A sul La Liga é dominada pelo signo de mudança. Granada, Málaga, Sevilla e Bétis estreiam novos treinadores. O Granada foi vendido e tem Paco Jémez no banco: animação garantida. Juande Ramos regressa à Liga Espanhola e os Boquerones estão de novo autorizados a sonhar com a Europa. Chegar lá são outros quinhentos. Um passo de cada vez. Mas o que todos querem saber é se Sampaoli terá tempo para refazer o Sevilla pós-Emery.
Paco ao ataque
Vai ser um ano complicado para o Granada. O clube foi comprado por investidores chineses e as gentes da casa estão desconfiadas. O signo é de mudança mas há motivos para ficar entusiasmado. Paco Jémez mudou-se par o Nuevo Los Cármenes, logo a animação está garantida. As equipas do carismático treinador só sabem jogar no limite e os golos aparecem pela certa, sejam próprios ou alheios. Tito foi o único que Jémez trouxe consigo do Rayo Vallecano. O reforço mais recente é Gáston Silva, um uruguaio de vinte e dois anos que tanto pode alinhar a central como no lado esquerdo da defesa. Vem cedido pelo Torino até ao fim da época. Mas as aquisições mais excitantes são, como não podia deixar de ser, para acrescentar poder de fogo. Jeremie Boga e Victorien Angban são dois médios de dezanove anos cedidos pelos Chelsea. José Angulo é o avançado contratado ao Independiente del Valle, equipa que este ano chegou à final da Libertadores. O equatoriano vai poder realizar o sonho de jogar numa das grandes ligas europeias.
Málaga autorizado a sonhar com a Europa
O Málaga volta a sonhar com as competições europeias. Essa é a principal mudança entre os Boquerones. Estão a terminar os quatro anos de afastamento decretados pela UEFA, pela violação do fair-play financeiro e na próxima época o impedimento deixa de existir. A equipa caiu a pique desde que o castigo começou e o desinvestimento foi evidente. Mas agora volta a ser uma possibilidade. Claro que chegar aos lugares europeus tem o que se lhe diga. A maior perda para a equipa neste defeso foi a de Javi Gravia, que se deixou seduzir pelos rublos do Rubin Kazan. Para o seu lugar o Málaga foi buscar Juande Ramos. Experiente ele é. Foi com ele que o Sevilla ganhou a Taça UEFA em 2006 e 2007. Mas está há dois anos sem clube, depois de passar quatro anos com o Dnipro.
Paciência com Sampaoli
Vai ser preciso paciência para o Sevilla de Jorge Sampaoli. Não sei se a vai ter mas é da mais elementar justiça. O argentino assume o lugar vago de Unai Emery e, com ideias muito definidas quanto ao futebol que as suas formações exibem, a transição não será nem imediata nem serena. E começar logo a julgá-lo por perder a Supertaças, europeia e espanhola, para Real Madrid e Barcelona é um disparate. Emery deixa o Sanchéz Pizjuán tricampeão da Liga Europa mas o arranque das temporadas nunca foi pacífico. Obrigado todos os anos a vender jogadores e reconstruir, o clube nem sequer o pode exigir. Mais uma vez é assim. Além do treinador, que se mudou para o PSG e levou Krychowiak com ele, saíram também Koke, Kevin Gameiro e Éver Banega, para referir apenas titulares indiscutíveis. Há entradas bastante promissoras para cobrir os ocos. Kraneviter e Vietto vêm emprestados pelos Colchoneros; Ben Yedder, Sarabia, Kyotake, Mercado e Paulo Henrique Ganso são acrescentos de qualidade. Ainda não são uma equipa, mas há que dar tempo a Sampaoli.
O que já ficou provado é que ele vai jogar de igual para igual com qualquer adversário, mesmo que seja a melhor equipa do mundo. Será fiel aos seus princípios e, sinceramente, não sei se a abordagem sensata vai dar melhores resultados. Mas quando os jogadores se forem conhecendo melhor, quando o ritmo das transições aumentar, esta vai ser uma equipa que dará gosto ver jogar. Pode não chegar para vencer os três grandes de Espanha mas para todos os outros será um opositor de respeito.
Estabilizar para poder olhar em frente
A vida esteve malparada para o Real Bétis de Sevilha na época em que regressou ao escalão principal de Espanha. Dezembro e janeiro foram meses realmente complicados para os Verdiblancos e a substituição de Pepe Mel pelo responsável da equipa B, Juan Merino, demorou a surtir efeito. O resultado final acabou por ser bastante positivo – décima posição – mas o clube não se acomodou. O Bétis quer consolidar a sua posição na primeira liga e começar a sonhar com o futebol europeu. A contratação de Gustavo Payet pode ser a primeira etapa desse plano e a primeira ordem de trabalhos foi arrumar a casa, despachando quem não servia.
À data de hoje o clube sevilhano tem doze caras novas no plantel. Mas as que se destacam são, sem dúvida, as de Musonda Jr., Nahuel e Sanabria, todos entre os dezanove e vinte anos de idade. Os dois primeiros vêm cedidos pelo Chelsea e Villarreal, respetivamente; o último foi contratado ao Roma. Com tantas peças novas para encaixar é natural que a equipa precise de algum tempo para atingir o seu potencial. Mas Poyet diz que a equipa termina a pré-temporada sabendo o que tem a fazer e com um entrosamento crescente. Não há desculpas para não entrar na Liga com o pé direito.
O Prince de Las Palmas
Repetir o décimo primeiro lugar da época passada seria muito bom para o Las Palmas. A equipa que Quique Setién assumiu em outubro de 2015 conseguiu endireitar-se e terminar o campeonato numa posição bem mais confortável do que o esperado. O calcanhar de Aquiles da UD foi o desequilíbrio entre a defesa e o ataque: a equipa marcou apenas quarenta e cinco golos na liga, largamente ultrapassados pelos cinquenta e três concedidos. Nesse sentido, a preocupação no mercado de verão foi reforçar as posições defensivas: um brasileiro para direita – Míchel (Almeria) – um português para a esquerda – Hélder Lopes (Paços de Ferreira) – e um uruguaio de vinte anos para o centro – Mauricio Lemos (Rubin Kasan). Mas a contratação mais mediática é mesmo Kevin-Prince Boateng. No Las Palmas o ganês têm tudo para viver um a reforma dourada.