19:45h.

Em Varsóvia, é dado o pontapé de saída em mais uma final da Liga Europa.

Em Bogotá, capital da Colômbia, são 13:45h. Hora de saborear o café pós-almoço, num país que tanto o exporta. O adepto colombiano mais atento, certamente estará alertado para a realização do Sevilha x Dnipro, ou não participasse neste desafio um compatriota que almeja levantar novamente um importante troféu: Carlos Bacca, do Sevilha. Vencedor da prova na época anterior, – levou a melhor sobre o Benfica, na final – surge nova oportunidade soberana para continuar a escrever história, igualando um feito já anteriormente operado por quatro compatriotas: ganhar por duas vezes a Liga Europa (ex-Taça UEFA).

Espiritualidade

Marca, olha os céus e estende o indicador na direção do infinito. A religião ocupa um lugar central na vida de muitos colombianos.

Na primeira frase, referiamo-nos, neste caso, à forma como Carlos Bacca celebra os respetivos golos. Porém, facilmente desenhamos na nossa cabeça uma figura semelhante com os, também colombianos, Radamel Falcao ou Jackson Martínhez enquanto protagonistas.

Bacca e El Tigre são, de resto, dois dos quatro jogadores colombianos que lograram o feito de vencer esta competição, em duas ocasiões.

Faustino Asprilla

Faustino Asprilla foi o primeiro cafetero a conquistar a Taça UEFA (que seria mais tarde a Liga Europa) por 2 vezes, ambas ao serviço do Parma

O boémio e polémico Faustino Asprilla foi o primeiro cafetero a levantar a taça. Fê-lo com a camisola dos italianos do Parma, nas duas passagens que teve pelo clube transalpino. Primeiro, na temporada 1994/95, altura em que a final ainda era disputada a duas mãos, e o Parma levou a melhor sobre a Juventus, por 2-1, no agregado (1-0 no Ennio Tardini e 1-1 na segunda mão, disputada em Milão).

A segunda foi em 1998/99, última edição antes do formato ser ligeiramente alterado com a introdução de uma ronda adicional, e a inclusão dos vencedores das taças nacionais. Em Moscovo, o Parma levou a melhor sobre os franceses do Marselha, por 3-1, com Asprilla a entrar apenas por volta do minuto 84, para render Hernan Crespo, autor de um dos três golos.

Para completar o ramalhete de bicampeões da Liga Europa com nacionalidade colombiana, impõe-se referir o nome de Perea. Somou o primeiro troféu da Liga Europa ao seu palmarés corria o ano de 2010, numa final frente ao Fulham, disputada em Hamburgo, na qual o atleta cumpriu o jogo inteiro. A partida ficou sentenciada no prolongamento.

Antes de Perea fazer o bi europeu, Radamel Falcao conquistou o seu primeiro troféu em conjunto com os compatriotas Fredy Guarín e James Rodríguez, com a camisola do FC Porto. No ano (2010/11) em que o dragão de André Villas-Boas voou bem alto, em Dublin, a vitória sobre o SC Braga surgiu com cunho totalmente oriundo do país sul-americano em causa: Falcao apareceu na área contrária, bem ao seu estilo, e aproveitou da melhor forma um cruzamento tirado por Guarín.

Um ano após El Tigre ver o seu palmarés aumentar com o primeiro troféu europeu, a Colômbia voltou a sorrir face à fortuna dos seus atletas. Está bom de ver que as fenomenais prestações em 2009/10 e 2010/11, à boleia de muitos milhões, levaram Falcao da Invicta. Seguiu para Madrid, no sentido de vestir o vermelho e branco do Atlético local. Voltou à final, desta feita em Bucareste, e foi novamente decisivo: dizimou o Athletic Club ao apontar um hat-trick que fez a taça viajar para a capital espanhola. Uma vez mais, foi o melhor marcador da competição. Individualmente, nova temporada notável para Falcao que bateu o recorde de golos numa edição da prova: superou Klinsmann ao fazer as redes contrárias balançarem por 15 vezes. Colega, então, de Falcao, Luís Perea também conquistou, nessa mesma temporada, a segunda Liga Europa do seu palmarés. Ambos se juntaram a Asprilla.

Com interregno em 2012/13, – nessa temporada a final disputou-se entre Benfica e Chelsea – a Colômbia voltou a estar representada na decisão da segunda mais importante prova de clubes, à escala europeia, em 2013/14.

Carlos Bacca

O desfecho do confronto entre águias e andaluzes está ainda bem presente. Bacca, que converteu em golo quando chamado a bater a primeira grande penalidade, teve razões para sorrir. Estava conquistada a primeira taça europeia da sua carreira.

Carlos Bacca

Carlos Bacca ganhou a sua segunda Liga Europa, ambas ao serviço do Sevilha

Na final deste ano, jogada esta quarta-feira, assume-se como a grande figura do encontro. Há momentos do seu jogo que poderiam muito bem constar de um vídeo para mostrar a jovens em formação como se deve abordar determinados lances. Se marcou dois dos três golos do Sevilha – um deles aquele que deu o 3-2 e, consequentemente, a vitória – também não deve ser menosprezada a forma como se posiciona no primeiro golo andaluz, em que permite que Krychowiak empate a partida a um golo. Inteligentíssimo a amortecer e deixar a bola jogável para o colega que está de frente, escapando à marcação.

No primeiro golo, note-se a boa leitura de jogo que denota quando vê que o companheiro poderá colocar a bola no espaço, embalando de imediato para depois dominar e, com um frieza só ao alcance dos melhores, contornar o guardião contrário. Na altura em que bisa – e garante, com esse golo, o bi troféu – fica em evidência, uma vez mais, a capacidade que tem em aproveitar o espaço que lhe é concedido e, sobretudo, a demonstração de uma caraterística que marca o seu perfil: a facilidade com que finaliza. Sem rodeios, de pé esquerdo, atirou de forma letal.

Quando o apito final soou, sentado no banco do Sevilha, não conseguiu conter a emoção e desfez-se em lágrimas. Aparentemente, a frieza com que finaliza está longe de abranger a forma de sentir de um homem que há oito anos era pica de autocarro na Colômbia.

Boas Apostas!