Marco Silva não resiste à crise de resultados. Apesar de ainda se manter a meio da tabela, o Watford somou cinco pontos nas dez últimas jornadas. A família Pozzos toma a iniciativa de substituir o português por Javi Gracia, alegando que o foco de Silva não é o mesmo desde o Everton se mostrou interessado nos seus serviços.

De bestial a besta em menos de dois meses

Ao fim de oito meses o treinador foi dispensado do comando do Watford.

Ao fim de oito meses o treinador foi dispensado do comando do Watford.

O Arranque do Watford nesta edição da Premier League esteve de tal modo acima das expetativas que a certa altura a equipa era apontada aos lugares europeus. Justiça lhe seja feita, o treinador português teve sempre muito cuidado em repetir que a luta dos Hornets era pela manutenção e que essa classificação inicial não correspondia à realidade do clube dentro duma liga tão exigente. Atá ao início de dezembro Marco Silva era um dos técnicos mais louvado em Inglaterra, pelo seu trabalho à frente de um plantel que tinha diversas fragilidades. A forma como o Watford fazia frente a equipas como o Liverpool (3-3), Arsenal (2-1), Chelsea (4-2) e Tottenham (1-1) não passou despercebida. Mas o facto é que o Watford amealhou apenas cinco pontos nas últimas dez jornadas (1V/ 2E/ 7D). Mesmo que se, tecnicamente, se mantenha na metade superior da tabela, em igualdade pontual com o West Ham, tem apenas quatro pontos de separação para a zona de despromoção.

Para mim, os sinais de alarme começaram quando se percebeu a fragilidade defensiva da equipa. Com quarenta e quatro golos sofridos, só o Stoke City fica pior na radiografia da Premier League. Todos os estudos estatísticos estão de acordo que é a defesa que segura as equipas na Premier League, essa é a grande amarra que as sustenta neste campeonato.

Ambição é faca de dois gumes

O ex-treinador do Málaga é o nono treinador contratado pelo Watford em cinco anos e meio.

O ex-treinador do Málaga é o nono treinador contratado pelo Watford em cinco anos e meio.

Com os louvores vieram também as tentações. Em novembro, depois de se livrar de Ronald Koeman, o Everton terá feito aproximações insistentes aos representantes de Marco Silva e o treinador manifestou ao clube a sua vontade de seguir para Goodison Park. A direção do Watford utiliza esse facto como desculpa, dizendo que desde aí o foco deixou de ser o mesmo e que os resultados da equipa refletiam isso mesmo. Não podemos esquecer o historial da família Pozzos com os técnicos – Javi Gracia, o senhor que se segue, será o nono a ser contratado no espaço de cinco anos e meio – nem que o desejo de se juntar a um clube histórico como o Everton é absolutamente legítimo por parte de Marco Silva. Mas o trajeto de Marco Silva, desde o Sporting e passando pelo Olympiacos, se fez de certas posições de força, que lhe valeram alguma aura de conflituoso e precipitaram a saída desses clubes. A imprensa inglesa já fala no excesso de ambição que terá levado à queda do português e esse é um rótulo que pode prejudicar a sua imagem para potenciais interessados nas suas qualidades como treinador.

Seria injusto terminar sem sublinhar uma ideia que Silva deixou depois da derrota de sábado frente ao Leicester (2-0). Mesmo um plantel de peso, vamos dizer do Manchester United, por suposição, teria muita dificuldade em apresentar resultados se se visse privado de seis a sete elementos dos mais capazes ao longo de várias semanas. Essa foi a realidade do Watford, quase desde o início da temporada. Will Hughes, o médio que estava a ser tão influente na equipa é uma das baixas de longa duração, mas também o é o experiente Miguel Britos ou os promissores Younes Kaboul e Nathaniel Chalobah. E quando toda a gente estranha a seca de golos de Richarlison esquece que esta equipa está dependente de um avançado de vinte anos, que está a fazer a primeira época no futebol inglês.

Boas Apostas!