Em 2012 ele tomou a NFL de assalto. Explosivo, surpreendente, contagiante, Robert Griffin III ia transformar a posição de quarterback, tornar o jogo mais apaixonante, ser a imagem do futuro da liga e o salvador dos Redskins. E durante o primeiro ano ele foi tudo isso, e mais qualquer coisita. Dois anos passados, parece cada vez mais evidente que o seu tempo em Washington está a chegar ao fim. Sentado no banco, relegado a back-up de Colt McCoy, RG3 é uma sombra de si mesmo. Ainda há esperança para esta estrela em queda, ou nunca mais a veremos brilhar como antes?
O momento fatídico
Quando aparece alguém com brilho e o carisma de Robert Griffin III no mundo do desporto ao mais alto nível é fácil embarcar no entusiasmo que se cria à sua volta e esquecer as cautelas que nos avisam do muito que pode correr mal. Há um momento fatídico na carreira desportiva de RG3, que a separa num antes e depois. A 6 de Janeiro de 2013 ele entra em campo, com uma entorse no joelho e com proteção especial. Era o primeiro jogo dos play-offs, Washington recebia os Seahawks. Há medida que o jogo avança a condição física de Robert deteriora-se a olhos vistos. Está limitado e em sofrimento mas só sai quando finalmente o joelho dá de si, já no quarto período. Até então ele era o herói incontestado, o menino querido de Daniel Snyder e a sua galinha dos ovos de ouro. Ele tinha dado esperança aos adeptos de que levaria os Redskins a altos voos e já tinha começado a cumprir. A equipa conquistou o seu primeiro título da NFC Este em treze anos e Griffin bateu recorde atrás de recorde para registar uma das melhores prestações de um quarterback rookie de que a NFL tem memória. No final de 2012 nenhum jogador da liga vendia mais camisolas, testemunho de que a sua popularidade ia bem para além das cores da equipa. A partir daí, foi sempre a descer.
A responsabilidade de quem forma
RG3 contribuiu em muito para esta queda, quase tão meteórica como a ascensão. Sempre muito preocupado com a sua marca, a imagem. Abre demasiado a boca nas conferências de imprensa e o mais das vezes para dizer o que não deve. Alterna uma certa arrogância com a necessidade de agradar e ser acarinhado. Tem vinte e quatro anos e desde o liceu o fizeram sentir como o líder, o herói dos sítios por onde passou. Talvez não tenha as competências necessárias para resistir ao duro mundo do desporto de elite. O que salta à vista na carreira de Robert Griffin é falta de ensinamento, de orientação, de preparação para o lugar que ocupa. E ele será o menos culpado disso. Agora é fácil apontar – e foram muitos os que analisaram frame a frame a exibição de há quinze dias com os S. Francisco 49ers – as falhas básicas do quarterback. O trabalho de pés é fraco, agarra-se demasiado à bola, é derrubado muitas vezes, expõe-se demasiado às placagens, é incapaz de ver três receivers livres de cobertura, a lista vai por aí fora. A mecânica de lançamento foi claramente afetada pelas lesões no joelho e tornozelo. Griffin perdeu também a explosividade na corrida, que tanto o distinguia. As mazelas deixaram marcas, físicas e, sobretudo, psicológicas. Ele tem que se reinventar como quarterback e ninguém parece disposto acompanhá-lo no processo. E não me digam que Jay Gruden tentou. Não é com quatro jogos a titular, todos eles maus, admito, que se descarta alguém com as capacidades de RG3. Eu sei que o treinador está preocupado com o seu próprio emprego e não quer ficar colado ao barco que afunda. Onde estavam os médicos que permitiram que ele jogasse, naquelas condições, o jogo dos play-offs? E o que tiveram a dizer o treinador da altura e o dono da equipa?
Profissões de desgaste rápido
Shanahan é um dos principais responsáveis pelo estado a que Griffin chegou. Agora gostam de repetir que Robert precisa de voltar ao básico mas o antigo treinador, que o recebeu vindo de Baylor, desenhou o playbook dos Skins para tirar máximo partido das qualidades com que vinha referenciado. Na altura nenhum scout disse que Griffin desconhecia o básico. E como funcionou de imediato Shanahan nunca se preocupou em fazer de Griffin um jogador mais completo na sua posição.
É evidente que para Griffin e Gruden, juntos, não há futuro. Um, ou até os dois, terá de abandonar Washington e procurar sucesso noutras paragens. Robert está cada vez mais perto da porta de saída, resta saber em que circunstâncias e com que destino. A especulação está ao rubro na internet, analisando pró e contras dos potenciais interessados. Até Março a organização dos Skins tem que decidir se pretende manter Robert Griffin III no plantel no seu quinto ano como profissional, o que implica um considerável aumento de salário.
O que conta é os resultados e quanto mais alta for a chama mais cedo a vela se consome. Não é por acaso que profissões como estas, como um lado muito apelativo, se designam de desgaste rápido. O lado glamoroso esconde, quase sempre, os sacrifícios e esforço envolvido. São os gladiadores da nossa época, para usar e deitar fora quando a versão mais recente sair para o mercado. RG3 é vítima do seu sucesso instantâneo. Nada nem ninguém o preparou para os dias maus. Agora que os vive, será que é capaz de bater no fundo e ressurgir?