E ao segundo jogo da primeira-mão das meias-finais da Liga dos Campeões, houve surpresa.
Houve surpresa porque em confronto duas equipas com a mesma filosofia de jogo e com a mesma capacidade de a pôr a funcionar. Houve surpresa por a equipa da casa, o FC Barcelona, não ter ganho a posse de bola, e sim o seu adversário, o Bayern Munique, algo que não acontecia, aos catalães, há quase 100 jogos na Liga dos Campeões. Houve surpresa por, mesmo assim, sem ter tido a posse de bola, a equipa da casa ter goleado, por 3 a 0, a equipa visitante. Houve surpresa, assim, por a criatura ter ultrapassado o seu criador.
Depois de na véspera uma equipa espanhola, o Real Madrid, ter sido derrotada, por 2 a 1, em Turim, frente ao já campeão italiano da Serie A, a Juventus FC, outra equipa espanhola sai, desta vez, em vantagem no confronto com o seu adversário, o todo-poderoso Bayern Munique.
Num jogo muito interessante, com duas equipas a jogarem um futebol muito semelhante, a superioridade do FC Barcelona apareceu à beira do fim do jogo por intermédio de um génio que teima em aparecer quando mais se precisa dele: Lionel Messi.
Culés Matadores
E sim, foi Lionel Messi o mestre do jogo, no encontro que ontem opôs o futebol do FC Barcelona de Luís Enrique, ao futebol do Bayern Munique de Pep Guardiola. No fundo, duas equipas a jogarem o mesmo sistema de futebol e que acabaram por se encaixar uma na outra, anulando-se ao longo de quase todo o jogo.
O FC Barcelona é, ainda hoje, o que Pep Guardiola fez dele. Por mais treinadores que por lá já tenham passado, são todos da escola de Guardiola, são todos adeptos do tiki taka, e porque a equipa ainda está, também, estruturada para esse sistema de jogo.
Em Munique, Pep Guardiola instalou o mesmo tipo de futebol, com os bons resultados que se têm visto, mesmo que, a espaço, a equipa se perca, e acabe derrotada, como aconteceu no Porto, tendo saída derrotada por 3 a 1.
De todas as formas, ambas as equipas com a lição bem estudada, acabaram por encaixar uma na outra e acabaram por se anular, mesmo que o Bayern Munique tenha ganho as despesas do jogo e tenha tido mais posse de bola. Mas o FC Barcelona muito mais rematador. Não há memória de um remate à baliza de Ter Stegen por parte dos bávaros.
Foi contudo o FC Barcelona que fez o primeiro ataque sério do jogo quando, à passagem do primeiro quarto-de-hora, Luís Suárez, respondendo a um passe bem medido em profundidade de Lionel Messi, rematou forte e colocado para defesa apertada e vistosa de Manuel Neuer.
Ao longo do resto da primeira parte, muita competitividade a meio-campo, mas com o FC Barcelona a ser a única equipa a conseguir aproximar-se com mais perigo da baliza adversária.
No reatamento da partida, o Bayern Munique veio mais forte, o que se transmitiu mais na posse da bola que em oportunidades de golo.
Aliás, estava a pensar-se que iria ser em Munique que as equipas teriam de marcar golos para conseguirem chegar à final quando, no último quarto-de-hora do jogo, apareceu o génio de Lionel Messi que, com um forte remate fora da área acabou, finalmente, por bater Manuel Neuer. Estava desfeita a igualdade. O FC Barcelona estava a ganhar por 1 a 0, um bom prémio a pensar na segunda-mão.
Só que Lionel Messi não estava pelos ajustes e, 3 minutos depois, numa jogada de mestre, driblou Boateng, que ficou plantado no chão, e picou, maldosamente, a bola sobre Manuel Neuer, para o 2 a 0, num golo de antologia que levou Camp Nou ao rubro. para além de ter aumentado a vantagem, preciosa, para o jogo da segunda-mão, Lionel Messi, com estes 2 golos, voltou a ultrapassar Cristiano Ronaldo como o Melhor Marcador de sempre da Liga dos Campeões.
Não estando satisfeito com o resultado que estava a conseguir contra o seu antigo treinador, Lionel Messi ainda encontrou tempo, mesmo, mesmo, ao cair do pano, para lançar Neymar em profundidade e levar o brasileiro a assinar o terceiro golo do encontro. 3 a 0. Já um cheirinho a goleada.
Se é verdade que o Bayern Munique é equipa para recuperar de 3 golos (já o provou contra o FC Porto), também é verdade que o FC Barcelona não é uma equipa qualquer. E 3 a 0 entre duas equipas do mesmo nível, é um resultado que já se arrisca como definitivo.
Bávaros Tímidos
Pep Guardiola, que viveu boa parte da sua vida em Barcelona, no FC Barcelona (11 anos como jogador e 4 como treinador) subiu a Camp Nou com a certeza das dificuldades que iria encontrar.
Optou, então, por todas as cautelas e, por um jogo de anulação. O Bayern Munique tomou a posição de definir as linhas de jogo, ganhando a bola e jogando-a a seu belo prazer, tentando afastar os catalães da sua área, levando o jogo mais para o meio campo, onde a circulação de bola mais se fazia sem grandes sobressaltos.
Mas Pep Guardiola também sabia que teria de contar com a imprevisibilidade de Messi. E foi o que aconteceu. E quando aconteceu, não havia nada a fazer. E Pep Guardiola já o tinha avisado. Porque quando parecia que estava toda a gente de acordo em levar o jogo e o resultado para resolver em Munique, Lionel Messi desatou o nó que os bávaros lhe tinha tecido e marcou, de rajada, 2 golos de antologia.
A timidez com que a equipa alemã entrou em campo, e a rapidez da alteração do marcador quando já nada o faria prever, não deixaram espaço à equipa de Pep Guardiola para tentar inverter o estado das coisas.
Já se sabe, contudo, como os bávaros perdem a timidez em casa. 3 a 0 é um resultado vantajoso, e quase definitivo para uma equipa como o FC Barcelona, mas o Bayern Munique já provou ser capaz de inverter o estado das coisas, por mais complicadas que elas pareçam e sejam.
No fundo, ontem assistiu-se a um jogo entre dois fortes candidatos a vencer a Liga dos Campeões, mas em que só uma das equipas tinha um joker do calibre de Lionel Messi que, em segundos, pode transformar, alquimicamente, chumbo em ouro. Ontem fê-lo por 3 vezes. Vamos ver em Munique.
Boas Apostas!