Seleções – Pela terceira vez consecutiva, Portugal procura a qualificação para uma grande prova do calendário futebolístico através do Playoff. A frase popular “à terceira é de vez”, espera-se que se aplique a uma eliminatória que possa ficar decidida logo na primeira mão, ou que indique que à terceira ficaremos de vez livres desta estranha forma de vida, esperando realmente que a lição da terceira presença não venha a significar o afastamento do Mundial do Brasil.
Há uma justificação do senso comum, entre os analistas do futebol português, que tendem a acreditar que Portugal só joga bem em jogos realmente competitivos, preferencialmente naqueles onde não tenha, propriamente, obrigatoriedade de vencer. Mas tentemos ir um pouco mais além da questão da concentração competitiva para tentar perceber como Portugal chegou aqui e, sobretudo, como poderá ultrapassar este Playoff e seguir rumo ao Mundial.
1-As Opções
No passado recente, os técnicos responsáveis pela seleção nacional têm optado por um discurso semelhante, que visa a formação de um “plantel” que possa cumprir as diferentes etapas da qualificação. Luiz Felipe Scolari era um radical dessa ideia e Paulo Bento um fiel seguidor. No entanto, ao formar esse dito plantel, as equipas técnicas tendem a resgatar para o grupo, sobretudo, jogadores que tenham um nível alto de exigência a nível de clubes. Nessa leitura, têm ficado de fora vários jogadores que poderiam servir há mais tempo a seleção ou com maior regularidade. A ideia do “plantel da seleção” não é propriamente um mal. Mas é uma limitação que faz pouco sentido. Em momentos de urgência, como é este playoff, William Carvalho e Bruma, dois jovens sem qualquer jogo na equipa principal, irão figurar entre as opções.
2-A Qualidade
Outra das ideias fortemente associada à análise da equipa portuguesa é a falta de qualidade disponível. Neste momento, creio que o espírito luso tende a exagerar as opções disponíveis noutras seleções. É preciso entender que a exceção é ver Portugal somar presenças em meias-finais de Europeus e Mundiais. O nível do nosso futebol assentará mais na lógica da equipa que alcança a qualificação para a grande prova, chegando lá sem responsabilidade de a vencer. Por isso, será preciso entender que Portugal tem, neste momento, três guarda-redes de nível médio europeu, dois defesas numa das melhores equipas do mundo e várias outras opções em campeonatos muito competitivos, médios que jogam as provas europeias, um dos melhores jogadores do mundo e avançados que servem também para as equipas da classe média de campeonatos exigentes. Faltam a Portugal Figos e Rui Costas? Verdade. Mas isso falta sempre, a qualquer equipa, em qualquer momento.
3-O Desenho
O grande problema atual da Seleção portuguesa poderá passar pelo desenho tático seguido. Há uns anos atrás acreditou-se que Portugal, pela qualidade dos seus extremos, seria sempre uma equipa de 4-3-3. As más notícias para quem assim pensou é que os esquemas táticos não são mais importantes do que os jogadores. E se Cristiano Ronaldo evoluiu para ser um jogador que ocupa posições muito para lá do esquema tático 4-3-3, a equipa deveria evoluir com ele. Deixá-lo à solta para tentar resolver os problemas vai resultar muitas vezes, mas não é um caminho de sentido obrigatório. Repensar as funções do capitão, encontrar um novo extremo que possa funcionar como complemento (vide Caso Dí Maria no Real Madrid) e não uma falsa cópia, rearrumar o meio-campo de maneira a integrar as melhores opções disponíveis são tarefas obrigatórias. Não irão a tempo do Playoff, mas o Mundial seria um bom lugar para as apresentar.
4-O Cristiano Ronaldo
Não acredito naqueles que pensam que Cristiano Ronaldo é um problema para a seleção. Sobretudo porque ele tem sido a salvação. Sem Cristiano Ronaldo, o valor facial desta equipa já teria, há muito, caído pelas ruas da amargura, e não teríamos um capitão que é capaz de tirar a equipa de qualquer buraco. Goste-se, ou não, Cristiano Ronaldo é o líder desta equipa e continuará a sê-lo, provavelmente, até ao Mundial de 2018. Aí, completará catorze anos em grandes competições com a camisola das Quinas, o período da história onde Portugal alcançou, com mais regularidade, sucessos de alto nível. Até lá, é preciso que mais do que esperar que ele resolva, acreditar no capitão. Na maior parte dos casos, é da sua cabeça que saem as soluções. E será com ele em campo que Portugal atingirá mais um Mundial. O de 2014, no Brasil.
Boas apostas!