36 anos depois, a seleção peruana está de volta à fase final de um campeonato do mundo. Os comandados de Ricardo Gareca superaram a sempre difícil fase de qualificação da zona sul-americana e carimbaram o passaporte para a competição de seleções mais importante do planeta, contexto em que não marcavam presença desde os tempos do célebre Teófilo Cubillas.
Sem histórico recente em termos de participações em fases finais de campeonatos do mundo, a seleção peruana teve a sua era dourada entre 1970 e 1982, importando destacar o desempenho no mundial de 70, no México, competição em que atingiu os quartos-de-final. Na Rússia, a ordem é para desfrutar.
Apuramento até às últimas consequências
Depois de ter terminado o grupo de qualificação da CONMEBOL no 5º posto com os mesmos 26 pontos que a congénere do Chile, a equipa peruana teve que disputar um play-off com a Nova Zelândia, representante da zona OFC. Após um empate sem golos na Oceânia, o Perú venceu em casa por duas bolas a zero com golos de Jefferson Farfán e Christian Ramos e garantiu o apuramento que ambicionava.
O ano civil de 2017 foi ótimo para a seleção peruana que não perdeu nenhum jogo, quer oficial, quer amigável. Os comandados de Ricardo Gareca não perdem há 12 jogos – melhor série desde que o argentino está no cargo – e venceram os dois encontros amigáveis que disputaram este ano frente a Croácia (0-2) e Islândia (1-3). Antes da estreia na Rússia, a seleção peruana ainda disputará dois amigáveis frente às seleções da Escócia e da Arábia Saudita.
O apuramento peruana e os resultados recentes não são “obra do acaso”. A seleção peruana evolui a olhos vistos nos últimos dois anos e é hoje “muito mais equipa” do que aquilo que era no início da era Gareca. A paciência dos responsáveis peruanas surtiu os seus efeitos.
A incógnita Guerrero
O início do Mundial aproxima-se a passos largos e o avançado Paolo Guerrero ainda não sabe se poderá disputar a competição. Suspenso pela FIFA por um período de 14 meses na sequência de um controlo anti doping, Paolo Guerrero continua a garantir que está inocente e a lutar para marcar presença no Mundial 2018. Os adversários do Perú na fase de grupos já solicitaram à FIFA a despenalização do jogador que diz ter sido vítima de uma cilada num hotel argentino. O avançado peruano está na Suíça a aguardar a decisão do recurso para saber se pode ou não viajar para a Rússia com a sua seleção.
Na ausência de Guerrero, Jefferson Farfán será o “porta estandarte” peruano. O avançado móvel sagrou-se campeão russo ao serviço do Lokomotiv de Moscovo e é um dos atletas mais mediáticos de uma seleção que não conta com grandes estrelas. Na lista elaborada por Ricardo Gareca constam dois “portugueses”: André Carrillo, jogador cujo passe pertence ao Benfica, e Paolo Hurtado, avançado que na última época vestiu as cores do Vitória Sport Clube.
Gareca e a ironia do destino
O apuramento peruana sob as ordens de Ricardo Gareca tem uma feição muito poética. Permita-nos recuar no tempo.
Monumental Núñez, Buenos Aires, fase de apuramento para o Mundial 1986, no México. O Perú precisa de vencer na capital argentina garantir o acesso ao Mundial 2018 e as pretensões da equipa “inca” esbarram na pessoa de… Ricardo Gareca, internacional argentino que aponta o golo do empate a duas bolas e sentencia o destino do adversário.
Gareca “pendurou as botas”, fez carreira no Brasil, na Argentina e na Colômbia, abraçando o projeto proposto pela federação peruana em 2015. Dois anos depois, enquanto seleccionador, devolve o Perú à fase final de um campeonato do mundo, passando de “carrasco” em 1986 a herói nacional em 2018. Ele há coisas…
Expectativas
A seleção peruana integra o grupo C juntamente com França, Dinamarca e Austrália. A equipa gaulesa não deverá sentir dificuldades para vencer o grupo, enquanto os dinamarqueses são os principais candidatos a seguir em frente a partir da segunda posição, mas desconsiderar o papel que o Perú poderá assumir nesta luta pelo apuramento é um erro que os restantes integrantes deste grupo não podem cometer.
Boas Apostas!