A vitória portista no “clássico” do Dragão projeta uma luta a dois pelo título nacional, cenário que conta inclusive com a complacência de Jorge Jesus. Num duelo em que as surpresas começaram antes do apito inicial, Tiquinho Soares, reforço de inverno do Porto, foi o trunfo do baralho de Nuno Espírito Santo.

Foto: "Miguel Riopa/AFP"

Foto: “Miguel Riopa/AFP”

Nuno Espírito Santo apostou numa estratégia marcadamente ofensiva para abordar o “clássico”, numa abordagem idêntica à que tinha adoptado para o embate com o Benfica em novembro. O reforço Tiquinho Soares foi a principal novidade no onze inicial, surgindo no apoio a André Silva na frente do 1x4x4x2 escolhido, estratégia que potencia as suas caraterísticas. Com vários minutos de jogo nas pernas na primeira metade da temporada, Nuno Espírito Santo não se coibiu de apostar nos préstimos da sua mais recente arma. No onze sportinguista, duas novidades: Uma expectável, outra nem tanto. Jorge Jesus apostou nos serviços de João Palhinha para o lugar do castigado William Carvalho. Limitado em termos de opções para essa zona do meio-campo, a alternativa poderia ter passado por Rúben Semedo, titular no eixo defensivo que já pisou terrenos mais adiantados. A principal surpresa correspondeu à titularidade do jovem Matheus Pereira, brasileiro de 20 anos que tinha atuado pela equipa principal apenas diante de Arouca e Praiense (nas Taças) na atual temporada. Para responder ao presumível domínio portiste, Jorge Jesus privilegiou a aposta em duas armas com um potencial letal em transição: Matheus Pereira e Gelson Martins. A realidade foi outra, muito por conta da vantagem madrugadora alcançada pelo FC Porto…

O erro na base de tudo

Na primeira grande ocasião de golo da noite, o Porto adiantou-se no marcador. Há mérito de Jesús Corona que coloca a bola ao segundo poste assim como de Tiquinho ao aparecer naquela zona para cabecear, mas há simultaneamente muito demérito sportinguista do lance. Rúben Semedo, de costas para André Silva e Tiquinho Soares, coloca o brasileiro em posição irregular quando a bola sai da direita do ataque, mas Coates e (sobretudo) Palhinha não se posicionam convenientemente em função da referência que é precisamente o companheiro. Quando o jovem João Palhinha dá um passo em frente para tentar colocar o adversário em posição irregular, a bola já partiu e Tiquinho surge ao segundo poste para cabecear à queima (e bem, de cima para baixo) de Rui Patrício, não dando hipótese de defesa ao adversário.

Foto: "FÁBIO POÇO/GLOBAL IMAGENS"

Foto: “FÁBIO POÇO/GLOBAL IMAGENS”

O Porto não deixou de ser a equipa mais acutilante, mas a vantagem no marcador reduziu a exposição ao risco. O Sporting teve espaço para crescer no jogo, mas raras vezes apresentou esclarecimento suficiente para chegar com perigo à área contrária e raramente viveu para lá das tentativas de Gelson Martins. E é precisamente pela vulnerabilidade individual que o Sporting sofre o segundo golo do desafio. Perda de bola a meio-campo, transição portista e a falta de inteligência no controlo da profundidade evidenciada tanto por Coates como por Schelotto (o Sporting continua a sofrer muitas pelas laterais) torna-se fatal. Danilo Pereira coloca a bola no espaço entre Coates e Rúben Semedo, Tiquinho é sagaz a atacar o espaço deixado entre Coates e Schelotto, ganha a bola, contorna Patrício e dilata a vantagem.

No frente a frente com Patrício, a frieza de Tiquinho faz a diferença e o guarda-redes do Sporting não tem culpas no cartório. Incapaz de criar uma clara ocasião de golo em toda a primeira parte, o Sporting recolheu às cabines em desvantagem por dois golos de diferença e Jorge Jesus viu-se obrigado a dar o braço a torcer, admitindo que errou na aposta e tirando Matheus Pereira do jogo.  Alan Ruiz, argentino que tem crescido nos últimos tempos, foi para o campo e o jogo do Sporting mudou para melhor. A partir do momento em que Adrien envia a bola à trave – já sem Marvin Zeegelaar em campo, retirado do jogo por já ter sido admoestado – , o Sporting cresce no jogo. A entrada de Alan permitiu ao outro Ruiz (Bryan, no caso) crescer no jogo, mas foi mesmo o argentino que materializou em golo a emancipação do Sporting, à passagem da hora de jogo. Com diferença miníma do marcador, o Porto foi um espelho daquilo que já se tinha visto no “clássico” com o Benfica ou noutros jogos em que esteve em vantagem por margem reduzida: Recuar, juntar linhas, mas mais que isso (e prejudicial) baixar demsiado o ritmo de jogo. A reação sportinguista morreu nas mãos de Casillas, guarda-redes espanhol que segurou a vitória com a luva direita já em tempo de compensação.

Boas Apostas!