As antevisões da temporada da NFL 2014 não se fazem sem uma sigla – HUNH. Se não agarrou é tempo para se por a par das tendências. A ofensiva “hurry-up, no huddle”, que se pode traduzir por ataque apressado e sem recurso a ajuntamentos para definir a jogada, está na moda e domina as conversas. Chip Kelly criou, com ela, uma espécie de assinatura. Equipas como Chicago, Denver ou New England serviram-se do sistema para rebentar com a escala de pontuação. Ninguém quer ficar para trás e é provável que esta temporada outros emblemas lhes sigam o exemplo. Mas calma, fazer depressa e bem não é para qualquer um. E como todas as estratégias, pode ter contraindicações.
Duas notas prévias
Antes de mais, convém esclarecer duas coisas. O “no-huddle” e o “hurry-up offense” não são conceitos novos. Os Patriots andam a aplica-los há anos. A inovação está no seu uso de forma intensiva, ao invés da utilização pontual. Também não são a mesma coisa. Um ataque imediato tem que abdicar do “huddle”, não pode desperdiçar esses segundos. Mas saltar essa reunião prévia não significa necessariamente que a bola seja posta em jogo de imediato. Esse “timing” é definido pelo quarterback, e é mais uma forma de deixar o adversário na expetativa.
Não dar tempo para reagir
O que se pretende com a HUNH? Chegar à linha de “scrimmage” o mais rápido possível para dar menos tempo ao adversário para reagir. Com esta movimentação limitam-se as substituições na defesa contrária aumentam as oportunidades para explorar erros nas marcações e coberturas. Parece evidente e simples. É tudo menos isso. Quando é bem executado pode ser devastador. Todos gostariam de o fazer mas só alguns têm a capacidade para tal.
Costuma-se dizer que o improviso resulta de muito ensaio prévio. Aqui acontece exatamente o mesmo. É preciso que os todos os membros do plantel conheçam muito bem os seus papéis nas diversas opções de ataque e sejam capazes de interpretar em poucos segundos as indicações do quarterback. Um dos aspetos mais fascinantes é verificar que as melhores equipas a praticar a HUNH são também as que possuem elementos mais versáteis. Faz sentido. O “one-trick-pony”, aquele jogador que só sabe fazer uma coisa muito bem, é previsível e portanto fácil de antecipar. Mas se um mesmo homem for capaz de desempenhar diferentes papéis, tiver mais do que um truque na manga, vai aumentar exponencialmente as opções de quem larga a bola e deixar o adversário à toa.
A ofensiva “hurry-up no-huddle” é muito mais que um ataque a ritmo elevado, é uma estratégia para baralhar as marcações. Ao não permitir que a defesa adversária faça substituições é possível variar o jogo em função das fragilidades expetáveis de quem o adversário tem no alinhamento. É muito tático, exige grande conhecimento do jogo e a capacidade de ler, em segundos, todas as movimentações dentro do terreno.
Sempre a tática
Há também a considerar as implicações que a HUNH tem para a própria defesa. Se o ataque tem menos tempos mortos, a linha defensiva vai passar mais tempo dentro de campo. O que ao fim de algumas séries a pode deixar de rastos fisicamente e portanto mais vulnerável. É preciso ser eficaz, eficiente e conhecer muito bem as capacidades das equipas que estão no relvado. Saber quando acelerar e quando pausar o jogo. Nada, no jogo de xadrez com figuras em tamanho real que é o futebol americano, se faz ou se utiliza sem um propósito tático. Força, rapidez, corrida, passe, são meios para concretizar uma finalidade.
O jogo está mais rápido, isso é certo. Estudos comprovam que o número de vezes que uma equipa coloca a bola em jogo – o snap – aumentou significativamente. As estatísticas provam que há uma década os New England Patriots “snapped” seis vezes menos em média por partida, em relação há temporada de 2013. Os New Orleans Saints faziam-no quatro vezes menos, os Buffalo Bills oito.