O último Grand Slam da temporada foi alvo de muito interesse e especulação mas ninguém – nem os próprios – podia ter antecipado a final a que assistimos. Kei Nishikori diante de Marin Cilic tem já o seu lugar nos anais do ténis. Desde 2005, em Wimbledon, que não se viam dois estreantes a disputar o título de um Major. Se estaremos perante a tão falada renovação da elite do ténis mundial, ou o que esta final pode significar para a carreira dos finalistas, só podemos especular. Certo é que 2014 vai ficar marcado por uma imprevisibilidade que há muitos anos não se sentia.

A obsessão com a novidade

Marin_Cilic

Marin Cilic exibe o troféu do US Open

Fico sempre incomodada com as conversas de “são sempre os mesmos” ou de como o “sangue novo” é importante para a modalidade. Parece que o ténis é preso por ter cão e preso por não ter. Se são sempre os mesmos quatro, cinco, suspeitos do costume a marcar presença nas finais e ganhá-las, é uma chatice. Se nenhum deles está presente, também não é bem a mesma coisa. São aquelas ideias feitas de gente aborrecida, que segue o desporto ou qualquer área de interesse para ter alguma coisa a dizer, não porque o aprecia. Incomoda-me porque não entendo. Nunca fiquei aborrecida ao ver Nadal desafiar o domínio de Federer, Djokovic a afirmar-se como a besta negra do espanhol, Murray a libertar-se de todas as limitações psicológicas e vencer Wimbledon e os Jogos Olímpicos de enfiada. Não há tédio possível em assistir a maratonas de cinco sets como o duelo ao sol de Rafa e Novak no Open da Austrália de 2012. Cansava só de assistir, sentada no sofá. Acho que estamos, nós os que seguimos o ténis, mal habituados. Durante a última década e meia temos tido o privilégio de acompanhar três sobredotados – Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic –, indiscutivelmente três dos melhores tenistas da história da modalidade, a rivalizar entre si. Um dia, que não está muito longe, vamos ter saudade.

A qualidade é sempre bem-vinda

Não me entendam mal, eu também me entusiasmo com o aparecimento de novos talentos. Ver alguém da nova geração avançar e dar a cara, querer bater-se com os do topo, é excelente, desde que tenham argumentos para se aguentar. Por isso valorizo e acompanho a evolução de Raonic, Dimitrov, Nishikori, Tomic ou Kyrgios com atenção. Não porque são “caras novas” no circuito mas porque têm potencialidade e qualidades. E acredito que não há melhor estímulo para uma modalidade do que crescer a ver os melhores, primeiro a tentar imitá-los e depois a procurar superá-los.

Em onze anos, os três grandes venceram trinta e sete dos quarenta e quatro títulos do Grand Slam – Federer dezasseis, Nadal catorze, Djokovic sete. Restam sete, distribuídos por Gastão Gaudio (Roland Garros 2004), Marat Safin (Open da Austrália 2005), Juan Martin del Potro (US Open 2009), Andy Murray (US Open 2012, Wimbledon 2013), Stanislas Wawrinka (Austrália 2014) e, agora, Marin Cilic (US Open 2014). Este ano ninguém conseguiu conquistar mais do que um Major, o que é significativo mas não inédito. Nem sequer temos que recuar muito para isso. Há dois anos a ordem foi Djokovic, Nadal, Federer e Murray. Mas sosseguem os coveiros do Top-4. Isto não é um fim de ciclo. Talvez, e eu sublinho talvez, só para o suíço. Mas Nadal e Djokovic, com vinte e oito e vinte e sete anos, respetivamente, ainda ténis para dar e vender, por muitos e bons anos, assim o permita a sua condição física.