Portugal qualificou-se para os oitavos com o sofrimento a que nos vamos habituando. A maravilhosa trivela do Mago Quaresma adiantou a equipa no marcador e se Cristiano Ronaldo convertesse o penálti podia-nos ter poupado ao sufoco final. Carlos Queiroz e o VAR fizeram questão de protagonismo. Agora é o Uruguai que aguarda a seleção portuguesa, que parece ter caído para o “lado mau” do Campeonato do Mundo.

Oitavos à vista

O aspeto francamente positivo é que Portugal está nos oitavos de final. A gemer e a andar – onde é que já vimos isto antes – o conjunto comandado por Fernando Santos soube aguentar as adversidades e gerir as emoções fortes dos momentos decisivos.

Os iranianos iam ser oposição dura, já se sabia. Nunca se tinham visto nesta contingência de conseguir surpreender e passar a fase de grupos de um Mundial. O selecionador português que os lidera espremeu tudo o que podia da narrativa dos “indesejáveis”, do David contra Golias, que, do ponto de vista motivacional é muito eficaz.

A trivela de Quaresma, ainda antes do intervalo, foi essencial para estabilizar o jogo português.

A trivela de Quaresma, ainda antes do intervalo, foi essencial para estabilizar o jogo português.

Se podia ser com menos sofrimento? Podia, mas não era a mesma coisa. Até íamos estranhar. A trivela maravilhosa de Ricardo Quaresma, esse rasgo de génio que estilhaçou qualquer abordagem para a qual os iranianos estivessem de sobreaviso, deu, por algum tempo, a ideia que podia ser diferente, o sufoco final era evitável. As dificuldades que a Espanha estava a sentir frente aos marroquinos também davam uma falsa sensação de estar tudo controlado.

No início da segunda parte Cristiano Ronaldo teve nos pés a possibilidade de acabar com o assunto mas, claramente, não era a noite do capitão português. Escapar a essa ameaça deu novo fôlego ao Irão, que voltou a acreditar que podia bater os lusos.

Se já antes a pressão iraniana sobre o árbitro era tremenda e cada bola era disputada como se fosse a última, isso só se acentuou. A suposta mão na bola de Cédric, já nos descontos, e o golo que daí resultou, foi a última gota neste ascendente.

O “lado mau”

Aos noventa minutos do jogo de Portugal, a equipa nacional estava em primeiro lugar do Grupo B, alinhado para defrontar a Rússia nos oitavos de final. Em Kaliningrado, La Roja perdia com Marrocos. O golo de Iago Aspas, inicialmente anulado por fora de jogo, associado ao penalti atribuído e convertido pelo Irão, veio virar tudo de pernas para o ar.

Um penálti falhado e um lance que lhe podia ter custado os oitavos de final: ontem não foi dia para CR7.

Penálti falhado e um lance que lhe podia ter custado os oitavos de final: ontem não foi dia para CR7. Acontece aos melhores.

A equipa das Quinas mantém-se em prova na Rússia mas agora terá como adversário da próxima eliminatória o Uruguai. Se há dois anos, em França, o golo da Islândia nos descontos nos empurrou para o lado bom do sorteio, aquele em que o caminho não era atravessado por nenhum dos grandes favoritos, agora acontece o oposto.

Para já há que ultrapassar La Celeste de Luis Suárez e Cavani, orientada pelo experiente Tabárez. Se essa etapa for superada, então Portugal pode apanhar pela frente a França, o Brasil ou a Alemanha.

VAR e Queiroz com protagonismo

Carlos Queiroz e a arbitragem insistiram em ser protagonistas na jornada de ontem. O VAR continua a causar polémica, às vezes parece que a FIFA quer sabotar a sua utilização. Primeiro, porque os árbitros, vários com competências bastante questionáveis, não estão à vontade com a utilização do recurso. Depois, porque faltam regras claras e transparência nas decisões. E por fim, as idas e vindas do árbitro, a décalage entre a decisão sobre o lance e as várias comunicações também não ajudam.

O selecionador do Irão mostrou, mais uma vez, a encantadora personalidade – leia-se arrogante, quezilenta, cínica – que lhe granjeou amigos por onde passa, ao longo da carreira. Não se trata de querer vencer ou de defender a sua dama, no caso a seleção iraniana. Isso, no calor do momento, é humano. Já incitar a bancada com gestos de insinuação sobre o VAR, ir bichanar coisas aos ouvidos de jogadores adversários que se preparam para entrar e pressionar o quarto árbitro, já é ir um pouco longe de mais. Depois os queixumes no final, como se tivesse sido roubado, e a insistência na expulsão de Cristiano Ronaldo, é só para alimentar protagonismos e chegar às capas de jornais.

Boas Apostas!