Depois do luto, a bonança. Dois anos depois de ter perdido a final do campeonato da Europa na própria casa, a seleção de França limpou as lágrimas, sarou as feridas e almejou a glória máxima do futebol de seleções ao conquistar o campeonato do mundo. Duas décadas depois, a seleção francesa volta a assumir-se como principal força do futebol mundial ao levar de vencida a Croácia por quatro bolas a duas.
Estes “enfants” são mesmo “terribles” e tudo indica que a conquista deste campeonato do mundo preconize o início de uma nova ordem no futebol de seleções. A jovem equipa gaulesa soube recuperar do enorme trauma que foi perder a final do Euro 2016 em Paris, frente a Portugal, e não deu grandes hipóteses à concorrência na Rússia. Em futebol, o conceito de “justiça” é sempre muito relativo, mas quem assistiu ao torneio só poderá considerar que os “Bleus” são uns legítimos vencedores. A qualidade, a consistência e, acima de tudo, a eficácia, fizeram a diferença a favor dos eleitos de Didier Deschamps, técnico que volta a celebrar a conquista de um campeonato do mundo depois de já o ter feito em 1998, enquanto jogador.
França igual a si mesma
A história da seleção francesa nesta final começou do mesmo modo que tantas outras ao longo da competição: sem assumir o controlo das ações desde o primeiro momento e cedendo inclusive a iniciativa ao adversário, a equipa gaulesa conseguiria “levar a água ao seu moinho” no momento certo. Depois de Mbappé já ter atirado à baliza de Subasic com perigo, num campeonato do mundo marcado por uma elevada taxa de aproveitamento das bolas paradas, seria nesse tipo de situação que a França chegaria ao primeiro golo do jogo. Griezmann cruzou para a área contrária e Mandzukic, na sequência de um desvio infeliz, traiu o guarda-redes. Sem que muito tivesse feito para consegui-lo, a seleção francesa colocava-se em vantagem desde cedo. Para a Croácia, nada de novo: afinal, nos três jogos a eliminar que já tinha disputado, também entrara sempre a perder.
Talvez tenha sido por isso que a equipa “Vatreni” não se deixou atemorizar pela vantagem contrária e continuou fiel à sua estratégia, jogando mais tempo no meio-campo contrário e procurando criar desequilíbrios essencialmente pelos flancos – Pavard que o diga. Bem perto da meia hora, sensivelmente dez minutos depois do tento gaulês, Perisic desviou um adversário do caminho e atirou para o fundo das redes de Hugo Lloris com uma execução merecedora de elogios e que repunha alguma “verdade” no marcador.
Sem sofrer golos desde os oitavos-de-final, a seleção francesa apercebeu-se de que estava obrigada a travar o crescimento croata no desafio e a partir daí começou a ser mais autoritária, pressionando mais e, sobretudo, exibindo mais vontade de ter bola. Depois de ter feito o primeiro golo na sequência de uma bola parada, seria no seguimento de outra que a equipa gaulesa desencadearia um momento capital: Perisic cortou a bola com o braço no interior da área, Nestor Pitana recorreu ao VAR e houve penalty assinalado a favor da França. Extremamente eficaz a partir da marca de castigo máximo, Griezmann recolocou a sua equipa em vantagem antes do intervalo.
Mbappé e Pogba acabaram com o sonho
Antes do início da partida, muito se tinha discutido a condição física da Croácia, equipa que tinha superado todas as rondas a eliminar no prolongamento e, como tal, tinha mais um jogo nas pernas que a França (30+30+30). Em desvantagem e a precisar de dar a volta ao rumo dos acontecimentos, a Croácia teria que puxar de todas as suas esforças para consegui-lo. A equipa gaulesa, ciente disso, continuou a permitir que o adversário tivesse bola, baixou o bloco, mas viria a revelar-se mortífera nas saídas para o ataque. Em dois remates de meia distância, um aos 59 e outro aos 65 minutos, Paul Pogba e Kylian Mbappé disparam para a imortalidade e puseram um ponto final ao sonho croata. Mbappé, 19 anos, receberia o prémio de melhor jogador da competição, a primeira de uma carreira que se adivinha recheada de distinções individuais.
Aos 69 minutos, Hugo Lloris cometeu um erro de palmatória que permitiu a Mandzukic marcar, desta feita na baliza correta, como que a “anular” a bola desviada para a rede da própria baliza no primeiro tempo, mas o que é certo é que de pouco valeria. A seleção croata continuou a lutar até final, mas a seleção francesa limitou-se a aguentar o resultado. Sem retirar mérito à França, digna campeã do mundo, os românticos do futebol nunca esquecerão esta seleção croata, a melhor pós-Suker.
Boas Apostas!