Numa semana complicada do ponto de vista político, os adeptos ingleses agarram-se com unhas e dentes ao sonho do título no Mundial. A Inglaterra demorou a embarcar no projeto de Southgate mas parece reconciliada com a seleção. Este grupo de jovens jogadores, sem estrelas, faz acreditar que desta vez pode ser diferente. E eles dizem-se preparados para dar tudo para ultrapassar a Croácia e agarrar a oportunidade de um avida. Só Wimbledon não se deixa afetar pelo entusiasmo nacional.
Só o futebol lhes vale
Esta semana os ingleses estão a levar com a visita de Trump e várias deserções de ministros do governo de May em desacordo com as negociações do Brexit. Bem precisam de um escapezinho. O sonho do título cai que nem ginjas.
Como alguém que acumulou experiências dececionantes, a Inglaterra resistiu bastante a entusiasmar-se com este projeto da seleção. Eram muito jovens, as qualificações tinham sido fáceis, o próprio Gareth Southgate estava associado a um trauma nacional, e não havia exatamente grandes estrelas que pudessem catapultar o conjunto. Não era difícil encontrar-lhe senãos. E ainda havia aquelas experiências dececionantes, umas mais longínquas e outras mais recentes, em que tinham tido entrada de leão e saída de sendeiro. A superação dos penaltis, nos oitavos de final, foi um ponto de virarem. Exorcizou ou fantasma persistente. E nos quartos de final voltou a ficar evidente que havia uma vibração diferente. Desta vez, o futebol podia regressar a casa.
Coletivo acima do individual
Harry Kane lidera a lista dos melhores marcadores, com mais dois que Lukaku, outro que ainda está na corrida. Bisou na estreia, frente à Tunísia, fez um hat trick ao Panamá e voltou a marcar de penálti à Colômbia. É forte candidato a vencer a Bota de Ouro, sendo que o último inglês a estar nesta corrida foi Gary Liniker. Mas o avançado do Tottenham não está interessado em nada disso. Claro que o prémio individual seria importante mas o sonho é levantar o troféu do Mundial. E se para isso for preciso lutar, fazer assistências e não marcar, Kane diz-se completamente disposto a isso.
Os adeptos começam a perceber a diferença e a aderir aos espírito de grupo. Esta seleção não vive dos seus craques – não há um Liniker, um Beckham ou um Rooney – mas sim de uma ética de trabalho, de quem está pronto para ir à luta e dar a cara. As figuras que mais se têm destacado, Kane e Pickford, por exemplo, não cresceram a ouvir dizer que eram os melhores do mundo. Bem pelo contrário. Tiveram que ultrapassar o excesso de peso, a estatura abaixo dos padrões exigidos. Aos vinte e quatro anos já passaram por todas essas experiências de superação.
Gareth Southgate fez questão de incluir um louvor a Roy Hodgson no rescaldo da passagem à final. Lembrando que se o antigo selecionador não se tivesse atravessado para dar a oportunidade aos mais jovens na convocatória do Euro 2016 agora eles não teriam a experiência dos grandes torneios para saber lidar com as situações mais exigentes.
Wayne Rooney, durante aparições públicas no novo estádio do DC United, para onde se mudou, não deixou de louvar a extraordinária campanha da seleção inglesa, dizendo que desejava aos jogadores e a Southgate, que o estão a encher de orgulho, toda a sorte do mundo.
Só a direção do All England Tennis Club não se deixa afetar pela euforia nacional. Mesmo que a Inglaterra vá à final do Mundial, o jogo do título masculino de Wimbledon mantém o horário que a tradição estipula: arranca às duas da tarde e como tal ainda estará a decorrer quando os finalistas entrarem em campo na Rússia, às quatro.