A NFL e a arbitragem em part-time
Vários casos de erros grosseiros em jogos de horário nobre voltaram a lançar a discussão na NFL. O que se pode fazer para melhorar a arbitragem na Liga de futebol americano? A resposta mais imediata, vocalizada por Sean Payton em tempo recentes, é a da chamada profissionalização dos árbitros. As opiniões dividem-se sobre o mérito da proposta e sobre o facto de contratar equipas de arbitragem a tempo inteiro ir de facto elevar o nível das decisões. Mas uma coisa é certa: é possível uma liga multimilionária ser arbitrada por pessoas que o fazem em part-time?
Como melhorar a arbitragem na NFL?
Cada vez que se verificam erros graves de arbitragem a indignação estala. Isso não é novo nem exclusivo da NFL. Por erros graves entendo aqueles que potencialmente podem interferir diretamente com o resultado. Não há como fazer o tempo andar para trás. Há milhões de pessoas a assistir sentadas a repetições de vários ângulos, imagens essas que se vão espalhar de forma viral e afetar a imagem da modalidade.
A pergunta legítima é, portanto, o que pode a NFL fazer para melhorar o nível das arbitragens? E aqui nem sequer vou entrar na discussão de esta ser genericamente boa ou má. É fútil por duas razões: neste tipo de coisas a perceção generalizada é determinante e há sempre espaço a melhorar. A resposta imediata à questão é acrescentem-se mais árbitros à partida. São sete os fiscais, com funções específicas, num jogo da NFL. Mas como sabemos há muita coisa a acontecer em simultâneo, nas várias seções do relvado, e a ideia de acrescentar pelo menos um elemento já tem vindo a ser equacionada. Outra resposta fácil é o de fazer destes homens profissionais com dedicação a tempo inteiro. Um pouco como noutros tempos se exigia o recurso às imagens televisivas para ajudar nas decisões mais importantes. Tal como nesse caso, não há soluções milagrosas. Apesar da profusão das imagens ainda hoje todos temos a experiência de estar sentados no sofá, analisar meia dúzia de repetições de enquadramentos diferentes e mesmo assim não vermos o mesmo da pessoa que se senta ao nosso lado. Vocês sabem do que eu estou a falar.
As reservas à profissionalização
Dean Blandino já veio dizer que a ideia tem mérito e deve ser avaliada mas outros, como o Mike Pereira já se vieram manifestar contra e apresentam os seus argumentos. O primeiro e mais evidente é o de que a época da NFL é muito curta: são dezanove jornadas por temporada, entre a regular e os play-offs, mais quatro de pré-época. Basicamente, de setembro a janeiro. O que fariam os árbitros fora dos períodos competitivos. Formação. Poder-se-ia alargar o período de formação das equipas. Preparação física, análise e conhecimento das regras, discussão de critérios uniformes a adotar, detalhes a que estar particularmente atento, etc. Participar dos campos de treino dos diversos franchises, é outra possibilidade. E antes que venham retrucar dizendo que é pouco eficaz porque o treino no futebol americano não replica as condições de jogo, é sempre oportunidade para perceber os jogadores, a forma como se comportam, alertar para alguns vícios.
Outra objeção que apresentam é a de que vários árbitros seniores abandonariam a atividade se fossem forçados a um compromisso a tempo inteiro. É natural que acontecesse com alguns, que têm uma carreira já longa, com benefícios e pensão à espera em poucos anos. E que isso implicaria a entrada para a função de vários árbitros rookies, por assim dizer, e que isso sim baixaria o nível imediato das arbitragens. É possível que acontecesse no imediato. Mas também há que entender que a dificuldade em integrar novos elementos nas equipas de arbitragem advém de estas pessoas só se juntarem durante a temporada, com viagens e jogos pelo meio. Se estivessem a tempo inteiro teriam, como as próprias equipas da NFL, mais tempo para fazerem esse trabalho de preparação.
Outro argumento contra apresentado tem a ver com o tipo de vínculo que estas pessoas teriam com a NFL. Vão ter contratos por temporada? Isso não dá garantias nem segurança nenhuma. Isso é uma falácia. Porque há muito dinheiro na Liga para pagar bem a estes profissionais, à medida das suas responsabilidades. Depois, como qualquer profissão de desgaste rápido, terá que ser enquadrada numa negociação específica. E o desporto, o norte-americano em particular, está cheio de situações dessas. Haveria que ser criada uma associação que os representasse, à semelhança do que existe para os jogadores, para os treinadores e outros funcionários.
Eu não sei se ter equipas de arbitragem a tempo integral vai necessariamente melhorar o nível das arbitragens na NFL. Mas a contestação popular empurra para a obrigatoriedade de mudar alguma coisa. E depois, não posso deixar de me sentir perplexa que uma liga de futebol americano multimilionária, que quer ser cada vez mais global, entregue as decisões do jogo a grupos de amadores. Com todo o respeito, é isso que são.
Boas Apostas!