Dois jogos, duas vitórias, quatro golos marcados e a baliza inviolada. Podia ser o registo de uma dos candidatos ao título mas não, é o do Huddersfield Town. Só o United de Mourinho fez melhor até ao momento. Eu sei que é muito cedo mas David Wagner e os seus Terriers foram rapidamente descartados por todos os analistas, que os consideravam o melhor candidato a regressar ao Championship, no final da temporada. Ainda é uma forte probabilidade mas pelo menos estes estão a dar luta.

Conte saca coelho da cartola

Vários jogos e equipas podiam servir de destaque para a segunda jornada da Premier League. Conte improvisou um novo sistema para responder às ausências de Cahill e Fàbregas, com David Luiz à frente dos centrais e Willian atrás do ponta de lança, que foi Morata. Com este coelho tirado da cartola pelo técnico italiano o campeão em título conseguiu uma vitória em casa dos Spurs (1-2). Ou então a exibição e triunfo assertivo do Manchester United na deslocação a Swansea (0-4), numa tarde em que Paul Pogba brilhou. Já para não falar no golo duzentos de Wayne Rooney e do renascimento do ex-Red Devil agora que regressou a casa e pode ser a figura decisiva do seu clube de coração. Sterling acabou por conseguir empatar a partida e o City saiu de Goodison Park com um ponto. Mas estas equipas serão motivo de frequentes destaques ao longo da temporada. Incontornável, nesta altura, é o arranque do Huddersfield Town no campeonato, de volta ao primeiro escalão ao fim de quarenta e seis anos. Dois jogos, duas vitórias, quatro golos marcados e a baliza ainda inviolada. Só o United fez melhor até agora.

Terriers não largam o osso

O avançado de vinte e dois anos do Benin foi a contratação recorde dos Terriers e já está a render.

O avançado de vinte e dois anos do Benin foi a contratação recorde dos Terriers e já está a render.

Há duas temporadas o Huddersfield Town terminou a época na décima nona posição. No ano seguinte, com a entrada em cena do treinador David Wagner, terminou em quinto lugar, e depois de sobreviver aos play-offs de acesso, sem vencer uma partida dos mesmos, garantir a subida. Um momento histórico, já que os Terriers se viam arredados da primeira divisão há quase cinco décadas. Naquele exercício muito habitual de antecipar as temporadas, os Terriers foram quase unanimemente considerados os mais fortes candidatos a regressar ao Championship. Mas o clube não viu esse desfecho como uma inevitabilidade. Tratou de ir ao mercado de verão cedo, começando por transformar alguns dos empréstimos da época anterior em aquisições permanentes. Foi o que fez com Aaron Mooy, que se transferiu a título permanente do Manchester City, e Elias Kachunga, comprado ao Insgolstadt. Kasey Palmer manteve-se, cedido pelo Chelsea. Houve investimentos inteligentes, sempre dentro dos constrangimentos orçamentais de um clube modesto. Foram buscar Zanka ao Copenhaga, Tom Ince ao Derby County e Steve Mounié ao Montpellier, três elementos de qualidade. E não se arrastaram no mercado, dando assim tempo durante o verão para que os novos jogadores se integrassem na equipa e no estilo de pressão alta que Wagner professa.

Jogar com pés e cabeça

Aaron Mooy já tinha sido um elemento estrutural na época passada mas a Premier League está-lhe a fazer bem.

Aaron Mooy já tinha sido um elemento estrutural na época passada mas a Premier League está-lhe a fazer muito bem.

Na jornada de abertura o Huddersfield foi ao tereno do Crystal Palace vencer por três a zero, um resultado que não deixa espaço a ambiguidades. Mounié fez uma dobradinha na estreia na Premier League. E no passado fim de semana a equipa defrontou em casa o Newcastle, o campeão da segunda divisão. Numa partida de duas equipas muito batalhadoras, Mooy não se limitou a marcar o único golo da partida. Foi o elemento em destaque ao longo de todo o encontro. Este australiano tem inteligência, visão de jogo, e toque de bola para melhorar os companheiros que o rodeiam.

Eu sei que ainda é muito cedo. Não faltam exemplos de equipas que começaram o campeonato ao rubro e acabaram por desmoronar. Mas essa já seria a expetativa para os Terriers. O facto é que Wagner criou um ambiente de cumplicidade e entusiasmo no Huddersfield. A equipa tem um espírito muito coeso, os adeptos identificam-se e estão encantados com o estilo de jogo. Treinador, CEO do clube e diretor do futebol parecem estar em sintonia, o que é sempre um excelente indicador. Eles sabem que a despromoção é o cenário mais provável mas estão dispostos a trabalhar de forma inteligente para evitar esse desfecho.