Foi uma longa travessia do deserto, mas a seleção egípcia está de volta à principal competição do futebol internacional com claras ambições de fazer figura. Desde 1990 que o Egito não atingia a fase final, sendo que, pelo meio, foi quatro vezes campeão africano, entre 1998 e 2010. Posteriormente, a crise política no país acabou por afetar toda a estrutura do futebol local, tendo falhado três Taças Africanas até regressar, em 2017, para ser vice-campeão. Com Mohamed Salah como figura principal, o Egito quer deixar marca na Rússia.
Caminho acidentado até à Rússia
A fase de apuramento começou da pior forma para os egípcios, com uma derrota no Chade, na 2ª eliminatória, para se dar uma virada no encontro da segunda mão, com quatro golos marcados na primeira parte. Conseguindo, assim, a entrada na fase de grupos, o sorteio ditou um frente-a-frente com o Gana que, como se esperava, acabaria por deixar um dos grandes esteios africanos fora do Mundial.
Acontece que os ganeses sentiram imensas dificuldades neste grupo, somando apenas uma vitória em seis jogos. O Egito começou por bater o Congo e o Gana, por 2-0, em casa, perdendo na deslocação ao Uganda, que acabaria por ser o seu maior rival neste apuramento. A jogar em casa, a equipa egípcia acabou por vencer os ugandeses e terminar a qualificação com um empate no Gana, numa partida onde já tudo estava decidido. Salah, com 5 golos, e El Said, com 3, foram os melhores marcadores da equipa nesta qualificação.
Salah e mais dez
É impossível olhar para o Egito sem o confundir com Mohamed Salah. O avançado do Liverpool tem dominado o panorama inglês e europeu, ao longo desta época, demonstrando todas as qualidades que se lhe adivinhavam, sem entender que ele pode, neste momento, poder mesmo entrar na discussão pelo pódio na eleição da Bola de Ouro. Melhor marcador da equipa na qualificação, só não esteve ao seu melhor nível na Taça das Nações Africanas de 2017, o que acaba por demonstrar uma das questões que se colocam a este Egito, uma equipa tendencialmente mais defensiva do que ofensiva.
O central Hegazi, do West Bromwich, e o médio Elneny, do Arsenal, são assim dois nomes que estarão, muitas vezes, em destaque também nesta seleção. Líderes no processo defensivo, terão que garantir duas coisas para que o Egito tenha sucesso: por um lado, a manutenção da solidez na defesa, por outro, situações suficientes para que Salah possa aproveitar na frente.
Héctor Cuper renasce no Egito
O treinador argentino Héctor Cuper esteve muitos anos longe do radar. Depois de ter conquistado a Taça Conmebol com o Lanús e ter brilhado em Espanha, ao serviço de Mallorca e Valencia, o que lhe valeu um chorudo contrato com o Inter de Milão, o treinador acabou por fazer um percurso incerto com passagens pela Geórgia, Grécia, Turquia e os Emirados Árabes Unidos.
No comando do Egito desde 2015, encontrou o contexto ideal para o seu jogo defensivo e com grande foco nas transições. Ser vice-campeão na Taça das Nações Africanas foi o primeiro sinal desse renascimento, mas é no Mundial, com Salah a alimentar grandes expetativas, que se irá decidir se o regresso de Cuper aos grandes palcos tem, ou não, um balanço positivo.
O mais difícil dos grupos fáceis
Não há nenhum papão no Grupo A para assustar o Egito, mas começando a fase de grupos frente ao Uruguai e seguindo-se-lhe um confronto com o país organizador, a Rússia, a equipa egípcia sabe que não é vista como favorita. Ao mesmo tempo, isso poderá permitir-lhe um comportamento mais próximo daquele que é o seu modelo de jogo habitual. Se mantiver vivas as esperanças no último encontro, perante a Arábia Saudita terá que demonstrar todo o seu potencial ofensivo. O Egito é uma das equipas que, num contexto complicado, poderá acabar por encontrar bilhete para os oitavos-de-final.
Boas Apostas!