, é finalista, e por isso a campanha e os números da mesma merecem-nos um olhar.

O México qualificou-se para os quartos-de-final após concluir a participação no grupo C enquanto vice-líder, com cinco pontos. Entrou na prova em grande estilo diante da seleção cubana, com uma vitória por 6-0, mas há pelo menos dois fatores a considerar acerca desse jogo: Foi a estreia de Cuba, seleção composta por jogadores amadores, numa grande prova continental e logo contra um nome como o México. No segundo jogo, frente à Guatemala, os mexicanos não foram além de um empate a zero. Na derradeira ronda, um empate a quatro com Trindade e Tobago, seleção que venceu o grupo. Sofrer quatro golos de Trindade reflete uma prestação defensiva que deixa muito a desejar. Tal como Luís Cristóvão refere em “O último dia da CONCACAF”, a seleção mexicana parece ter dificuldade em assumir a condição de favorita e pegar nas rédeas do jogo. Vão valendo ao México, e porque seria redutor confinar o sucesso mexicano à ajuda de terceiros, o talento das suas unidades que têm feito estragos.

Na fase de grupos, em três jogos, o México marcou dez golos e sofreu quatro. Oribe Peralta (3), Guardado (2), Vela (2), Gio dos Santos e Paul Aguilar foram os autores dos tentos, sendo que o 10º foi um auto-golo do tobaguenho Jones.

Frente à Costa Rica, outra seleção que foi uma sombra daquilo que exibiu no Brasil em 2014, o México ganhou com um penalty sobre o fim do tempo extra. Foi o primeiro episódio de grande polémica que antecedeu o jogo com contornos de escândalo frente ao Panamá. Note-se que, a eliminar, o México nunca foi capaz de marcar um golo ao longo dos 90 minutos nem de bola corrida. Em três golos, todos de penalty, dois surgiram já no prolongamento e um deles (o 1-1, frente ao Panamá) aos 90+10′. E porque questões de arbitragem já foram suficientemente mencionadas ao longo desta análise, tempo agora para falarmos do outro finalista, a Jamaica.

Os “Reggae Boys”

A Jamaica é a grande surpresa da Gold Cup

A Jamaica é a grande surpresa da Gold Cup

É a grande sensação desta Gold Cup. Maravilhou o Chile com o seu futebol físico, aguerrido e combativo, e transpôs a capacidade exibida para os relvados norte-americanos. Ver os “Reggae Boys” na final pode surpreender o adepto que não tenha visto qualquer jogo desta formação. Quem viu, não pode considerar que vencer o grupo B, eliminar o Haiti e a favorita seleção dos Estados Unidos constitui surpresa. Afinal, a dimensão física distinta desta seleção, a seriedade e capacidade de trabalho ao longo do jogo remetem para o perfil de um digno finalista. Quatro vitórias e um empate é o saldo da seleção caribenha até então, procurando prolongar a condição invicta na final.

Durante a fase de grupos, após entrar com um empate a dois diante da Costa Rica, a Jamaica venceu Canadá – país que organiza a competição juntamente com os EUA – e El Salvador pela margem mínima (1-0).  Nos quartos, contra o Haiti, um golo ao minuto 7 de Barnes foi suficiente para seguir em frente. Já nas meias-finais, se a tarefa se afigurava hercúlea – embora os Estados Unidos não estivessem a rubricar uma grande prova –  a Jamaica deu nova resposta cabal e venceu por 1-2. Novamente Barnes a marcar na fase a eliminar. Também Mattocks, que fez o primeiro golo do encontro, merece figurar entre os destaques desta seleção que conta com uma espinha dorsal experiente. Os rostos do capitão Rudy Austin, de Wes Morgan ou Jobi McAnuff transmitem a rigidez e empenho de uma seleção que quer continuar a fazer história.

Sob comando de Winfried Schafer, uma coisa é certa: Esta seleção já deu nova imagem ao futebol jamaicano.