Nick Kyrgios – John Isner (ATP Masters Montreal)
À segunda ronda do Masters 1000 de Montreal Nick Kyrgios voltou a fazer das suas, agora recorrendo a golpes abaixo da linha da cintura. Wawrinka acabou por desistir no terceiro set, dando passagem ao australiano. E agora o bad boy do ténis vai ter pela frente o gigante tranquilo. Ele bem pode fazer o pino em court, John Isner vai continuar a fazer o seu jogo. Se o serviço entrar e Kyrgios insistir no número de se desconcentrar com tudo o que não seja ténis, pode ficar pelo caminho.
A imprensa pode ser implacável com ele mas adora as figuras como Nick Kyrgios. Pessoas assim são uma fonte constante de assunto e esta noite a internet vibrou com o incidente que o australiano protagonizou no encontro com Stan Wawrinka. Numa altura do jogo em que o próprio admitiu que o suíço o estava a irritar, Kyrgios saiu-se com um comentário em linguagem colorida sobre a suposta namorada de Wawrinka – Donna Vedik – e Kokkinakis. Para se tornar viral bastou que o comentário tivesse sido apanhado pelos microfones do recinto. O encontro continuou e Stan, que tinha vencido o primeiro set no tie break e cedido o segundo, acabou por desistir no terceiro parcial devido a dores na zona lombar. Com esta desistência Kyrgios passou à terceira ronda mas hoje ninguém fala do seu ténis (6-7, 6-3, 4-0). O assunto dominante será sempre a atitude.
Eu fui sempre daquelas que insistiu em dar-lhe um desconto, pelo menos recusei-me a entra na perseguição moralista a um rapaz de vinte anos que tem uma quantas reações impróprias e exagera. Mas o comportamento dele ontem foi um passo mais abaixo, denota descontrolo. E o ténis e uma modalidade que tem absoluta necessidade de domínio – tanto ou mais que de técnica e vontade. E denota também o buraco em que o australiano se enfiou. Aos poucos ele vai alienando qualquer apoio que pudesse restar e a paciência para desvalorizar a má-criação vai-se esgotando. Ele tem um problema porque aquela atitude não funciona a seu favor dentro do court. O bad boy tem que estar preparado para levar com as críticas e a animosidade e Kyrgios, no fundo, na sua imaturidade, só quer que gostem dele. Na ronda inaugural o quadragésimo primeiro tenista do ranking eliminou o espanhol Fernando Verdasco (6-3, 4-6, 6-4) e mostrou-se satisfeito por, não tendo jogado o seu melhor ténis, ter conseguido reverter a derrota no segundo set.
Aposto que Lleyton Hewitt vai ter muito trabalho hoje para dar por a cabeça de Kyrgios no lugar, antes do jogo da noite.
John Isner é o adversário ideal para defrontar Kyrgios. O americano é a tranquilidade em pessoa, simpático e que não parece levar-se demasiado a sério. Não é um tipo fácil de provocar e o seu ténis é muito focado. Se o serviço entrar o australiano bem pode fazer malabarismos e recitar poesia satírica, Isner nem vai registar. Para melhorar as suas hipóteses, este é o piso em que o número doze do mundo melhor pode aplicar toda a potência do seu serviço. E ao contrário de Kyrgios, que esteva ausente da competição desde Wimbledom, o norte-americano vem já com uma boa rodagem em pisos rápidos. No início do mês sagrou-se campeão no torneio de Atlanta, batendo Baghdatis por duplo 6-3. Na semana seguinte chegou à final de Washinton, cedendo apenas para o samurai, Kei Nishikori, mas não deixou de dar luta (4-6, 6-4, 6-4). Nas duas primeiras rondas Isner bateu Benjamin Becker (6-4, 6-7, 6-3) e Vasek Pospisil (7-6, 4-6, 6-3).
2015 | Masters de Madrid | Isner | 2 | 6 | 6 | 6 | R16 | |||
Kyrgios | 1 | 3 | 7 | 4 |
Kyrgios e Isner só se defrontaram numa ocasião e a partida caiu para o lado do tenista mais experiente. Foi no Master de Madrid deste ano e o norte-americano venceu por dois sets a um. Ninguém põe em causa as qualidades tenísticas e atléticas do australiano mas não me parece mesmo que estes picos emocionais que se traduzem em fitas o ajudem a ganhar encontros. Se os misseis do americano entrarem em court ele é claramente favorito.