Contas encerradas no grupo B. País de Gales e Inglaterra em frente, Eslováquia em boa posição para garantir uma vaga nos oitavos-de-final e Rússia eliminada. Sem descurar o apuramento histórico conquistado pela seleção galesa, a principal surpresa vai para a má prestação rubricada pela formação soviética.

País de Gales

Foto: "UEFA"

Foto: “UEFA”

Voar para os oitavos com o estatuto de vencedor do grupo B. De regresso à fase final de uma grande competição, o dragão galês tem vindo a apresentar-se de forma majestosa em solo francês, inflamando as hostes com uma das gerações mais capacitadas da história do seu futebol. Os eleitos de Chris Coleman estão a cumprir – com distinção – o sonho de notáveis como Ian Rush ou Ryan Giggs, elevando o país no plano futebolístico. A expressão “três pontos para o País de Gales”, ouvida pelo menos duas vezes nesta fase de grupos, nunca fez tanto sentido. Para abrilhantar ainda mais o percurso trilhado por esta equipa até à data, faltou travar a seleção inglesa, objetivo falhado já em tempo de compensação, quando Sturridge surgiu na área galesa e completou a cambalhota no marcador.

O sucesso da seleção galesa é indissociável de figura de Gareth Bale, mas este conjunto não vive refém do que sai dos pés do astro do Real Madrid. É uma equipa com mecanismos interessantes do ponto de vista coletivo, maioritariamente composta por elementos com “andamento” de Premier League. Embora Bale tenha contribuído significativamente ao marcar três golos nesta fase de grupos, há que reconhecer mérito ao trabalho do setor intermediário galês, onde pontificam elementos como Joe Ledley, Joe Allen ou Aaron Ramsey. O médio do Arsenal apareceu essencialmente no último encontro, diante da Rússia, mas Allen tem assumido um papel preponderante num espaço nevrálgico do terreno, assumindo-se como o “cérebro” desta equipa. A principal vulnerabilidade da seleção galesa está associada ao aspeto defensivo, embora seja uma equipa que aproxima bem as linhas e defende junta.

Inglaterra

Foto: "Reuters/Lee Smith Livepic"

Foto: “Reuters/Lee Smith Livepic”

Face ao inusitado assalto à liderança com cunho galês, a seleção inglesa ficou confinada ao segundo lugar do grupo B. Nada que tire o sono a Roy Hodgson, seleccionador que conta com uma geração pejada de talento, apostada em transcender-se na fase final depois de um apuramento sem mácula. Para contar a prestação da seleção inglesa nesta fase de grupos, reportamo-nos aos últimos minutos dos dois primeiros encontros disputados pelos “Three Lions”. Se no encontro com a Rússia o soar do gongo foi doloroso para os ingleses, que consentiram o golo do empate em cima da hora, a verdade é que o “trauma” foi ultrapassado frente aos galeses, dado que o tento da reviravolta (2-1) também foi apontado ao cair do pano. Com quatro pontos conquistados nas duas primeiras jornadas, a seleção inglesa chegou à última jornada com a possibilidade de assegurar o primeiro lugar nas mãos. Roy Hodgson promoveu várias alterações na equipa, mas não se pode dizer que se tenha dado mal. As pretensões inglesas esbarraram na estratégia marcadamente defensiva dos eslovacos, porém, a atuação foi provavelmente a mais conseguida nesta fase de grupos. A Inglaterra claudicou no último passe e na finalização, mas foi capaz de praticar um futebol fluído, procurando soluções tanto pelos corredores como pelo centro do terreno, ainda que o esforço se tenha revelado infrutífero. A equipa de Hodgson falhou o assalto à liderança do grupo, mas deixou indicações positivas para os jogos que se avizinham, com outro tipo de caraterísticas, por sinal. Não é uma seleção que “encha” o olho, mas as armas que dispõe para o ataque impõem respeito a qualquer defesa adversária.

Eslováquia

Foto: "EFE/Laurent Dubrule"

Foto: “EFE/Laurent Dubrule”

Quatro pontos conquistados e saldo neutro. Tudo indica que a seleção eslovaca garante um lugar no oitavos-de-final enquanto uma das melhores terceiras colocadas. O triunfo diante da Rússia (1-2) catapultou a Eslováquia de Hamsik, Weiss e Duda para esta situação, superando, em certa medida, a expectativa que se lhe reservava sobretudo nos confrontos diretos com russos e ingleses.

Na vitória sobre a Rússia, o mérito da Eslováquia passou por identificar e explorar convenientemente as debilidades da equipa de Slutsky, aproveitando os espaços concedidos pelos soviéticos no seu meio-campo. A mestria de Hamsik e Weiss, dois dos jogadores mais dotados em termos técnicos desta seleção, fez o resto. Frente à Inglaterra, goste-se ou não, a inflexão do perfil eslovaco surtiu efeito. O próprio seleccionador Ján Kozák admitiu que o estilo adoptado “não foi o mais adoptado”, mas a estratégia defensiva que em vários momentos de jogo levou a Eslováquia a colocar 11 jogadores atrás da linha da bola, nas imediações da área, serviu para conquistar um ponto precioso na luta pelo acesso aos oitavos-de-final. Quando o sistema abanou, o guarda-redes Matus Kozacik manteve o nulo no marcador.

Rússia

Foto: "Getty Images"

Foto: “Getty Images”

A grande desilusão do campeonato da Europa, dentro e fora de campo. A seleção russa esteve muito abaixo daquilo que era esperado, depois de uma ponta final da fase de qualificação prometedora com Leonid Slutsky ao leme. A expectativa era alta à entrada para esta fase final, alimentada pelo objetivo de fazer com que a seleção russa voltasse a dominar no panorama europeu, sendo certo que a intenção não teve efeito em termos práticos.

Ao analisarmos os três jogos disputados pela seleção russa – sobretudo frente à Eslováquia e ao País de Gales – é fácil identificar vários problemas nesta equipa. Órfã de Dzagoev, a seleção russa exibiu muito pouca capacidade de desequilibrar no ataque, apresentado um futebol pobre em momento ofensivo. No meio-campo, as coisas também não correram de feição, obrigando Slutsky a abdicar do duplo pivot Neustadter/Golovin para apostar em Mamaev e Glushakov –  fez esta alteração no intervalo do encontro com a Eslováquia. Na última ronda, frente ao País de Gales, uma entrada em falso comprometeu severamente as aspirações russas, mas o seleccionador Leonid Slutsky volta a estar na mira por ter deixado Shatov no banco, médio do Zenit que estava a ser um dos jogadores em melhor plano até então. Ainda no ataque, para uma seleção que denotou muitas dificuldades em jogar em ataque organizado, utilizar uma unidade com as características de Dzyuba sugere um cenário contra producente, avançado que foi vítima do esquema adoptado. Em suma, a equipa exibiu demasiadas limitações para seguir em frente e a respetiva prestação termina de forma inglória, ainda na fase de grupos, com Slutsky apontado à saída.

Boas Apostas!