O Brasil não teve a estreia triunfal que se vinha anunciando e as reações são muitas, pelo mundo fora. Tite evitou usar os erros de arbitragem como desculpa e lamentou a ansiedade mas os media arrasaram o VAR. Neymar farta-se de levar porrada, assusta com sinais de dor e esgota-se em iniciativas individuais. O único que se salva nesta leva inaugural é Philippe Coutinho. É o que vale um golaço de levantar o estádio. Os brasileiros não tropeçavam no primeiro encontro de um Mundial há quarenta anos. Voltam todos os fantasmas ou foi só a bolha do Brasil que esvaziou? Vamos perceber dentro de dias.
Ansiedade inicial
A Canarinha arrancou a campanha no Mundial da Rússia com um empate frente à Suíça. Não foi a estreia triunfal que se chegou a anunciar, depois do que a equipa de Tite mostrou no final da qualificação e nos jogos de preparação. O selecionador repetiu o onze que tanto entusiasmo gerou frente à Áustria mas competição a sério é outra realidade. E a Suíça também não é pera doce. Nós sabemos.
Tite evitou usar os erros de arbitragem como desculpa para o começo dececionante. Quis focar a conversa na prestação da equipa. A ansiedade foi por demais evidente. Mesmo com alguma oscilação, o Brasil conseguiu criar um caudal ofensivo importante que teve no golo de Coutinho o desenlace esperado. Era um golo que devia dar conforto mas os brasileiros não avançaram para dar o segundo golpe. Pareciam preferir acalmar o jogo, controlar, recuar para poupar energia. Mas ficava a ideia de que a qualquer momento os brasileiros podiam acelerar e decidir.
Ao intervalo o selecionador canarinho diz ter corrigido posicionamentos porque a equipa tinha baixado demasiado as linhas. Mas o empate aconteceu quase de seguida e mudou o sentido do encontro. Os jogadores brasileiros sentiram-se injustiçados e ficaram afetados.
A partir daí, Tite diz que a seleção acelerou demasiado o jogo. Houve muitos remates, mais de vinte, mas pouquíssimo critério. Era a ansiedade a empurrar para a frente. Podia ter resultado se a Suíça não estivesse tão preparada para fechar atrás e segurar o resultado.
VAR arrasado, ou a falta dele
Tite pode ter desviado a conversa das decisões arbitrais mas os media não tiveram esse prurido. O VAR foi arrasado, ou mais exatamente a pouca utilização que se fez dele. O lance do golo de Zuber, em que o suíço coloca as mãos nas costas de Miranda, foi repetido à exaustão em todos os canais e rapidamente inundou a internet. E acho que não há ninguém no Brasil que tenha dúvidas. Era falta para invalidar o lance.
Mais tarde houve ainda a situação do suposto penalti, quando Akanji incomoda Gabriel Jesus e o avançado acaba no chão. Aí as opiniões, mesmo entre os adeptos da Canarinha, dividem-se.
Coutinho salva-se e Neymar preocupa
Como não podia deixar de ser, outro dos destaques é a exibição de Neymar Jr.. Ele não está a cem por cento e não conseguiu ter as aparições fugazes mas eficazes dos amigáveis anteriores. A condição física, a reserva mental são questões muito presentes mas há que reconhecer que a marcação pesada que Behrami lhe fez o jogo todo era para intimidar alguém que não estivesse, já à partida, fragilizado. Levou muita porrada – foi o jogador que sofreu o maior número de faltas, dez, e esses são só os lances assinalados e que violam o regulamento – o que não é novo mas é castigador. A estrela do PSG acabou por se esgotar em iniciativas individuais, poucas com alcance real, e ainda assustou com esgares de dor e saindo do relvado a mancar.
O único que se salva desta leva inaugural foi Philippe Coutinho. Claro que o golaço que marcou, cheio de técnica e colocação, muda completamente a perceção final. Não foi a sua única intervenção no jogo. Os lances de maior perigo do Brasil tiveram, numa altura ou outra, passagem pelos seus pés. Mas não voltou a marcar e sozinho não pode fazer muito mais.