Pode parecer um título estranho para uma antevisão da NASL 2016, mas a verdade é que esta Liga tende a corresponder aos vários preconceitos que os europeus costumam ter sobre o futebol que se pratica nos Estados Unidos. Herdeira da história da NASL que nos anos 70 e 80 fez do futebol moda entre os americanos e contratou algumas das principais estrelas mundiais da época, a atual NASL é uma competição que luta pela visibilidade num mercado onde a MLS se instalou como peça principal do plano de desenvolvimento do futebol local.
A NASL corresponde aos preconceitos por ser uma competição onde se procuram ter alguns “velhos” craques para fazerem cartaz, algo que foi conseguido pelos New York Cosmos com Raúl e Marcos Senna, e que é prolongado este ano com a chegada de Matuzalém, por exemplo, para os novos Miami FC. Também é ainda comum, nesta prova, assistir a algumas partidas em relvados onde as marcas do futebol americano perduram, bem como a própria organização – em que cada clube tem os seus próprios donos e não obedecem a regras de competitividade – sai da norma do que é o desporto nas principais ligas dos Estados Unidos.
No entanto, com um cartel de jogadores cada vez com maior qualidade, vale a pena seguir o que a NASL nos oferece em 2016. Organizamos, assim, um pequeno guia para as onze equipas que estarão em prova.
Competição
A NASL tem, neste momento, onze equipas, sendo que a décima-segunda, o Puerto Rico FC, entrará em prova na segunda metade da temporada. A temporada divide-se em dois ciclos, com uma primeira volta chamada de Spring Season e uma segunda volta chamada de Fall Season.
O playoff final é disputado num sistema de apenas um jogo, com umas meias-finais e uma final onde se decide o campeão de cada ano. Na época passada, os New York Cosmos foram os campeões, tendo vencido a Spring Season e batendo na final o Ottawa Fury, vencedor da Fall Season.
Carolina RailHawks
Depois de ter sido uma equipa de meio da tabela no somatório da época passada, com uma Spring Season de muita qualidade (3º lugar), mas uma Fall Season de desilusão, a equipa de Carolina espera conseguir ter uma temporada de maior regularidade. O facto de ter mudado de mãos, passando da Traffic (os donos do Estoril Praia) para Steve Malik, poderão permitir que esse objetivo seja atingido.
O plantel sofreu várias modificações, com Matt Watson, vindo dos Chicago Fire da MLS, a poder ser considerado o seu principal reforço. Shipalane e Albadawi, dois dos jogadores mais importantes do plantel em 2015, foram mantidos e serão as referências ofensivas da equipa.
FC Edmonton
Uma das equipas canadianas da prova teve um 2015 sem grandes motivos de alegria. No entanto, a nova temporada promete trazer novas ambições, para um plantel que vê chegar os experientes Nik Ledgerwood e Adam Eckersley. Ledgerwood, canadiano, fez quase toda a sua carreira na Alemanha, enquanto Eckersley fez a sua formação na academia do Manchester United.
Fort Lauderdale Strikers
Depois de atingir as meias-finais na época passada, fruto de um quarto lugar no somatório da fase regular, os Strikers querem ainda mais para esta temporada. O investimento brasileiro – com Ronaldo Fenómeno a fazer parte da estrutura accionista – reforçou o plantel, não só com experiência, mas também com elementos que podem ser referência neste campeonato.
Leo Moura e Victor PC são dois dos brasileiros que já no ano passado conseguiram levar a equipa a uma fase decisiva. Agora chegam também Maicon Santos e Kleberson, que já estavam na NASL, enquanto Luis Felipe e Mattheus Carvalho, que chega depois de uma passagem humilde pelo AS Monaco, prometem tornar este onze um dos mais fortes da prova.
Gale Agbossoumonde, defesa-central que chegou a passar por Braga, é referência de contacto com Portugal neste plantel.
Indy Eleven
Um novo técnico para tentar devolver a equipa de Indianapolis a dias mais ambiciosos. O plantel perdeu alguns elementos com larga experiência, mas vê chegar Jon Busch, guarda-redes que estava no Chicago Fire, Lovel Palmer, lateral esquerdo da mesma equipa da MLS, e Sinisa Ubiparipovic. No entanto, será em Dino Williams, avançado jamaicano que brilhou na equipa local do Montego Bay, que poderá estar a principal surpresa desta equipa.
Jacksonville Armada
A pior equipa da temporada passada tem agora uma referência no banco, com o antigo guarda-redes internacional Tony Meola a apostar forte no talento da USL, a liga norte-americana que dá mais relevância aos jovens jogadores. Matthew Fondy, que marcou 22 golos com a camisola do Louisville City, tentará manter esse ritmo num nível mais alto.
O irlandês Richie Ryan, que vem dos finalistas Ottawa Fury, foi já nomeado capitão pelo novo técnico e poderá ser um elemento fundamental, com a sua experiência a marcar a diferença na equipa.
Miami FC
Equipa nova na prova, com Paolo Maldini envolvido no grupo de investidores e Alessandro Nesta como treinador, apostando forte em entrar na NASL para uma posição de relevo. Os reforços fazem por isso, com Matuzalém e Dario Cvitanich a estarem no topo das referências, juntamente com Wilson Palacios e o jamaicano Dane Richards. No plantel estão ainda jogadores como Rhett Bernstein, com experiência na Europa, e uma série de jovens jogadores nacionais que poderão ajudar Nesta a cumprir os ambiciosos objetivos.
A entrada de uma equipa de Miami na NASL também poderá servir para alimentar a competição com a MLS, que espera que David Beckham organize o seu clube para entrar na prova. Se o Miami FC tiver sucesso, o mercado acabará por ser ainda mais competitivo.
Minnesota United
Pressão enorme para a equipa do Minnesota, que busca um novo título na NASL antes de se mudar para a MLS. Essa pressão cresce com o facto de, no seu atual plantel, ter nada mais do que cinco jogadores que fizeram parte do melhor onze de 2015!
Lance Laing, do FC Edmonton, e Stefano Pinho, dos Fort Lauderdale Strikers, são os principais reforços para um onze que manteve grande parte das suas apostas. Depois chegaram ainda jogadores como o guarda-redes Kristian Nicht, que não deverá roubar, ainda assim, a titularidade a N’Djock, bem como os “MLSers” Damion Lowe, Bernardo Anor, Danny Cruz e Ben Speas. Christian Ramirez, o ponta-de-lança que marcou 12 golos em 30 jogos no ano passado, terá companhia de topo para transformar o United em campeão.
New York Cosmos
O atual campeão mantém a sua linha defensiva, mas viu-se obrigado a mexer no meio-campo e no ataque, sobretudo depois da retirada de Marcos Senna e Raúl. Niko Kranjcar é a atual estrela dos Cosmos, precisando de comprovar que ainda tem futebol para fazer campeões, depois de umas últimas temporadas a sentir a sua estrela a apagar-se na Europa. Para a frente de ataque chegou ainda Jairo Arrieta, que poderá beneficiar de defesas mais acessíveis do que na MLS.
Para dar experiência a este conjunto, haverá ainda Juan Arango e Michael Lehoud, enquanto o luso-americano Carlos Mendes continuará a liderar a linha defensiva. No plantel está também Rovérsio, brasileiro que passou por Portugal. Para o técnico Giovanni Savarese, esta temporada será ainda mais exigente, na tentativa de manter a sua equipa entre as melhores, como a tradição do Cosmos impõe.
Ottawa Fury
Ano ingrato para Paul Dalglish que vê o finalista da temporada 2015 regressar à competição com apenas quatro jogadores que estiveram nessa final. O guarda-redes Peiser, que brilhou em Portugal com a camisola da Académica, é um desses nomes, tal como o defesa-central brasileiro Rafael Alves. Os internacionais canadianos Marcel de Jong e Julian de Guzman são garantia de experiência, enquanto o avançado brasileiro Paulo Araújo terá que comprovar ser mais efetivo na hora de finalizar.
Mauro Eustáquio é um dos jogadores portugueses que marca presença na NASL. Nascido no Canadá, mas com a sua formação feita em Portugal, Eustáquio impôs-se no meio-campo da equipa dos Fury e ambiciona uma chamada à seleção canadiana se mantiver a qualidade exibicional, sendo que tem apenas 22 anos.
Rayo OKC
Outra das equipas novas na Liga, que deixou algumas dúvidas sobre o timing do seu lançamento, mas que entrará na nova época como um dos candidatos a ser campeão. A lista de reforços é impressionante, com o internacional grego Georgios Samaras a ser o nome de maio impacto, mas a chegada de Sebastian Velasquez, do New York City, e de Robbie Findley, do Toronto FC, a também impor respeito.
Na luta pela titularidade na baliza estão o português Daniel Fernandes, que já estava na NASL ao serviço dos San Antonio Scorpios, e Caleb Patterson, que chegou do Gil Vicente. Para além de jogadores com rodagem nesta prova, a influência espanhola pela associação ao Rayo Vallecano também se faz sentir, com três espanhóis a fazerem parte do plantel.
Tampa Bay Rowdies
Um frustrante 2015 para os Rowdies, que depois de uma excelente Spring Season viram tudo se desfazer na segunda metade da fase regular, acabando por falhar as meias-finais. Saiu Thomas Rongen, Stuart Campbell foi promovido a treinador principal e as ambições continuam altas. Tom Heinemann, avançado que chega dos Ottawa Fury, é o reforço que chama mais a atenção, ainda que jogadores como Eric Ávila Junior Burgos ou Walter Ramirez também possam vir a ter papéis importantes no onze dos Rowdies.
Entre os elementos que se mantém no plantel, todo o destaque para Freddy Adu, que vestiu as camisolas do Benfica e do Belenenses, enquanto o búlgaro Georgi Hristov também poderá vir a ser beneficiado pelo aumento de qualidade no meio-campo.
A primeira jornada da competição será disputada já este fim-de-semana.
Agradecimento a Aaron Nielsen (@ENBSports) pela disponibilização de dados estatísticos sobre os plantéis da NASL.