Pascal Dupraz tem um percurso improvável no futebol francês. Aos 53 anos, prepara-se para começar a sua temporada no Toulouse FC, equipa que salvou na época passada, numa reta final impressionante. Mas, antes disso, Dupraz já havia sido uma surpresa, quando aos 30 anos largou a carreira de profissional para regressar ao clube da sua terra, onde jogou como amador e se iniciou enquanto treinador. De forma improvável, fui vendo esse clube transformar-se em potência, sempre consigo ao leme, até se transformar no Évian que jogou a Ligue 1. Sobrevivente de dois ataques cardíacos, um aos 40 anos, outro na semana em que assinou pelo Toulouse, Pascal Dupraz deu uma grande entrevista à France Football esta semana. O mundo pode não estar preparado para ele, mas ele está preparado para enfrentar o mundo.
O milagre e a confiança
Alguns acreditam em milagres. Pascal Dupraz acredita na confiança que tem em si próprio. Foi isso que o fez aceitar o convite do Toulouse, que estava a dez pontos de distância da linha de água a dez jogos do fim do campeonato. Dupraz via os dias tornarem-se longos, em sua casa, depois de ter saído do Évian no início da temporada. O convite também demonstrava que ele era apenas um rapaz da aldeia, podendo ter lugar numa equipa de topo, já que Toulouse é a quarta cidade francesa.
Na primeira reunião com o presidente do clube não quis que este lhe falasse sequer da possibilidade de cair da Segunda Divisão. O objetivo era a manutenção e era isso que ele pretendia conseguir. O seu único receio seria encontrar um balneário partido, sem capacidade de se unir para enfrentar a adversidade. Mas assim que percebeu que não era o caso, teve esperança. Esperança que foi interrompida por um desmaio num treino, logo na primeira semana de trabalho, o que fez colocar em causa a possibilidade de ajudar o clube.
Renascer e vencer
Tendo o presidente assegurado todo o apoio perante a sua situação de saúde e o seu médico assegurado que tinha luz verde para trabalhar, Pascal Dupraz regressou rapidamente ao comando. O seu grande problema, em Toulouse, conforme afirma na entrevista ao France Football, foi conseguir transformar a sua equipa num conjunto com garra e vontade de vencer. “Nos primeiros treinos estava perante um grupo que pensava que era o Barcelona, mas tive que os fazer perceber que, perante equipas mais fortes, um pontapé para as bancadas é uma coisa boa, se fizer sentido”. A verdade é que, para Dupraz, ter personalidade é demonstrar essa vontade em jogo e não querer copiar modelos.
O Toulouse fez o impensável e acabou por conseguir a manutenção, ao bater o Angers por 3-2 na última jornada da Ligue 1. Se fosse necessário mais condimento para esta narrativa, conseguiu-o fora de casa, com um golo aos 80 minutos, marcado por um jogador chamado do banco, Bodiger. Segundo Dupraz, foi o seu pai, falecido há uns meses atrás, quem o ajudou neste jogo. “Veio-me à cabeça a palavra ‘canhoto’ e olhei para o banco e não tinha lá ninguém assim. Afinal, o Bodiger estava a aquecer um pouco mais longe. E foi ele quem marcou o golo que nos salvou”.
Plano para a nova temporada
Consciente de que vão esperar muito mais do Toulouse esta temporada, Pascal Dupraz não vira a cara à luta. Aliás, é essa uma das ideias mais repetidas ao longo da entrevista, onde se assume “farto dos apóstolos do jogo bonito”. Sem contar propriamente com um grande orçamento para reforços, fez chegar alguns jovens para colmatar as saídas do plantel e tem deixado boa imagem nos jogos de preparação, com vitórias frente ao Osasuna e ao Montpellier.
Tudo indica que poderemos ter um conjunto bastante mais ambicioso na tabela classificativa. Trabalhando com os seus jogadores desde o primeiro dia da temporada e com um maior conhecimento das suas capacidades, correr riscos fará parte do léxico do Toulouse. Até porque, para Dupraz, é um prazer jogar este jogo de vida ou morte.
Boas Apostas!