Esta segunda-feira os Ravens denunciaram o contrato que os ligava a Ray Rice e a NFL suspendeu-o indefinidamente. Quando o vídeo do que se passou no interior do elevador foi divulgado pela TMZ fechar os olhos e assobiar para o lado deixou de ser uma opção. Tanto a Liga como Baltimore preferiram acreditar na “versão soft” apresentada pelo running back, que agora comprovadamente caiu por terra. Aparentemente, um abusador mentiu para se safar. Chocante!

Violência doméstica para totós

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Ray Rice foi suspenso

Voltemos ao princípio. A 15 de Fevereiro deste ano, a estrela dos Baltimore Ravens, e a noiva foram detidos na sequência de uma altercação num hotel em Atlantic City. Sob Ray Rice pendem acusações de agressão. São divulgadas imagens do átrio da instalação hoteleira onde se vê Ray a arrastar Janay Palmer, inanimada, para fora do elevador, largá-la no chão e ser interpelado por aquilo que parece ser um funcionário do hotel. Imediatamente, a equipa vem em defesa do seu running back. Falam do seu caracter e de que tudo farão para o ajudar a resolver os problemas familiares. O comissário Goodell abre um inquérito. Logo na altura, a polícia fala da existência de imagens do interior do elevador que mostram Rice a “neutralizar” a noiva.
Ray Rice desculpa-se, em conferência de imprensa, por toda a confusão, rodeado pela mãe, a mulher que tinha agredido e a filha. É todo um programa. Janay Palmer, entretanto promovida ao estatuto de esposa, pede ela própria desculpas “pelo papel que desempenhou em toda esta triste situação”, palavras essas reproduzidas nas redes sociais oficiais dos Ravens. Este virar o bico ao prego, este responsabilizar a vítima pelo crime, não tem nada de casual ou inocente. É uma das justificações básicas dos criminosos. Para elevar ainda mais o nível – estou a ser irónica, claro – o comissário não viu nada de errado em colocar Rice e a esposa, frente-a-frente, para que ela corroborasse a versão dele. A narrativa de Rice afirma que durante uma discussão mais animada ele se limitou a defender do ataque da mulher e que não se terá apercebido da força com que o fez. Parêntesis: Rice não é dos maiores nem dos mais possantes mas continua a ser um jogador de futebol americano, um dos desportos fisicamente mais exigentes. Haveria mil e uma maneiras dele segurar a senhora, limitando a supostas investidas, sem a deixar inconsciente. Alguém acredita nisso?

O pior cego é o que não quer ver

Aparentemente, Jim Arbaugh e toda a estrutura dos Ravens acreditaram. Assim como o comissário Goodell, que resolveu punir Rice com dois jogos de suspensão por violar a política de conduta pessoal da Liga. Só como referência, Josh Gordon, o receiver dos Cleveland Browns, vai estar um ano de fora por ter sido apanhado no segundo teste positivo para substâncias proibidas, desta vez marijuana. A indignação popular foi enorme e a NFL, na figura de Roger Goodell, foi obrigada a reconhecer que não passou a mensagem correta ao ser tão benevolente com um caso de violência doméstica, um cancro que afeta toda a sociedade. Na semana passada foram finalmente aprovadas alterações aos regulamentos da Liga que vão passar a ter mão pesada nestas situações, até porque Rice está longe de ser o único envolvido em histórias destas. Mas na madrugada passada a TMZ empurrou o universo da NFL contra a parede. Tapar o sol com a peneira não é opção, as imagens estão aí, a correr os balneários e o mundo. Impõe-se uma tomada de decisão e Rice foi sacrificado. Mas só porque se tornou insustentável defendê-lo.

“E se fosse a vossa filha?”

A verdade é que Ray Rice não é um jogador qualquer, se fosse teria sido mais fácil. É um dos melhores running backs da Liga, um elemento que faz a diferença. E o desporto, não só a NFL, tem destas coisas. Apesar do moralismo balofo e hipócrita de alguns regulamentos, à clubite só interessa ganhar. Tudo o resto é secundário. Mas não devia e talvez agora as coisas mudem um bocadinho. Foram várias as atuais e antigas figuras do futebol americano a manifestar indignação e desprezo pelos atos de Rice e a expressão mais usada. Há até uma petição a circular para levar a NFL a banir permanentemente o jogador de alinhar na Liga. Agora ele é radioativo mas estaremos cá para ver a tentação de alguns treinadores quando a época estiver na fase decisiva.