A capacidade mediática de uma Liga mede-se, quase sempre, pela sua capacidade para gerar histórias à sua volta, que nos obriguem a seguir a competição sobre diferentes ângulos. Os campeonatos com campeões pré-definidos ou lutas limitadas por poucas variações tácticas e emocionais, são facilmente etiquetados de campeonatos que não interessam. A qualidade do jogo em si é algo que nem todos os adeptos conseguem medir, o que os faz muitas vezes focar a sua atenção no jogo mais espectacular e não no que apresenta melhor qualidade na execução. Mas a NBA, de certa forma, ganha em várias campeonatos de mediatismo. Não chega ter os melhores jogadores, os mais talentosos, nem as equipas com mais soluções. Não basta ter os jogos mais espectaculares, com os playoffs mais dados a momentos de emoção únicos. É também preciso encontrar narrativas secundárias que nos alimentam o apetite durante aquelas fases da temporada em que as viagens, as classificações mais ou menos definidas e os treinadores que gostam de fazer descansar craques acabam por nos fazer desviar o olhar do campo.

Da “equipa primeiro” aos MVP solitários

Há alguns anos era comum ouvir a história de que o número alargado de equipas e as limitações de tecto salarial impediam a existência das grandes equipas do passado. Sem dúvida que todos aqueles que cresceram a acompanhar os Lakers dos anos 80 ou os Bulls dos anos 90 têm uma espécie de sonho molhado de voltar a poder ver um Dream Team em campo para dominar, dar espectáculo e fazer vibrar os putos que ainda não sabem o que é basquetebol do bom. A fase dos Big Three também parece ter passado à história. Se há alguém que deve ser considerado culpado, eu aponto o dedo para o “small market” de Oklahoma.

Shawn Kemp

Shawn Kemp, meus meninos!

É outro dos sonhos molhados da NBA. Os Seattle Supersonics tornados gloriosos pelos voos de Shawn Kemp. A camisola 40 já não nos faz saltar do sofá nas tardes de sábado a ver RTP 2 há muito tempo, há tanto que até deu para, depois disso, Seattle achar que o amor pelo basquetebol não seria o suficiente para pagar uma equipa que se virou para Oklahoma e se denominou Thunder. Por alguma razão eles já sabiam que iam causar um impacto na história da Liga. Provavelmente, achavam que era ser campeão. Não foi. Foi plantar uma série de candidatos a MVP que, solitários, fazem-nos pensar que ser campeão não é assim tão bom, o que era mesmo porreiro era fazer triplos-duplos todas as noites.

James Harden era demasiado pequeno para um Big Three que não prometia carteiras recheadas. Tanto assim que nem Kevin Durant se manteve fiel e também no verão passado deixava Oklahoma rumo ao pôr-do-sol. California Dreamin’, coiso e tal. Porque é que passou a ser importante aquilo que os melhores jogadores de equipas que não vão ser campeãs fazem nas noites frias da fase regular? A história estava preparada para que os dois enjeitados de Durant e o seu desprezo pelo “small market” inteligente que o ajudou a ser grande conquistassem, na dureza,  os primeiros segundos dos telejornais.

Triplo-Duplo em análise

Russell Westbrook

Sozinho é muita gente

Pelos dados do site NBA.com, a temporada actual já leva 110 triplos-duplos, alcançados por vinte e dois jogadores diferentes. Russell Westbrook é o líder e está a apenas um de bater o recorde da Liga. Olhando para as estatísticas, onde encontramos a razão para isto? Duas situações que se conjugam. Se a tendência para o decréscimo do número de ressaltos ofensivos se vinha acentuando, sobretudo nas últimas cinco temporadas, isso deve-se a um trabalho técnico que dá mais privilégio à transição defensiva do que às segundas oportunidades de lançamento.

Descendo o número de ressaltos ofensivos, aumenta a tendência de serem jogadores exteriores a conquistar mais ressaltos, da mesma forma que o incremento do número de tentativas de lançamentos triplos leva a que o arco da bola seja maior depois de embater no aro. Também no mesmo artigo, se demonstra que a tendência defensiva nos lançamentos livres passa por isolar um jogador para a conquista do ressalto, apontando como exemplo o próprio Westbrook, nos Oklahoma Thunder.

É verdade que não se vai lutar por ser campeão da NBA em Oklahoma. Mas o resistente na equipa que é a culpada disto tudo vai, da solidão a que o votaram, ganhando a frente na luta pelo título de MVP da fase regular. Para o bem e para o mal, o primeiro troféu da temporada será dele.

Boas Apostas!