Bruno Fernandes, um médio ofensivo de boa qualidade, é um ilustre desconhecido para generalidade do público português. Mas não devia. Formado entre o Pasteleira e o Boavista, nunca chegou a alinhar pela equipa principal dos axadrezados. Aos dezassete anos, ainda um adolescente imberbe, passou diretamente dos Juniores do Bessa para o Novara, da Serie B italiana. Num momento era um jovem da formação de um emblema em sérias dificuldades financeiras e de estrutura organizativa, sem perspetivas de futuro; no seguinte, saltava a fronteira para tentar a sua sorte. Esta é uma história de imigração portuguesa bem sucedida.

Do Primavera à Serie A em doze meses

Inicialmente, o plano era integrar o jovem na formação Primavera do Novara, o equivalente aos sub-20 mas as prestações de Bruno Fernandes impressionaram os treinadores e rapidamente fez a passagem para a equipa principal. Giacomo Gattuso foi-lhe dando minutos de jogo mas foi com o seu sucessor, Alfredo Aglieti, que o português passou a ter presença regular em campo. Na época de 2012/13 o Novara esteve perto de garantir a subida à primeira divisão italiana mas não conseguiu resistir ao Empoli, nos play-offs. Os vinte e três jogos que fez com o emblema do Piemonte – e porque não os quatro tentos marcados – chamaram a atenção dos responsáveis da Udinese. Em Junho de 2013, um ano após a sua chegada a Itália, Bruno Fernandes, estava oficialmente na Serie A. Mas os primeiros tempos em Udine não foram um mar de rosas e o seu lugar no plantel chegou a estar em causa. “O início do ano foi complicado, porque além de ser muito jovem, a equipa era muito grande, com muitos jogadores, que eu tinha defrontado e que sabiam que iam ser emprestados outra vez. Treinei muitas vezes à parte, porque éramos muitos, não havia espaço para todos e estive até ao último dia do mercado para ser emprestado ao Watford.” Muitos outros jovens, que partilham o sonho de vencer no mundo do futebol, acabam por se perder diante de dificuldades como estas. Mas Bruno perseverou, fez o que lhe competia. Baixou a cabeça e trabalhou para conquistar o seu espaço, mostrando-se sempre que a oportunidade surgia. Felizmente, o técnico Francesco Guidolin gostou do que viu na primeira vez que o incluiu na convocatória, precisamente numa partida frente ao Inter, e opôs-se à cedência do jogador. Os Bianconeri tiveram um péssimo arranque de temporada. Vindos de um quinto lugar na época transata, que lhes permitiu o acesso à pré-eliminatórias da Liga Europa, não foram capazes de manter o nível. Foram eliminados nos play-offs, pelo Slovan Liberec, e não chegaram sequer à fase de grupos da competição europeia. As prestações no plano nacional ressentiram-se disso.

O “novo Rui Costa”

Bruno Fernandes

A estrela começou a brilhar em Novara

Com dezanove anos, e em apenas seis meses em Udine, Bruno foi capaz de consolidar a sua posição no onze inicial. Em Janeiro deste ano a direção do clube italiano comunicou a aquisição da totalidade do passe do jogador português, comprando a parte ainda em posse do Novara. Bruno Fernandes não podia esperar maior prova de confiança nas suas capacidades. Conta, atualmente, com vinte e quatro participações, quatro das quais na taça italiana, e quatro golos em seu nome. Estreou-se a marcar na Serie A frente aos Azzurri de Rafa Benítez, com um belíssimo remate colocado de fora da área. Marcou também ao Génova, ao Chievo e ainda este mês ao líder do campeonato italiano, a Juventus. Não conseguiu evitar a derrota mas deixou a sua marca. Já lhe começam a chamar o “novo Rui Costa”. Todos sabemos o exagero destas comparações mas ninguém em Itália invoca o nome do Maestro em vão. Bruno Fernandes tem qualquer coisa. Tem bom domínio de bola, uma técnica apurada e os remates em jeito de meia distância estão a tornar-se uma assinatura. A experiência em Itália tem-no feito evoluir imenso do ponto de vista tático. E tem o mais importante para triunfar, como já provou, capacidade de trabalho e força mental.

Habemus número 10?

Uma nota de esperança para o futuro do futebol português, pode estar aqui o próximo nº 10 da seleção portuguesa. Desde que Rui Costa e Deco se retiraram as equipa das Quinas tem-se mantido órfã dessa figura de um médio criativo, inteligente e elegante, a conduzir o jogo ofensivo. Bruno Fernandes tem sido convocado para os escalões de sub-20 e sub-21 mas a Udinese tem resistido a disponibilizar o jogador. “O clube não me tem dispensado, com muita pena minha porque gostava de representar a seleção mais assiduamente. Tenho que respeitar as opções do treinador e continuar a trabalhar para que as chamadas à seleção continuem a aparecer. Não me posso queixar porque é um bom sinal, é sinal que o «Mister» conta comigo, quer que eu esteja com a cabeça aqui, porque sabe que eu posso ajudar a equipa.” O teu momento vai chegar, Bruno, e estaremos todos cá para ver.

Boas Apostas!