Hungria – Bélgica (Euro 2016)

De todos os jogos dos oitavos-de-final do Euro 2016, este é aquele que mais se parecerá com uma caixa de Pandora. A Hungria já foi surpresa na fase de grupos, pelos resultados, mas sobretudo pela sobriedade tática que apresenta, com os seus jogadores a valerem muito mais neste conjunto do que por aquilo que contarão enquanto individualidades. Já a Bélgica apresenta uma visão contrária, capaz de cumprir com o esperado em termos de resultados, mas sempre com muitas dúvidas no que toca à sua organização. A solução individual e o à-vontade em transição rápida escondem, muitas vezes, um problema maior que, perante uma equipa que lhes deixará, certamente, maior iniciativa, os poderá fazer, uma vez mais, “encravar”.

A Hungria é a grande sensação do Europeu, vencendo o grupo onde era esperado ser mera figurante, avançando numa prova para a qual parecia ser uma espécie de convidado ignorado. Começou logo no primeiro jogo por ultrapassar uma apática Áustria, revelando aquelas que são as suas forças – uma defesa que consegue manter o perigo afastado da área, um meio-campo que conjuga a qualidade técnica de Gera com a juventude e acerto de Nagy, uma linha mais adiantada onde Kleinheisler é uma espécie de pequeno maestro para as aventuras de Dzsudzsak mais perto da área. Depois, como referência, Szalai, um homem que voltou aos golos em pleno Euro, demonstrando porque é que, neste conjunto, o coletivo é mesmo muito superior à soma das suas partes. É verdade que Bernd Storck tem adaptado as suas escolhas táticas aos adversários, ao mesmo tempo que algumas das suas peças podem começar já a acusar desgaste, mas tal como se viu perante Portugal, o conjunto húngaro não tem agora nada a perder. Joga pelo prazer de enfrentar os prognósticos e isso acaba por torná-lo num adversário bem imprevisível. É com isso em pensamento que esta seleção entrará em campo, segura de que poderá manter-se, por mais uns dias, em terras de França.

Onze Provável: Kiraly – Lang, Juhasz, Guzmics, Kadar – Gera, Nagy – Lovrencsics, Kleinheisler, Dzsudzsak – Szalai.

A Bélgica deixou uma ténue imagem daquilo que se perspetivava para a sua entrada no Euro, quando perdeu com a Itália e foi totalmente subjugada táticamente. Isso obrigou a mexidas no onze da Marc Wilmots, que teve perante a República da Irlanda a possibilidade de jogar boa parte do encontro em transição, o que facilita, por assim dizer, a vida a um conjunto que não terá  a organização como seu ponto forte. A existência das individualidades ultrapassa, e muito, aquilo que a Bélgica vale como equipa e, num panorama competitivo de menor pressão, como se verá do lado do quadro em que estão inseridos, alimenta-se agora a esperança de poder chegar longe. Moussa Dembelé apresenta alguns problemas físicos, mas isso não deverá ser impeditivo da sua utilização. A expetativa é que depois de uma vitória perante a Suécia, mesmo num jogo em que se voltou a pressentir algum cinzentismo, a aposta se mantenha num onze que visa, acima de tudo, dar espaço para os craques decidirem.

Onze Provável: Courtois – Meunier, Alderweireld, Vermaelen, Vertonghen – Witsel, Dembelé – Ferreira-Carrasco, De Bruyne, Hazard – Lukaku.

A última vez que a Hungria venceu a Bélgica foi em 1958, tendo perdido todos os últimos quatro encontros por dois ou mais golos de diferença.

Com a seleção húngara a demonstrar que o historial não tem nada a ver com o presente neste Euro, a Bélgica não se deverá fiar em encontros passados, antes encontrar uma resposta para ultrapassar uma equipa que respira confiança e surge sem responsabilidade nesta fase da prova.