Borna Coric – Rafael Nadal (US Open)
Logo na ronda inaugural o Open dos Estados Unidos reserva-nos grandes embates mas este parece ser aquele que pode criar maiores ondes de choque. Ambos venceram o Grand Slam norte-americano em 2013, um na versão profissional, outro na versão júnior. O bicampeão da prova terá sempre que ser considerado favorito mas sabendo a temporada que Nadal está a ter tudo é possível, até porque o jovem croata já o derrotou no único confronto entre ambos. Será capaz de o repetir à melhor de cinco sets?
Há dois anos atrás Borna Coric sagrava-se campeão do US Open. No circuito júnior, claro. No ano passado, na sua primeira tentativa entre os crescidos, chegou até à segunda ronda, depois de ter feito o qualifying. Desta vez ficou dispensado dessa fase prévia, benesses de ocupar o trigésimo quinto lugar do ranking ATP. Aos dezoito anos é obra! Não se pode dizer que o croata é uma promessa forte do ténis mundial, é já uma certeza. Claro que ainda lhe falta crescer e evoluir muito, inclusive do ponto de vista físico, mas as qualidades e capacidades que tem são indesmentíveis.
É público que o croata cresceu tendo Nadal como ídolo e pouco depois dessa vitória júnior, ainda antes de entrar no circuito profissional, o espanhol convidou-o para bater umas bolas. É fácil de imaginar o que isso representou para o jovem Coric, assim como foi empolgante a primeira vez que teve Rafa como adversário em court. Aconteceu nos quartos de final de Basileia, no ano passado, e num resultado absolutamente surpreendente o adolescente levou a melhor (6-2, 7-6). O desfecho desse encontro levou a que Nadal deixasse de adiar a cirurgia ao apêndice e a dar a temporada por terminada. Mas para Borna não foi um acidente. E para provar isso mesmo ele bateu Andy Murray (6-1, 6-3) nos quartos de final do Dubai, já em fevereiro deste ano, onde só foi travado por Roger Federer (6-2, 6-1).
Na semana que passou Coric passou por Wiston Salém onde só cedeu noas quartos, frente aquele que viria a vencer a prova norte-americana, o sul-africano Kevin Anderson (6-2, 7-6). Nas eliminatórias anteriores tinha passado por Santiago Giraldo (4-6, 6-2, 6-2) e Diego Schwartzman (6-2, 6-1).
Rafael Nadal diz que se sente bem e fisicamente em forma à chegada a Nova Iorque. Mas não se vê como um candidato ao título. Em 2014 o espanhol falhou o derradeiro Major da temporada devido a um problema no pulso mas na última vez que disputou o US Open conquistou o seu segundo troféu: foi vencedor em 2010 e 2013, finalista vencido em 2011. Três das oito finais de um torneio do Grand Slam que Nadal disputou com Novak Djokovic aconteceram em Flushing Meadows, com o menorquino a levar vantagem (2-1). Desta vez, dada a queda no ranking de Rafa, na melhor das hipóteses os dois voltam a cruzar-se mas nos quartos de final. Claro que o caminho até lá é pródigo em potenciais escorregadelas para o oitavo tenista mais cotado do circuito. Para começar, terá que afastar o jovem Coric, que venceu o único confronto entre ambos. Se for bem sucedido pode encontrar Fabio Fognini na terceira ronda – sendo que o italiano também lhe deu problemas em tempos recentes – e Milos Raonic na etapa seguinte. Não será fácil mas o percurso pode animar se Rafa conseguir “boas sensações” neste embate de estreia.
Borna Coric e Rafa Nadal podiam ter uma interessante discussão filosófica sobre a frase que o adolescente tatuou no braço: “não há nada pior na vida do que ser comum”. O espanhol, que já teve um estatuto de sobre-humano pode contrapor que há vida depois do topo, ele é que ainda não sabe exatamente qual seja.
Há aqui um fator que pode ter importância. Coric, como os outros adolescentes do circuito, ainda não domina a arte de gerir o próprio esforço. Entra forte e determinado em court mas à medida que as partidas se vão arrastando perde fulgor e essa quebra física afeta as tomadas de decisão, como é natural. O problema de Nadal, neste momento, é mental. Por isso ele demora a entrar nas partidas, a sentir-se confortável mas depois, se o jogo se ajusta ele está pronto para ir longe, mesmo já não sendo o “touro” de outros tempos. Num encontro à melhor de cinco sets, a experiência de Nadal pode dar-lhe um trunfo decisivo.
2014 | Basileia | Coric | 6 | 7 | QF |
Nadal | 2 | 6 |