Egito – Camarões (Taça das Nações Africanas 2017)
Um grande e histórico jogo é, sem dúvida alguma, a melhor forma de terminar a Taça das Nações Africanas. Não tendo sido das competições mais apaixonantes em termos de futebol jogado, o que já não seria de esperar, pela tendência que vem sendo tomada no continente, bem como com as condições dos relvados apresentados no Gabão, vivemos dias de bastante emoção, com equipas bem organizadas, alguns jogadores que aproveitaram na perfeição esta prova para se mostrarem e outros que, depois de mais algumas exibições de nota, ficarão na história dos respetivos países. Ao mesmo tempo, vivemos uma Taça das Nações Africanas em que as seleções com melhor currículo marcaram posição, não deixando de ser surpreendente que o Egito, depois de três ausências, e os Camarões, com um plantel que estará longe de poder ser considerado o seu mais forte, atinjam o jogo decisivo.
O Egito não sofreu golos e, lá está, incorrendo na lógica de La Palisse, quem não sofre golos, no mínimo, não perde. No entanto, não creio que se possa olhar para a equipa egípcia como um conjunto que se importa apenas com a defesa. Pelo contrário. A equipa de Hector Cuper demonstrou, sempre que foi necessário, uma boa organização ofensiva, cuidado com a bola e atenção na forma de desequilibrar as linhas adversárias. Porque não temos uma equipa mais dominadora? Cuper percebeu que o seu plantel talvez não tivesse as opções necessárias para jogar mais adiantado no terreno, para além de que isso poderia colocar em causa algumas das forças que a equipa detém. Sem dúvida que o Egito é mais forte na defesa e tem em Salah um elemento que consegue encontrar sempre espaço para com uma ou duas iniciativas, chegar ao golo. Por isso mesmo, Hector Cuper tentou encontrar maneira de manter a equipa saudável e fresca, pressentindo ainda que o calor e a exigência que os relvados pesados lhe colocavam poderiam atuar contra as forças do seu conjunto. Chega ao jogo decisivo consciente de que voltará a ser na defesa que colocará a sua principal força, ainda que o adversário já tenha demonstrado ser capaz de quebrar defesas de igual consistência.
Onze Provável: El Hadary – El Mohamady, Ali Gabr, Hegazi, Ahmed Fathy – Tarek Hamed – M. Salah, El Said, I. Salah, Trézéguet – Kahraba.
Os Camarões serão surpresa maior nesta fase da prova, sobretudo por aquilo que se apontava na antevisão da competição, tendo em conta o número de ausências e também a forma como a equipa se relacionava com o seu treinador. A fase de grupos não retirou todas as dúvidas, com empates com Burkina Faso e Gabão e uma vitória apertada frente à Guiné-Bissau. Parecia uma equipa demasiado dependente de Fabrice Ondoa, o guarda-redes que vai marcando a CAN como uma barreira praticamente intransponível. E então chegaram os quartos-de-final e a equipa apresentou-se muito sólida frente ao Senegal que muitos esperavam poder ser campeão. De tal forma essa solidez se expressou que os Camarões venceram nas grandes penalidades e parecem ter encontrado a confiança que ninguém lhes reconhecia. Perante esse facto, a vitória entusiasmante perante o Gana apenas parece confirmar que a união fez toda a diferença nesta equipa. Neste momento, Hugo Broos não deixa dúvidas quanto à sua capacidade de liderança e tem mais opções, e de maior qualidade, para se impor na área adversária. Manter a solidez defensiva (dois golos sofridos, nos dois primeiros jogos) será uma chave para conseguir discutir a partida perante um Egito muito cínico.
Onze Provável: Ondoa – Fai, Ngadeu, Teikeu, Oyongo – Siani, Djoum – Bassogog, Zoua, Moukandjo – Tambe.
Larga história de jogos entre as duas seleções, já com duas finais da CAN, em 1986 e 2008, ambas vencidas pelo Egito. Os últimos quatro encontros realizados, entre 2008 e 2012, tiveram, aliás, todos vitórias do Egito.
Difícil apontar o favoritismo num jogo que se espera muito equilibrado. O Egito ainda não sofreu golos e tentará continuar a evitar erros que os permitam. Os Camarões terão, provavelmente, uma atitude mais ofensiva, sem cair no exagero de se exporem em demasia. Ambas as equipas bem certas de que um golo poderá acabar por decidir o campeão.